Língua Portuguesa e Literatura para o Enem

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Niketche – uma História de Poligamia, de Paulina Chiziane: análise da obra

A obra mais conhecida de Paulina Chiziane, “Niketche – uma História de Poligamia” foi publicada no ano de 2002, 10 anos depois da Guerra Civil que devastou Moçambique. O livro conta a história de Rami, mulher traída que se une às quatro amantes do marido, visando formar uma grande família. 

O livro é narrado pela própria protagonista e marcado por seus fluxos de consciência ao avaliar o seu lugar de mulher na sociedade moçambicana. “Niketche” é vencedora do prêmio Camões em 2021, e se trata de uma história que questiona as condições do público feminino na sociedade. 

Personagens principais de “Niketche – uma História de Poligamia”

Os personagens principais de “Niketche – uma História de Poligamia”, são:

  • Rami ou Rosa Maria: é a protagonista casada com Tony. Narradora da própria história. 
  • Tony ou António Tomás: é o marido de Rami que a trai com quatro outras mulheres. 
  • Julieta: é a segunda mulher de Tony.
  • Luísa: é a terceira mulher de Tony.
  • Saly: é a quarta mulher de Tony.
  • Mauá: é a quinta mulher de Tony.
  • Levy: é o irmão de Tony.
  • Maria: é a tia de Rami.
  • Vito: é o amante de Luísa e Rami.

Resumo de “Niketche – uma História de Poligamia”

Em “Niketche – uma História de Poligamia”, é contada a história de Rami, por meio da narração da própria protagonista, ou seja, se trata de uma narradora-personagem. É importante destacar que a palavra “Niketche” faz referência a uma dança tradicional do norte de Moçambique. Essa dança é um ritual realizado por mulheres quando entram na vida matrimonial.

O enredo gira em torno da protagonista que descobre, após 20 anos de casamento, que o seu marido, Tony, está sendo infiel. No entanto, em um primeiro momento, ela se culpa diante do espelho pela ausência e desinteresse de seu esposo. Porém, após esse fato, ela decide procurar pela amante do marido, a Julieta, com quem ele também tem filhos. 

Contudo, ao fazer isso, as duas saem no tapa e acabam sendo feridas e em um cenário inesperado, Julieta cuida das feridas de Rami. Atitude que provoca na esposa um espanto e, consequentemente, a quebra da raiva que sentia. Assim, as duas conversam e a amante confessa que não vê Tony há sete meses, o que provoca uma estranha empatia em Rami.

Entretanto, se Tony não está com uma e nem com a outra, as duas entendem que há uma terceira. Em razão disso, Rami vai em busca de respostas e conhece Luísa, outra esposa de seu marido. Ao confrontá-la, assim como ocorreu com Julieta, as duas acabam em uma luta física. Porém, no fim, também se tornam amigas. 

O fato é que a história não acaba por aí. O Tony, além de Julieta e Luísa, também tem um relacionamento com Saly e Mauá, o que faz com que a protagonista comece a se questionar sobre a poligamia. 

Assim, ela reúne todas as mulheres e o marido, para propor que se tornem uma única família. Visto que, ela não aceita perder o esposo e sabe que ele não deixará de ter relações extraconjugais. No entanto, Tony fica envergonhado diante da “grande família” e acaba fugindo da situação. 

Diante disso, as mulheres decidem fazer uma espécie de “escala conjugal”, na qual o marido possa passar uma semana com cada uma delas. Porém, Tony começa a se envolver com uma sexta mulher, deixando as outras cinco preocupadas. 

Nesse meio tempo, Rami, que já é super amiga das amantes, é convidada para uma festa na casa de Luísa e acaba se envolvendo com Vito, o amante dela. Assim, mais uma vez, as duas passam a dividir o mesmo homem. 

Durante o enredo, Rami começa a mudar a sua postura. Ela percebe as injustiças que rodeiam as mulheres de Moçambique, especialmente no que diz respeito às relações. Contudo, uma notícia muda tudo: Tony é atropelado e supostamente morre. Isso porque, o corpo do falecido fica irreconhecido, dando margem ao erro. 

Assim, Rami acaba assumindo um relacionamento com Levy, irmão de seu marido. Porém, tempos depois, Tony volta e descobre que foi dado como morto. Nesse ínterim, Luísa deixa Tony e se casa com Vito, convidando Rami para ser a segunda esposa. 

As outras três mulheres seguem com Tony e ainda procuram outra esposa para ocupar o lugar vago, mas Tony não quer mais se envolver com ninguém, encerrando assim a dança de Niketche. 

Contexto histórico de “Niketche – uma História de Poligamia”

A obra “Niketche – uma História de Poligamia”, tem como pano de fundo a instabilidade política e social, gerada pelo Acordo Geral de Paz, assinado em 1992, em Moçambique. Apesar da diminuição de conflitos entre a Resistência Nacional Moçambicana e o governo da Frente de Libertação de Moçambique, a paz ainda era ameaçada.

É neste contexto que a história de poligamia se desenvolve. Assim como em outras obras criadas no período da pós-independência, Niketche também valoriza a diversidade cultural para aumentar a união do país. 

Análise literária de “Niketche – uma História de Poligamia”

Dividida em 43 capítulos, “Niketche – uma História de Poligamia” é contada pela narradora-personagem, Rami. A protagonista analisa, durante o enredo, a sua condição e das demais mulheres vinculadas à tradição de Moçambique. Desta forma, o leitor consegue entender qual a realidade feminina da época, marcada pela submissão ao homem. 

O tempo da narrativa não é revelado, porém, é notório que a história ocorre em uma época posterior à Guerra Civil Moçambicana, ou seja, após 1992. Além disso, a ambientação é do sul de Moçambique, porém outras localidades são citadas, como Zambézia e Cabo Delgado.

A história começa com uma traição, na qual a esposa se sente culpada, por se olhar no espelho e não se achar mais atraente. Entretanto, no decorrer da narrativa, a mulher traída faz amizade com as amantes do marido e até propõe que se tornem uma única família. 

Neste cenário, nota-se que a autora sobressai a voz feminina, a partir do momento em que as amantes começam a ter empatia uma pela outra, deixando a rivalidade de lado. Contudo, também é possível notar que há uma crítica de costumes por trás do enredo, no qual as mulheres devem ser sempre submissas ao homem. 

Isso porque, Paulina Chiziane aborda a mulher na sociedade patriarcal, destacando as responsabilidades da esposa de Tony, enquanto ele está sempre ausente. Nesse sentido, a esposa cuida da casa e dos filhos, sendo essas as suas responsabilidades familiares. 

Até a finalização da obra, o leitor consegue ver Rami em um processo de autodescoberta e evolução, aprendendo a não se culpabilizar pelos erros que não partiram dela. Além de visualizar a sororidade entre as personagens. 

