Concentre-se na seguinte cena: você comprou uma estante nova no último fim de semana, mas agora tem de montá-la na sua sala de estar. Sua pretensão é finalmente organizar seus livros no móvel novo. Só que se esqueceu de que precisa de uma chave de fenda para apertar os parafusos.

Você sabe que seu vizinho tem uma caixa grande de ferramentas e vai até ele pedir a chave emprestada. Bate à porta dele e pede emprestada a ferramenta. Ele sempre foi solícito; diz que vai buscar o instrumento e volta com ele em mãos. Você agradece e volta para montar a estante.

Veja quantas camadas diferentes tem esse relato. Primeiro, a sua intenção subjetiva, que é ter uma estante nova montada na sala para organizar os livros. Segundo, a subjetividade do vizinho, que gosta de ajudar e não pensa duas vezes em aceitar emprestar a chave de fenda.

Em terceiro, uma ação prática; a sua, expressa em um discurso, sua fala, que pediu ao vizinho a ferramenta emprestada. Por fim, uma dimensão social, que define os códigos (critérios) sociais que ambos seguem para fazer valer tal interação.

Esses mundos – subjetivo, objetivo e social – estão na teoria da ação comunicativa proposta pelo filósofo alemão Jürgen Habermas (1929-).

A ação comunicativa pressupõe uma interação de, no mínimo dois indivíduos capazes de falar e de agir e que estabelecem relações interpessoais com o objetivo não só de compreender a situação em que ocorre a interação, mas também os supostos planos de ação que organizam suas ações pela via do entendimento.

De acordo com o filósofo, a razão comunicativa portanto vai além da relação individual de alguém com o mundo objetivo, chegando à relação intersubjetiva, na qual sujeitos que falam e atuam buscam o entendimento entre si, sobre algo.

Para ele, ao fazer isto, os atores comunicativos movem-se (jogam?) por meio de uma linguagem natural, valendo-se de interpretações culturalmente conhecidas, transitando simultaneamente em um mundo objetivo, em seu mundo social comum e em seus próprios mundos subjetivos.

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