A imagem mostra uma caneta tinteira. Ao lado está escrito: 7 dicas sobre produção e revisão de textos.

Trabalho como revisor e produtor de textos há mais de uma década. Nessa jornada, deparei-me com as mais diferentes situações e com vários tipos e formatos de conteúdos.

Isso me trouxe várias lições. Neste artigo, vou compartilhar 7 delas com você. Vamos lá!

1) Mais precisão, menos floreio

Existe uma regra de ouro em bons textos: eles são precisos.

Isso foi algo que demorei a perceber. Antes, eu achava que uma escrita cheia de ideias subjetivas me faria parecer mais inteligente.

Foi quando li o livro “Como escrever bem” do William Zinsser. Lá, ele mostra a importância dos termos concretos nos textos de não ficção.

Por exemplo, se queremos dizer que uma montanha é alta, ao invés de falar que ela é um gigante de pedra, é mais assertivo dizer que do chão você não consegue enxergar o pico.

O segundo caso trará uma referência mais clara para o leitor que primeiro.

E essa deve ser a meta de qualquer bom conteudista: passar a informação da forma mais direta possível. Só assim é que se cria uma conexão real com seu público. 

Usar figuras de linguagem e artifícios poéticos é como andar na corda bamba. Se você chega do outro lado, é lindo. Mas se algo dá errado, o tombo é feio. Muito feio. Eu levei muito tempo para aprender essa lição. 

Isso com certeza me fez falar sozinho mais vezes do que eu gostaria de admitir.

2) Volume é mais importante que talento

Escrever bem tem mais a ver com volume do que com talento.

Foi isso que aprendi depois de escrever mais de 400 artigos no meu site. Quando você produz centenas de textos, há uma boa chance de que algumas dezenas sejam muito boas. Agora, se você produz um ou dois artigos, é improvável que eles sejam fantásticos.

Isso acontece, porque aprendemos errando. Então, quanto maior o volume de escrita, mais bobagens vamos fazer e mais rápido vamos evoluir.

Willian Zinsser diz que o produtor de conteúdo tem que vencer a síndrome do produto final. Ela ocorre quando criamos um texto tão perfeito na nossa cabeça que não o colocamos nunca no papel com medo de estragá-lo.

Ele vai ser pra sempre um conteúdo maravilhoso que nunca viu a luz do dia.

Quando você entende que vai escrever muita coisa ruim antes de conseguir fazer algo que preste, você finalmente libera sua mente para produzir.

3) Foco na organização

Escrever é, antes de tudo, organizar.

Um texto nada mais é do que uma forma de ordenar a realidade para transmitir um conhecimento ou uma experiência para outra pessoa.

Quanto mais competente você for nesse trabalho de organização, melhor será a percepção da outra pessoa sobre o que você está falando.

Um erro que eu cometia muito quando comecei a produzir conteúdo era achar que o que atraia as pessoas era o estilo de escrita. Isso tem seu valor, mas não é mais fundamental.

Percebi que o mais importante em um conteúdo é a clareza e a direção que ele indica.

Quando você produz um texto claro sobre determinado tema, você põe ordem no caos e aumenta o número de caminhos possíveis para o seu leitor.

Atualmente, vivemos a era do ruído. Produzimos mais conteúdo em um dia do que fazíamos em um século. Muito mais! Nesse contexto, contextualizar e organizar são duas competências indispensáveis para quem deseja ser um bom redator.

4) Estrutura é tão importante quanto ortografia

Em mais de uma década revisando texto, aprendi algo que surpreende muita gente: erros de ortografia são a menor parte do serviço.

E mesmo quando eles acontecem, não é nada muito grave. É muito, muito raro ver um cliente escrever “geito” em vez de “jeito”.

O problema mais recorrente, para falar claramente, são os textos mal ajambrados. O produtor de conteúdo escorrega quando quer enfeitar e sair do simples.

É daí que nascem inversões sintáticas desnecessárias, frases e parágrafos sem fim, uso de termos em funções que não cabem a eles, vírgulas em locais exóticos…

O maior aprendizado que tiro da minha jornada é: se você quer escrever bem, preocupe-se mais com a lógica argumentativa, do que com a correção ortográfica.

Um leitor é capaz de deixar passar um “mal” no lugar de um “mau”, mas ele não perde tempo com textos sem sentido e incoerentes.

Ser claro é mais importante que escrever corretamente.

5) Humildade é essencial

Na minha experiência como revisor, identifiquei uma coisa que destrói um texto: é quando o autor decide que ele é mais importante que a mensagem que pretendia passar.

Desse vício, surgem opções estilísticas vazias, que deixam a clareza de lado para afagar a vaidade. O texto se transforma em um palco e o leitor é empurrado para a plateia. E da plateia para o olho da rua.

É por isso que William Strunk, no seu clássico livro “The Elements of Style“, defende que o lugar do autor é nos bastidores. As opções da escrita devem agradar o leitor. Ele é o grande protagonista. 

Então, sempre faça uma releitura e veja o que está ali para amaciar o seu ego  e o que de fato tem um objetivo legítimo.

Ao focar no outro, você se livra da ditadura de viver para si mesmo. Isso tem um efeito fantástico sobre seu texto e, principalmente, sobre a sua alma.

6) Não seja morno

O que atrai pessoas e constrói audiência na internet é a personalidade.

O conteúdo é só o veículo que permite você expressar sua identidade. Eu demorei um bom tempo para entender isso. Antes achava que, para atrair a atenção das pessoas, eu precisava falar de determinados assuntos, usando um estilo que não era o meu.

Isso não só não atrai ninguém, como afasta muita gente.

O que faz os outros pararem para ouvi-lo é perceberem que você está falando algo com a própria cabeça, e não apenas reverberando outras vozes. Isso, porém, é mais fácil dizer do que fazer.

Para demonstrar personalidade, é preciso marcar posição. Isso gera elogios, mas também muitas críticas. E é muito pesado lidar com esse sentimento de rejeição. Mas não há outro caminho.

7) Construa seu imaginário

Você não pode expressar o que não pode imaginar.

Um escritor sem um imaginário vasto tende a produzir conteúdos medíocres. E para expandir sua imaginação, o melhor caminho é a leitura. Mas não estou falando daqueles livros técnicos de gramática ou de storytelling.

Você precisa consumir literatura raiz. Ler um romance é vivenciar diversas experiências sem ter de passar fisicamente por elas.

A literatura permite você enxergar o mundo pela perspectiva de diferentes personagens. Isso é uma riqueza inestimável. Abrir mão disso foi um dos meus maiores erros.

Passei alguns anos sem colocar a mão em um livro de ficção. Isso tornou minha visão de mundo rasa e limitada. Isso afetou não só minha escrita, mas minha evolução como pessoa.

Por isso, ler uma obra de literatura e buscar relacioná-la com aspectos da sua própria vida é uma das melhores atitudes que você pode tomar.

Resumo da ópera

Em sínteses, esses mais de dez anos de caminhada profissional me mostraram que um bom conteúdo é original, bem estruturado e direto ao ponto. Também aprendi que a prática é a mãe da evolução. Você só aprende a escrever escrevendo.

Espero que essas lições possam ajudar você de alguma forma. E se quiser trocar ideias sobre revisão e produção de conteúdo, estou à disposição.

Uma dica extra final que eu gostaria de deixar é: estude com carinho a língua portuguesa. Ela é o seu principal instrumento de trabalho. Quando decidi fazer isso, a minha vida se transformou completamente.