Sobre a autora Paulina Chiziane

Paulina Chiziane nasceu em Moçambique, cidade de Manjacaze, em 1955. Embora filha de pai protestante, Chiziane cursou o primário em uma instituição católica. No entanto, se formou na Escola Comercial de Maputo e estudou linguística na Universidade Eduardo Mondlane.  

A autora se envolveu com a Frente de Libertação de Moçambique e trabalhou junto à Cruz Vermelha, no período da Guerra Civil. Além disso, Chiziane integrou o Núcleo das Associações Femininas da Zambezia (Nafeza). 

Com o seu romance “Niketche – uma História de Poligamia”, a escritora conquistou o Prêmio Camões, em 2021.

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Olhos d’água, de Conceição Evaristo: análise e resumo da obra

Lançado em 2014, o livro “Olhos d’água” é uma coletânea de contos escritos por Conceição Evaristo. A autora aborda temas associados às experiências do cotidiano de pessoas negras, especialmente as mulheres. 

Os 15 contos que compõem a obra são apresentados de forma real, ou seja, sem nenhum tipo de cortes ou cenas fantasiosas. A autora retrata fielmente como é o dia a dia de uma pessoa negra no Brasil. 

As narrativas são curtas e falam sobre crianças, homens e, principalmente, mulheres, sendo elas: mães, domésticas, idosas, ex-prostitutas e tantas outras esferas. Os contos abordam o racismo, bem como as imposições acerca da cor de pele e gênero dos personagens. 

“Olhos d’água” conquistou o 3.º lugar do prêmio Jabuti, pela categoria de Contos e Crônicas, no ano de 2015.

Personagens de “Olhos d’água”

Os personagens da obra “Olhos d’água” são homens, crianças e, sobretudo, mulheres marcadas pelas submissão e violência devido à cor de pele e outras questões sociais e de gênero. 

Alguns contos levam o nome das personagens, como os títulos: Ana Davenga, Ayoluwa e Natalina. Mulheres que vivenciaram diferentes tipos de violência, mas decidiram continuar vivendo, sonhando e ansiando por dias melhores. 

Além disso, as pessoas da narrativa trazem a identidade afro-brasileira e relembram o sofrimento, bem como a resiliência de seus ascendentes.

Resumo de “Olhos d’água”

A obra “Olhos d’água” é composta por 15 diferentes contos que se mesclam. Eles narram histórias de pessoas negras que sofreram os mais diversos tipos de violência e depreciação durante a vida. 

Contudo, o leitor consegue notar, desde o primeiro conto, o qual possui o mesmo título do livro, que a autora vai além do sofrimento. Seu objetivo é mostrar a ancestralidade e identidade afro-brasileira, destacando a dura realidade, bem como o acalento a esses personagens. 

Os nove primeiros contos da obra têm mulheres como protagonistas, enquanto os quatro seguintes, contam a histórias de homens que morrem devido à marginalização social. Os títulos, em sua maioria, são construídos pelo nome dos personagens principais, como: “Maria”, “Luamanda” e “Lumbiá”, por exemplo. 

Vale dizer que, já no prefácio, o livro sinaliza que a escrita é a forma que a autora tem de retratar as suas experiências e escancarar o que há de errado na realidade: 

“…escrever é, certamente,“uma maneira de sangrar”; mas também de invocar e evocar

vidas costuradas “com fios de ferro” – porém aqui preservadas com a persistente costura

dos fios da ficção, em que também se almeja e se combina, incansavelmente, não

decerto a imortalidade, mas a tenaz vitória humana, a cada geração, sobre a morte.

A partir daí, o leitor consegue se identificar imediatamente por meio das narrativas compartilhadas. Narrativas estas, recheadas de ancestralidade, fé, lágrimas, violência e sentimentos. As vozes não se calam devido aos acontecimentos expostos e por essa razão, a obra comove com sua dor poética.

Contexto histórico de “Olhos d’água”

O contexto histórico em “Olhos d’água” é histórico e, ao mesmo tempo, contemporâneo. Isso porque, ainda que aborde temas muito atuais por meio de sua publicação de 2014, ele é um retrato de situações que ocorrem desde que “o mundo é mundo”. 

Assim, a obra representa a voz dos negros e de toda uma sociedade que, há muitas décadas, tenta ser silenciada. 

Análise literária de “Olhos d’água”

Em “Olhos d’água”, a desigualdade social é o ponto central. As situações retratadas, infelizmente, não são ficções, mas sim a dura realidade do cotidiano de muitas pessoas. Entre os destaques de cada conto, a autora menciona o desespero, a miséria e a fome. Além de retratar episódios como assaltos, balas perdidas, a vida de um morador de rua e assim por diante. 

Temas como esses não são novos, bem como o retrato de uma realidade perfeita que homens brancos costumam pintar. Por essas razões, Conceição decidiu retratar de forma clara a realidade do mundo do crime, as desigualdades e, especialmente, a violência contra negros e mulheres. 

No entanto, a autora consegue mostrar os personagens não apenas como vítimas de um sistema falho, mas sim, como protagonistas de suas próprias histórias. Ao combinar diálogos e pensamentos, a autora transmite a complexidade do “existir”. Isso porque, cada uma das pessoas retratadas tem sonhos, medos, amores, raivas, assim como qualquer ser-humano. 

Além disso, “Olhos d’água” também escancara a sexualidade em um período no qual a sociedade tenta impor padrões aceitáveis, oprimindo quem os “desacata”.

Adaptação no teatro da obra “Olhos d’água”

O livro “Olhos d’água” deu origem ao espetáculo: “Olhos d’água ou Nas Pedras Nasciam Asas”, que estreou no Rio de Janeiro em novembro de 2019. A obra cênica é assinada por Cássio Duque, com a adaptação do conto “Olhos d’água” de Conceição Evaristo. A direção é de Juracy de Oliveira, Shirlene Paixão e Sol Miranda. 

Sobre a autora Conceição Evaristo

Nascida em uma favela de Belo Horizonte, em 29 de novembro de 1946, a autora Conceição Evaristo é graduada em Letras pela UFRJ, mestre em Literatura Brasileira pela PUC do Rio de Janeiro, e doutora em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense. 

Sua carreira literária iniciou por meio de publicações em “Cadernos Negros”, do Grupo Quilombhoje, de São Paulo, no qual Conceição escrevia contos e poesias. Assim, foi construindo sua produção textual e sendo reconhecida como uma mulher que representava o seu povo.

São os sentimentos e experiências de homens e mulheres negras que compõem os seus livros de dores e sensações. Além de “Olhos d’água”, a autora também escreveu outros livros como: “Ponciá Vicêncio”, que foi publicado nos Estados Unidos em uma tradução para a Língua Inglesa. 

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Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles: análise da obra

Livro de Cecília Meireles que relata fatos sobre a Inconfidência Mineira, “Romanceiro da Inconfidência” traz diferentes personagens históricos para a ficção. A obra, dividida em cinco partes, foi publicada pela primeira vez no ano de 1953 e possui 85 poemas ou romances narrados. 

Assim, personagens como Cláudio Manuel da Costa, Chica da Silva, Marília de Dirceu, Tiradentes e Tomás Antônio Gonzaga aparecem nos versos do livro. A autora consegue mostrar ao leitor dois lados de uma mesma história, isto é, a versão de quem conta e a de quem vive. 

“Romanceiro da Inconfidência” é uma obra que pertence à segunda fase do modernismo brasileiro. 

Personagens de “Romanceiro da Inconfidência”

Na obra “Romanceiro da Inconfidência”, Cecília Meireles traz personagens históricos para a ficção e também dá voz a pessoas comuns que viveram na época. Nomes como Tiradentes e Tomás de Antônio Gonzaga são referenciados com grande empatia e sensibilidade. 

Entretanto, a autora não se limita apenas aos mais notáveis que viveram a Inconfidência Mineira. Ela também destaca aqueles deixados de fora da história, como os escravos e as mulheres, por exemplo. 

Confira, abaixo, alguns dos personagens mais importantes do livro:

  • Chico Rei: é considerado um personagem lendário que descobriu, por meio de uma visão religiosa, ouro em abundância em Minas Gerais.
  • Chica da Silva: é uma famosa escrava que conquistou sua alforria e ainda se envolveu com um dos homens mais ricos do Brasil.
  • Tiradentes: é o herói da Inconfidência Mineira, um dos únicos envolvidos condenado à morte. 
  • Cláudio Manuel da Costa: é um poeta brasileiro que participou do contexto da Inconfidência Mineira.
  • Tomás Antônio Gonzaga: é um famoso autor do Brasil que teve uma parte de sua história durante a Inconfidência. 

Resumo de “Romanceiro da Inconfidência”

Em “Romanceiro da Inconfidência”, Cecília Meireles convida o leitor a acompanhar diferentes fatos que ocorreram na época da Inconfidência Mineira (1789). 

Na primeira parte do livro, publicada em 1953, a autora lança uma reflexão sobre a trajetória do ouro na história do Brasil. Nesse sentido, ela aborda todas as questões acerca do assunto, ou seja, o fato do ouro ter causado riqueza, tanto quanto gerou destruição. 

Desta forma, a primeira parte da obra retrata os dois lados: a felicidade e a tristeza, bem como as conquistas e as derrotas. Inclusive, fatos como a morte do revolucionário Filipe dos Santos tem muito destaque. Assim como, é relatada a situação dos negros escravizados por meio da lenda Chico-Rei e há diversas menções sobre Chica da Silva.

Já na segunda parte, o foco é a Inconfidência Mineira em si, ocorrida em 1789. Em outras palavras, Cecília Meireles fala sobre os diferentes fatos ocorridos na época, desde a construção dessa história, até a sua associação com a Revolução Francesa. Vale destacar que as duas coisas foram influenciadas pelo Iluminismo no Brasil. 

O protagonista da segunda parte da obra é Tiradentes, que é mostrado de forma heroica, tido como traidor. Além disso, são mencionados inconfidentes menos populares como Francisco Antônio, Vitoriano Veloso e ainda Padre Rolim, perseguido por fazer parte de uma conspiração.

Na terceira parte do livro, Cláudio Manuel da Costa é o grande destaque. Sua história sobre o suposto suicídio é o que define a narrativa. Entretanto, também é narrado as sentenças dos diversos inconfidentes acusados.

A quarta parte da obra se concentra em Tomás Antônio Gonzaga, escritor do Arcadismo. O autor é muito conhecido por sua obra “Marília de Dirceu”, a qual também é uma personagem em destaque nessa fase do livro. 

Por fim, a quinta parte fala sobre a morte de Maria I, a rainha louca, e finaliza a narrativa com uma espécie de moral da história. Nela, é feita uma reflexão sobre qual lugar o leitor gostaria de ocupar na história. Em outras palavras, duas hipóteses são dadas: ser lembrado por atitudes certas ou erradas?

Contexto histórico de “Romanceiro da Inconfidência”

O contexto histórico de “Romanceiro da Inconfidência” é, obviamente, a Inconfidência Mineira de 1789. Participaram da conspiração militares, intelectuais e até mesmo alguns padres que estavam insatisfeitos com a dominação portuguesa. A inconfidência foi inspirada por ideias iluministas e o desejo de que Minas Gerais se tornasse uma república independente. 

Estilo literário de “Romanceiro da Inconfidência”

“Romanceiro da Inconfidência” dispõe de prosa poética, e ainda é composto por imagens e musicalidade. Cecília Meireles consegue criar um cenário repleto de emoção e lirismo, por meio do ritmo equilibrado dos seus versos e rimas. 

No entanto, a autora também faz uso de recursos estilísticos, como a assonância, aliteração e repetição que, juntas, criam uma sonoridade envolvente. A obra combina poesia com prosa e encanta os leitores das mais diferentes épocas. 

Análise literária de “Romanceiro da Inconfidência”

Por meio de um narrador onisciente, que conhece até os pensamentos dos personagens, “Romanceiro da Inconfidência”, se passa especialmente no fim do século XVIII, durante a Inconfidência Mineira. Contudo, a obra também relata histórias anteriores a esse acontecimento. 

A narrativa é ambientada em Minas Gerais e destaca cidades como Ouro Preto e Diamantina. Trata-se de um livro que pertence ao segundo momento do modernismo brasileiro e conta com cinco partes e 85 romances. 

Vale dizer que a segunda geração modernista não fazia quebras radicais com as artes tradicionais. Assim, todos os autores dessa época podiam produzir versos livres ou regulares. Em “Romanceira da Inconfidência”, nos deparamos com versos regulares, metrificados e com rimas, além de decassílabos e redondilhas. 

Adaptação no cinema da obra “Romanceiro da Inconfidência”

“Romanceiro da Inconfidência” foi adaptado em 1972 para os cinemas com o título de “Os Inconfidentes”. Uma co-produção brasileira e italiana que teve Cecília Meireles como uma das roteiristas e Joaquim Pedro de Andrade como diretor. 

De gênero drama histórico, o filme entrou para a lista dos 100 melhores filmes brasileiros, feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), em novembro de 2015.

O filme, versão cinematográfica da Inconfidência Mineira, tem grandes atores em seu elenco, como José Wilker na pele de Tiradentes e Luiz Linhares como Tomás Antônio Gonzaga. 

Sobre a autora Cecília Meireles

Nascida em 7 de novembro de 1901, no Rio de Janeiro, Cecília Benevides de Carvalho Meireles foi criada pela avó materna, pois ficou órfã ainda criança. 

Em 1917, se formou no magistério e em 1919 publicou seu primeiro livro de poesias, intitulado de “Espectros”. No entanto, a autora alcançou a maturidade literária inspirada pelo simbolismo, com obras como “Viagem”, publicada em 1939 e “Vaga Música” de 1942.

Contudo, devido ao seu estilo pessoal, seus livros nunca puderam ser classificados em uma escola literária única. Assim, em 1953, a escritora lançou o “Romanceiro da Inconfidência”, um dos maiores destaques na literatura social brasileira. 

Cecília morreu em 9 de novembro de 1964, no Rio de Janeiro, vítima de câncer no estômago. Dentre as suas principais obras, destacam-se:

  • Espectros – 1919.
  • Viagem – 1939.
  • Vaga música – 1942.
  • Mar absoluto – 1945.
  • Retrato natural – 1949.
  • Romanceiro da Inconfidência – 1953.
  • Metal Rosicler – 1960.
  • Ou isto, ou aquilo – 1964.

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Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Andrade: análise da obra

O livro “Alguma Poesia”, de Carlos Drummond de Andrade, foi publicado em 1930, marcando o início de uma grande produção literária poética no período. Nessa época, o autor tinha apenas 28 anos e a obra em questão foi sua primeira publicação. 

A produção faz parte do Modernismo brasileiro, sendo Drummond o representante da segunda fase desse movimento. A coletânea com 49 poemas falam, principalmente, sobre infância, família e paixões da juventude. 

Personagens de “Alguma Poesia”

Os personagens de “Alguma Poesia” são as vozes poéticas que afloram sobre os versos do autor. Assim, cada poema apresenta uma pessoa, sendo esta, até mesmo, uma representação do próprio autor, ou a personificação de um sentimento, uma ideia ou determinada situação.

Como já mencionado, entre essas pessoas, está o próprio Carlos Drummond de Andrade, que se revela em algumas poesias de forma sutil. Além dele, há personagens que fazem referência à figura materna, ao amor, à terra natal, e assim por diante. 

Resumo de “Alguma Poesia”

A obra “Alguma Poesia” não conta apenas uma história de forma tradicional. Ela abrange uma série de temas que se encontram de forma única e pessoal. Em outras palavras, cada poesia contempla uma história diferente, entre elas: um amor não correspondido, uma pessoa que reflete sobre a própria morte e uma mãe que se despede de seu filho. 

Assim, há um mosaico de histórias que se completam, formando um retrato imenso e profundo das experiências humanas. Nesse sentido, cada fragmento é uma cena que compreende o cotidiano e o transmite em forma de poesia. 

Por intermédio do olhar e da linguagem única do poeta, o leitor consegue visualizar o dia a dia em reflexões sobre a condição humana. 

Estilo literário de “Alguma Poesia”

Assim como em outras obras de Drummond, em “Alguma Poesia”, o autor oferece um estilo poético único que une o lirismo com a linguagem acessível do cotidiano. A obra em questão destaca essa particularidade de maneira evidente. 

Além disso, cada uma das poesias carrega simplicidade e profundidade, por meio de versos que retratam a experiência humana. Seu estilo poético espelha uma visão de mundo realista e lírica, refletindo, simultaneamente, a parte boa e ruim do dia a dia.  

Vale dizer que o poeta faz o uso de diferentes recursos estilísticos e formas poéticas, nas quais incluem:

  • ritmo;
  • rima;
  • aliteração;
  • metáfora.

Esse domínio de linguagem é o que traz para “Alguma Poesia” a profundidade e a beleza dos temas retratados. 

Contexto histórico de “Alguma Poesia”

A coletânea contida em “Alguma Poesia” foi escrita na década de 1920, isto é, época que não havia guerras e o Brasil ainda não era governado por Getúlio Vargas. Assim, o contexto histórico por trás da obra representa a vida de Drummond que, em 1924, conheceu Oswald e Mário de Andrade.

Carlos Drummond de Andrade se tornou muito amigo de Mário de Andrade e os dois se falavam por cartas. Nesse período ele foi muito influenciado pelo movimento e se tornou o principal autor do modernismo em Minas Gerais. No entanto, o autor, apesar de ter esperança, acreditava que não poderia viver da escrita. 

Assim, publicava crônicas e outros tipos de textos em revistas e jornais, enquanto mantinha seu diploma de farmacêutico engavetado. Porém, desacreditado da profissão, passou a administrar uma das fazendas de seu pai. 

Nesse cenário, é possível comparar o contexto de “Alguma Poesia” com a vida do autor, podendo, assim, compreender os textos da coletânea. Isso porque, em cada fragmento, o leitor irá se deparar com Drummond dividido pelas ambições e pela sua realidade de vida.

Análise literária de “Alguma Poesia”

“Alguma Poesia” são textos curtos, com temáticas prosaicas. A sua linguagem é simples e acessível a todos, o que revela a marca do modernismo em oposição ao parnasianismo.

É importante mencionar que “prosaicos” significa “corriqueiro ou comum”, ou seja, a obra “Alguma Poesia”, traz temas do cotidiano que se aproximam da realidade dos leitores. Essa aproximação é intencional, uma vez que é uma característica do movimento modernista.

Vale dizer que “Alguma Poesia” se destaca pela sua ausência de rimas e repetição de palavras, recursos que também fazem parte do modernismo. Esse é o caso de um texto muito polêmico de Drummond que aparece na coletânea. 

“No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.”

(No meio do caminho – Carlos Drummond de Andrade)

Contudo, além das características mencionadas acima, o leitor também encontra em “Alguma Poesia” os versos livros que não consentem com nenhum padrão de métrica definido. Além disso, algumas temáticas são focadas no “eu”, o que comprova a vivência do autor nas histórias, como em “Cidadezinha Qualquer”, que fala sobre a época em que Drummond cuidava da fazenda do pai.

“Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.

Devagar… as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus.”

(Cidadezinha Qualquer – Carlos Drummond de Andrade)

Sobre o autor Carlos Drummond de Andrade 

Nascido em 31 de outubro de 1902, em Itabira, Minas Gerais, Carlos Drummond de Andrade é filho de fazendeiro e tem mais oito irmãos. Em 1910, o autor iniciou seus estudos de alfabetização e em 1916 passou a estudar no Colégio Arnaldo, em Belo Horizonte.

Dois anos depois, mudou para o Colégio Anchieta em Nova Friburgo, do qual foi expulso devido a uma discussão com seu professor de Português. No ano seguinte, voltou com a sua família para Belo Horizonte.

Em 1921, Drummond publica alguns de seus textos no Diário de Minas e em 1922 vence um concurso literário. No entanto, no ano seguinte, o autor inicia seus estudos em Farmácia e se forma dois anos depois. 

Carlos Drummond de Andrade não chegou a exercer a profissão e após atuar como professor, passou a trabalhar como redator no Diário de Minas. Assim, dois anos depois, o autor publica seu poema mais famoso “No meio do Caminho”, o qual foi duramente criticado pela sua estética. 

Além da redação, em 1930, Drummond assume o cargo de oficial de gabinete no interior de Minas Gerais e se torna chefe de gabinete. Durante esse período, o autor não deixou de escrever e publicar periódicos em revistas e jornais. Assim, em 1945 deixa o cargo no gabinete e é contratado para dirigir o jornal Tribuna Popular. Em seguida, passa a trabalhar na Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN).

Em 1949, volta a escrever e se aposenta como chefe de seção da DPHAN. A partir de então, continua com seus periódicos e publica diversos livros.

O autor faleceu em 17 de agosto de 1987, com 85 anos, dias depois de sua filha Maria Julieta. Dentre as principais obras do autor, podemos destacar: 

  • Alguma Poesia – 1930.
  • Confissões de Minas – 1944.
  • A rosa do povo – 1948.
  • Poesia até agora – 1948.
  • Contos de Aprendiz – 1951.
  • Viola de Bolso – 1952.
  • Fala, amendoeira – 1957.
  • Ciclo – 1957.
  • Antologia Poética – 1962.
  • Obra completa – 1964.
  • Poemas – 1971.
  • A Visita – 1977.
  • Amar se aprende amando – 1985.

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Dois irmãos, de Milton Hatoum: análise da obra

Após 11 anos de seu último romance, “Relato de um certo oriente”, o autor Milton Hatoum presenteou os seus leitores com “Dois irmãos”, livro publicado em 2000. A obra em questão foi traduzida para diversos países e ainda ganhou, em 2001, o Prêmio Jabuti com a história dos gêmeos Yaqub e Omar. 

Hatoum traz um enredo com doses de amor, conflitos, e diferenças sociais. Inclusive, por mais enxuto que o livro seja, se comparado ao seu romance anterior, ele também é repleto de sutilezas e nuances. 

Personagens principais da obra “Dois irmãos”

Os personagens principais da obra “Dois irmãos” são:

  • Yaqub e Omar: são os gêmeos, protagonistas da história.
  • Halim: é o pai dos gêmeos, marido de Zana.
  • Zana: é a mulher de Halim, mãe dos gêmeos. 
  • Rânia: irmã dos gêmeos.
  • Lívia: é a paixão em comum de Yaqub e Omar.
  • Domingas: é a empregada dos gêmeos.
  • Nael: é o filho da empregada, narrador-personagem. 

Resumo da obra “Dois irmãos”

A obra “Dois irmãos” conta a história de Yaqub e Omar, gêmeos que não se dão bem desde criança. Eles vivem em Manaus com seus pais, sua irmã Rânia e a empregada da casa que também tem um filho. 

Durante o enredo, conhecemos diferentes situações vivenciadas pela família, desde momentos bons até os ruins. Tudo isso narrado pelo personagem Nael, o filho da empregada. 

A narrativa é detalhada, e destaca tudo e mais um pouco. É o tipo de história que descreve todos os pontos, desde o nome da rua, até o alimento ingerido pelos personagens. Inclusive, conseguimos ter acesso a toda a cultura local de Manaus. 

A trama gira em torno da relação dos gêmeos que, devido a personalidades opostas, vivem em conflito. A criação dos pais também é algo que interfere bastante na trajetória dos dois.

Omar, o caçula, visto que nasceu após Yaqub, é um garoto mimado, ingrato e muito agressivo, já Yaqub é totalmente diferente. 

No entanto, desde o início da narrativa, ele demonstra sentir uma raiva profunda do irmão por algo feito na infância. Isso é explicado posteriormente, e se deu pelo fato de ambos se apaixonarem pela mesma mulher, Lívia. O que fez com que Omar cortasse o rosto de Yaqub com uma garrafa. 

O pai dos meninos, Halim, deixa claro que nunca quis ter filhos, porém passou por cima de sua decisão em nome do amor que sentia por Zana, sua esposa, que é uma mãe superprotetora e excessiva. Já a irmã, é uma mulher sensual que rejeita constantemente os pretendentes que a cercam. Isso porque, seu sonho era encontrar um homem que tivesse a personalidade de seus irmãos. 

Em paralelo à família, o leitor conhece a história de Domingas, a empregada vendida para a família. Todos os seus desejos foram perdidos devido à vida cansativa que ela levava como doméstica. 

No desenrolar do enredo há muitos “vai e vem” e, em um desses, Yaqub reencontra com Lívia e se casa com ela. Contudo, quando Yaqub descobre, o ódio entre os dois só aumenta, o qual só termina com a prisão de Omar e a morte de Yaqub.

Essa rivalidade, no entanto, é contada pelo narrador-personagem, Nael, o filho da empregada, bem como todas as situações e particularidades da família. Este é um ponto muito importante de ser citado, uma vez que durante toda a narrativa, Nael tenta persuadir o leitor a acreditar em tudo o que ele revela.

Entretanto, o que Nael quer mesmo é saber quem é seu pai, uma vez que ele sabe que Domingas, sua mãe, foi violentada quando mais nova. Por fim, é revelado que o seu pai é Yaqub. 

Contexto histórico de “Dois Irmãos” 

O contexto histórico por trás do livro “Dois Irmãos” é o período da Segunda Guerra Mundial, até o golpe de 64, ou seja, são mais de 30 anos narrados em fragmentos. A época em que a história se passa é guiada pela memória dos personagens que relatam acontecimentos importantes do início do século XX. 

No entanto, a cidade de Manaus tem grande relevância dentro da história. Isso porque, ela está totalmente ligada aos personagens. Ao longo dos 30 anos de narrativa, o leitor acompanha a destruição e a reconstrução do lugar, narrado por Nael, que busca pela cidade de sua infância, mas destaca que ela já não existe mais. 

Análise literária da obra “Dois Irmãos”

A trama, que gira em torno da conturbada relação de dois irmãos gêmeos, carrega uma camada extra de complexidade: o narrador-personagem que precisa conhecer a sua identidade e entender onde ele se encaixa na família a qual sua mãe é empregada doméstica.

No entanto, esse mistério, é revelado aos poucos e até boa parte do livro o leitor sequer sabe quem é o narrador e qual o seu real papel no enredo. A história que ele narra, por um longo período, só destaca a relação conflituosa de Yaqub e Omar. 

A narrativa não dispõe de uma cronologia linear e apresenta avanços e recuos no tempo. Assim, as situações vão sendo reveladas ao leitor conforme a memória do narrador. Entretanto, além de contar a história dos protagonistas, outra questão bastante explorada é a vida social brasileira. 

Durante o enredo, o narrador também fala sobre o crescimento da cidade de Manaus, o qual se deu pela cobiça de dinheiro, e a falta de estrutura do lugar. Essas mudanças acarretaram uma série de problemas. Nesse sentido, o autor também faz uma crítica a respeito das diferenças sociais. 

A obra faz com que os leitores consigam se aproximar dos personagens e adentrar em suas angústias e conflitos, as quais fazem parte de questões que atingem todos os seres humanos. Assim, é possível repensar sobre as próprias identidades e origens, pois estão articuladas a questões históricas e sociais. 

Adaptação da obra “Dois irmãos”

“Dois irmãos” teve duas grandes adaptações: os quadrinhos e uma minissérie de dez capítulos na Rede Globo

Os quadrinhos foram desenvolvidos pelos quadrinistas brasileiros, Gabriel Bá e Fábio Moon e publicado pela Quadrinhos na Cia, no Brasil, e pela Dark Horse Comics, nos EUA. O livro ganhou o Troféu HQMix de melhor adaptação para quadrinhos e o Eisner Award por melhor adaptação de outro meio. 

Já a minissérie, foi produzida por Maria Camargo em parceria com o diretor Luiz Fernando Carvalho. De 2008 até o seu lançamento em 2017, a história passou por três ajustes e ainda uma interrupção no projeto. 

No entanto, segundo Maria Camargo e o autor da obra original, Hatoum, as pessoas que assistirem à série, encontrarão cenas idênticas ao livro, bem como adaptações e criações. A produção conta com um grande elenco da rede globo, entre os nomes estão: Cauã Reymond, Matheus Abreu e Juliana Paes.

Sobre o autor “Milton Hatoum”

Nascido em Manaus, em 19 de agosto de 1952, Milton Hatoum, filho de imigrantes libaneses, passou boa parte da vida em São Paulo. Na década de 1970, cursou arquitetura na USP e depois iniciou os seus estudos literários. 

Hatoum também morou na Espanha e na França, local onde fez sua pós-graduação. No entanto, foi em Manaus que ele lecionou língua e literatura francesa na UFAM (Universidade Federal do Amazonas. Milton também foi professor-visitante na Universidade da Califórnia nos EUA. 

Aos 37 anos, o autor publicou o seu primeiro romance intitulado de “Relato de um certo oriente” e voltou a morar em São Paulo, em 1998, onde fez doutorado em teoria literária, também na USP. 

Após um tempo, publicou “Dois Irmãos”, em 2000 e “Cinzas do Norte”, em 2005. Os seus três romances foram ganhadores do Prêmio Jabuti. Além disso, muitas de suas histórias fizeram sucesso fora do país. As principais são:

  • Relato de um certo oriente – 1989.
  • Dois irmãos – 2000.
  • Cinzas do Norte – 2005.
  • Órfãos do Eldorado – 2008.
  • A cidade ilhada – 2009.
  • Um solitário à espreita – 2013.
  • A noite da espera – 2017.
  • Pontos de fuga – 2019.

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Angústia, de Graciliano Ramos: análise e resumo da obra

Terceira obra publicada de Graciliano Ramos, “Angústia” foi escrita entre os anos de 1935 e 1936. Vencedor do Prêmio Lima Barreto, o livro foi eleito um dos melhores romances brasileiros, segundo críticos e escritores como: Lúcio Cardoso, Octávio de Farias e Jorge Amado. 

“Angústia” é marcada pela presença da psicologia e linguagem introspectiva. O autor faz o uso de uma escrita detalhada que conta a história de Luís, um funcionário público apaixonado. 

Personagens principais da obra “Angústia”, de Graciliano Ramos

Os personagens principais da obra “Angústia” – Graciliano Ramos, são:

  • Luís da Silva: narrador-personagem, é o protagonista da história, um funcionário público mal remunerado, de poucas palavras, que se apaixona por sua vizinha, Marina. 
  • Marina: vizinha de Luís que acaba se envolvendo com ele, porém o troca por Julião Tavares. Ela possui uma personalidade explosiva. 
  • Julião Tavares: rapaz rico que esbanja arrogância e desfruta de uma série de privilégios. Tem uma vida invejada por Luís da Silva. 
  • Dona Adélia: mãe de Marina que a defende de tudo e de todos. Para ela, a garota nunca está errada. 
  • Moisés: é de origem judaica e possui forte tendência socialista. É um dos amigos de Luís.
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Como escrever uma carta para o Papai Noel: 5 dicas de escrita para crianças e adultos

Escrever cartas para o Papai Noel é uma tradição da época do Natal. Afinal de contas, o Bom Velhinho precisa saber o que queremos ganhar e também o que fizemos para merecer os presentes.

Por isso, neste artigo, vamos te apresentar 5 dicas de escrita para sua carta ficar impecável. Vamos lá!

Com escrever uma carta para o Papai Noel?

1) Saudação inicial

Para começar a carta, é importante termos uma saudação inicial, como “Querido Papai Noel” ou “Meu amigo Bom Velhinho”. Como essa saudação é um vocativo, é fundamental utilizar a vírgula após ela.

2) Apresentação

É fundamental explicar para o Papai Noel quem é você. Nesta parte da carta, você pode ser bem direto: “Meu nome é Pedro, tenho 10 anos e moro em Araraquara.”

Aqui também é hora de você explicar o motivo de estar enviando uma mensagem para o Bom Velhinho e também listar os seus comportamentos e conquistas do ano.

ex: “Estou escrevendo esta carta para dizer que este ano fui um bom garoto: arrumei meu quarto, tirei boas notas na escola, fui gentil com meus amigos e respeitei sempre meus pais.”

3) O pedido

O principal objetivo de uma carta para o Papai Noel é pedir um presente, não é? Por isso, você deve expressar seus desejos de forma clara. Assim, você pode utilizar frases como: “Eu adoraria ganhar…”, “Eu gostaria de te pedir…”, “Ficaria muito feliz em receber…”.

Ah, e não se esqueça de usar as palavras mágicas (“por favor” e “obrigado”). Elas vão dar um tom muito mais cortês e gentil ao seu texto e, com certeza, vão aquecer o coração do Bom Velhinho.

4) Despedida

Para fechar sua carta, escolha uma despedida apropriada e educada. Você pode usar, por exemplo: “Atenciosamente”, “Com carinho”, “Um abraço”, etc.

Também é legal incluir um desejo de Feliz Natal para o Papai Noel e seu time de ajudantes.

5) Revisão

Antes de enviar sua carta, é indispensável pedir para alguém ler e revisar o seu texto, principalmente se você for uma criança. Isso vai garantir que sua mensagem está clara, correta e objetiva.

Dessa forma, o Papai Noel não terá dificuldades de entender o seu pedido e consiguirá deixar seu presente embaixo da árvore de Natal tranquilamente!

Exemplo de carta para o Papai Noel

Para finalizar nosso artigo, vamos juntar as partes e construir um exemplo de carta para o Bom Velhinho:

Querio Papai Noel,

Meu nome é Pedro, tenho 10 anos e moro em Araraquara. Estou escrevendo esta carta para dizer que este ano fui um bom garoto: arrumei meu quarto, tirei boas notas na escola, fui gentil com meus amigos e respeitei sempre meus pais.

Por isso, eu ficaria muito feliz de ganhar aquele carrinho de controle remoto vermelho. Se possível, o senhor poderia, por favor, me dar de presente de Natal? Desde já, eu te agradeço pela atenção e pelo carinho.

Desejo um feliz Natal para você e toda a sua equipe de ajudantes.

Um abraço,

Pedro

PS: O presente pode ser entregue neste enderço […]

Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga – análise da obra

Uma das produções mais marcantes do Arcadismo no Brasil, “Marília de Dirceu” é a obra mais emblemática de Tomás Antônio Gonzaga. 

Publicado a partir de 1792, o longo poema lírico, repleto de emoção, explora o amor de Dirceu pela pastora Marília. Dentro do Arcadismo, o eu lírico relata a sua paixão por Marília e a vontade de viver uma vida singela ao seu lado. 

Estrutura da obra “Marília de Dirceu”

A obra “Marília de Dirceu”, é escrita em versos e possui a seguinte estrutura:

  • Primeira parte: publicada em 1792, contém 33 liras.
  • Segunda parte: publicada em 1799, contém 38 liras.
  • Terceira parte: publicação póstuma de 1812, anexa a obra original com textos não publicados no decorrer da vida do autor. Contém  9 liras e 13 sonetos. 

Resumo do poema “Marília de Dirceu”

As liras de “Marília de Dirceu” falam sobre o amor entre dois pastores de ovelhas. Os versos revelam o amor de Dirceu por Marília e ainda retratam as expectativas futuras do eu lírico. No entanto, esse sentimento não pode ser consumado, pois Dirceu foi exilado de seu país. 

Na primeira parte da obra, o foco é a comparação entre a natureza e a beleza de Marília, ambas muito exaltadas. Confira um trecho:

Parte I, Lira II

“Os seus compridos cabelos,

Que sobre as costas ondeiam,

São que os de Apolo mais belos;

Mas de loura cor não são.

Têm a cor da negra noite;

E com o branco do rosto

Fazem, Marília, um composto

Da mais formosa união.

Tem redonda, e lisa testa,

Arqueadas sobrancelhas;

A voz meiga, a vista honesta,

E seus olhos são uns sóis.

Aqui vence Amor ao Céu,

Que no dia luminoso

O Céu tem um Sol formoso,

E o travesso Amor tem dois.

Na sua face mimosa,

Marília, estão misturadas

Purpúreas folhas de rosa,

Brancas folhas de jasmim.

Dos rubins mais preciosos

Os seus beiços são formados;

Os seus dentes delicados

São pedaços de marfim.”

Além disso, Dirceu destaca em seus versos um retrato do Brasil do século XVIII, período em que a economia, a cultura e a sociedade passaram por intensa transformação. O autor também fala da destruição das florestas que davam lugar às plantações, pela ampliação da atividade agrícola. 

Gonzaga também fala sobre a vida burguesa e o quanto ser intelectual era algo valorizado na época. 

Parte I Lira XXVII

“O ser herói, Marília, não consiste

Em queimar os Impérios: move a guerra,

Espalha o sangue humano,

E despovoa a terra

Também o mau tirano.

Consiste o ser herói em viver justo:

E tanto pode ser herói pobre,

Como o maior Augusto.

Eu é que sou herói, Marília bela,

Segundo da virtude a honrosa estrada:

Ganhei, ganhei um trono,

Ah! não manchei a espada,

Não roubei ao dono.

Ergui-o no teu peito, e nos teus braços:

E valem muito mais que o mundo inteiro

Uns tão ditosos laços. “

Já na segunda parte, o leitor nota um tom de solidão. Isso porque, o eu lírico está na prisão devido ao seu envolvimento com a Inconfidência Mineira, em Minas Gerais. No entanto, mesmo na situação em que se encontra, o eu lírico, continua exaltando sua musa inspiradora e falando sobre o amor e a saudade que sente. 

Parte II, Lira I

“Já não cinjo de louro a minha testa;

Nem sonoras canções o Deus me inspira:

Ah! que nem me resta

Uma já quebrada,

Mal sonora Lira!

Mas neste mesmo estado, em que me vejo,

Pede, Marília, Amor que vá cantar-te:

Cumpro o seu desejo;

E ao que resta supra

A paixão, e a arte.

A fumaça, Marília, da candeia,

Que a molhada parede ou suja, ou pinta,

Bem que tosca, e feia,

Agora me pode

Ministrar a tinta.”

O autor demonstra diferentes sentimentos como, tristeza, injustiça e medo. Assim, na parte II, o poema traz um tom pessimista e emotivo. Gonzaga também usa os versos para realizar uma crítica social sobre a desigualdade de classes e os abusos vindos das pessoas de mais poder. 

Parte II, Lira XX

“Ele diz, que em dormir cuide,

Que hei de ver Marília em sonho,

Não respondo uma palavra,

A dura cama componho,

Apago a triste candeia,

E vou-me logo deitar.

Como pode a tais cuidados

Resistir, ó minha Bela,

Quem não tem de Amor a graça;

Se eu, que vivo à sombra dela,

Inda vivo desta sorte,

Sempre triste a suspirar?

A terceira e última parte, apresenta ainda mais pessimismo e melancolia. A solidão e a angústia são notadas, enquanto o eu lírico continua a exaltar Marília e falar sobre o seu amor. 

Parte III, Lira IX

“Desses teus olhos divinos,

que, terno e sossegados,

enchem de flores os prados

enchem de luzes os céus?

Ah! não posso, não, não posso

dizer-te, meu bem, adeus!

Destes teus olhos, enfim,

que domam tigres valentes,

que nem rígidas serpentes

resistem aos tiros seus?

Ah! não posso, não, não posso

dizer-te, meu bem, adeus!”

Contexto histórico de “Marília de Dirceu”

Escrita a partir de 1788 e com a sua primeira publicação em 1792, a obra “Marília de Dirceu”, foi exposta durante o período colonial do Brasil, época de grandes transformações sociais e políticas. 

Neste mesmo período, ocorria a Inconfidência Mineira, movimento no qual Gonzaga fez parte, provocando a sua prisão e o exílio do país. Enquanto preso, o autor escreveu uma boa parte da obra. 

É importante salientar que, nessa época, as produções literárias eram fortemente influenciadas pelas ideias do Iluminismo, as quais destacam a liberdade e igualdade.  

Análise literária de “Marília de Dirceu”

As principais características de “Marília de Dirceu” são a descrição da natureza, a simplicidade da escrita do autor e uma dose de romantismo, bucolismo e pastoralismo. A obra é de caráter autobiográfico e Gonzaga a escreveu inspirado em sua própria história de amor. 

Embora não haja registros que confirmem a identidade de “Marília”, acredita-se que seu verdadeiro nome era Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão. Gonzaga a conheceu em Ouro Preto, Minas Gerais, enquanto trabalhava como Ouvidor Geral. 

Os dois chegaram a noivar, porém, o autor foi acusado de conspiração pelo seu envolvimento com a Inconfidência Mineira. Assim, foi preso e exilado na África, impedido de estar próximo de sua amada. 

A obra fez tanto sucesso que, em 1967, o serviço postal brasileiro homenageou Marília por meio de um selo, apesar de ela ser, supostamente, apenas um personagem.

Marília de Dirceu
Fonte da imagem: Disponível aqui

Na obra, Gonzaga explora temas como natureza, amor, liberdade e saudade, por intermédio de uma linguagem poética marcada pela presença de musicalidade e atributos próprios do Arcadismo. 

A natureza é usada para retratar os sentimentos dos personagens, bem como a simplicidade da vida. As liras, são organizadas de forma oposta ao Barroco, movimento anterior ao Arcadismo, eliminando os excessos que os poetas consideravam inúteis. 

Sobre o autor Tomás Antônio Gonzaga

Filho de mãe portuguesa e pai brasileiro, Tomás Antônio Gonzaga nasceu em 11 de agosto de 1744, em Miragaia, Portugal. O autor ficou órfão de mãe ainda bebê e, por essa razão, foi morar no Recife em 1751, com seu pai. 

Passou a infância e juventude em Recife e estudou no Colégio Jesuíta, na Bahia. Só voltou para Portugal para estudar Direito na Universidade de Coimbra, se formando em 1768 e exercendo a profissão de juiz na cidade de Beja. 

No ano de 1782, Gonzaga retorna ao Brasil para trabalhar como Ouvidor Geral em Ouro Preto, Minas Gerais. Nesse período ele conhece Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão, a qual se torna a inspiração para a sua mais emblemática obra “Marília de Dirceu”. 

Pouco tempo depois, o casal fica noivo, mas por estar envolvido na Inconfidência Mineira, Gonzaga é acusado de conspiração, sendo preso no Rio de Janeiro. Lá, permanece refluxo por cerca de 3 anos e depois é transferido para a África para cumprir sua sentença.

Ali exerce a profissão de advogado e juiz da alfândega e se casa em 1793 com Juliana de Sousa Mascarenhas, com quem tem dois filhos. Em 1810, o autor morreu com 66 anos em Moçambique. Tomás Antônio Gonzaga escreveu muitos poemas, no entanto, os que mais se destacaram foram: Marília de Dirceu, poema lírico, publicado em 1792, e Cartas Chilenas, poema satírico, publicado em 1863, após a sua morte. 

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Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa – análise e resumo da obra

Uma das obras mais representativas de Guimarães Rosa, “Grande Sertão: Veredas”, foi publicada em 1956 e faz parte do modernismo brasileiro. Traduzida para diversas línguas e ganhadora de muitos prêmios, inclusive o de Machado de Assis, o romance retrata as aventuras de Riobaldo e seu grande amor, Diadorim. 

Por intermédio de uma linguagem coloquial e regionalista, a história é ambientada em Goiás e nos Sertões da Bahia e Minas Gerais. Trata-se de uma obra extensa, com mais de 600 páginas, estrutura não linear e sem divisão de capítulos. 

Personagens principais de “Grande Sertão: Veredas”

Os personagens principais da obra “Grande Sertão: Veredas”, são:

  • Riobaldo: é o narrador-personagem, protagonista da obra. Um velho fazendeiro, ex-jagunço.  
  • Selorico Mendes: é o padrinho de Riobaldo que, na verdade, é seu verdadeiro pai.
  • Compadre Quelemém de Góis: é o melhor amigo de Riobaldo.
  • Diadorim: é o amor platônico de Riobaldo. 
  • Nhorinhá: é uma prostituta que representa o amor carnal de Riobaldo.
  • Otacília: é outra paixão de Riobaldo, a qual representa o amor verdadeiro.
  • Zé Bebelo: é um fazendeiro que pretende acabar com os jagunços do sertão mineiro, especialmente, o bando de Joca Ramiro, devido às suas pretensões políticas. 
  • Joca Ramiro: é o maior chefe dos jagunços e pai de Diadorim.
  • Ricardão e Hermógenes: assassinos de Joca Ramiro.
  • Medeiro Vaz: é também o chefe dos jagunços, o qual lidera a vingança contra Ricardão e Hermógenes.
  • Só Candelário: é um dos chefes dos jagunços, o qual se torna líder do bando de Hermógenes.

Resumo da obra “Grande Sertão: Veredas”

A obra “Grande Sertão: Veredas”, é narrada por Riobaldo, o protagonista da história, que relata fatos sobre a sua vida e apresenta as suas reflexões. O personagem também descreve os acontecimentos do sertão e da fazenda onde vive. Além disso, fala sobre um doutor que chegou ao local recentemente, pessoa a quem ele se refere como “Moço” ou “Senhor”. 

Após a morte de sua mãe, Riobaldo passa a viver com Selorico Mendes, seu padrinho, na fazenda de São Gregório. No entanto, o que ele não imaginava, é que Selorico, na verdade, era seu verdadeiro pai. 

Nessa fazenda, o protagonista conhece o bando de jagunços de Joca Ramiro e Reinaldo que, mais tarde, revela ser Diadorim, seu grande amor, embora platônico. Riobaldo, então, narra sobre esse amor impossível e também faz diversas reflexões sobre a existência de Deus e o Diabo. 

Por intermédio de uma narrativa não linear e labiríntica, o leitor se depara com diferentes divagações do narrador-personagem, as quais retrata as características e vida dos personagens da obra. Além de apresentar os conflitos entre os bandos de jagunços e o bando de Zé Bebelo, até a morte de Joca Ramiro. 

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Macunaíma, de Mário de Andrade: análise e resumo da obra

Macunaíma – um herói sem nenhum caráter, romance escrito por Mário de Andrade, é um dos livros mais importantes da literatura brasileira. Publicada em 1928, a obra é uma antologia do folclore brasileiro e conta a história de Macunaíma, um índio que vive grandes aventuras no Brasil, em busca de um amuleto perdido. 

Vale dizer que todo o enredo é uma reflexão do escritor sobre a cultura brasileira, mesclando os dialetos e costumes das mais diferentes regiões. Além disso, a história também aborda a desigualdade social. 

Personagens principais de “Macunaíma”

Os personagens principais da obra “Macunaíma”, são:

  • Macunaíma: é o personagem principal da história, isto é, “o herói sem nenhum caráter”.
  • Maanape: é o irmão de Macunaíma, o qual representa a figura do negro.
  • Jiguê: é o outro irmão de Macunaíma, o qual representa a figura do índio
  • Sofará: é a primeira esposa de Jiguê, que também se envolve com Macunaíma. 
  • Iriqui: é a segunda esposa de Jiguê.
  • Ci – Mãe do mato: é o único amor de Macunaíma, a quem o presenteou com o amuleto “muiraquitã”.
  • Capei: é a cobra com qual Macunaíma luta.
  • Piaimã: é o gigante que conquista o amuleto de Macunaíma.
  • Ceiuci: é a esposa do gigante Piaimã, a qual tentou devorar Macunaíma.
  • Vei – a sol: é a mulher que representa o Sol e tinha o desejo que Macunaíma casasse com uma de suas filhas.
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