O ensino da língua portuguesa tem passado por mudanças ao longo das décadas, mas um movimento recente busca resgatar os fundamentos da educação clássica para formar leitores mais atentos e comunicadores mais eficazes.
O projeto O Poder da Linguagem, criado pelos professores Guilherme Montoro Mellim e Fábio Gonçalves, propõe um retorno ao estudo das grandes obras literárias como pilar para o desenvolvimento intelectual e linguístico.
Nesta entrevista, o professor Guilherme explica como os clássicos moldam nosso imaginário, quais habilidades são essenciais para a compreensão de textos complexos e por que a educação clássica se diferencia do modelo atual.
Além disso, ele discute o papel fundamental do professor e da leitura comentada na formação dos alunos. Uma conversa essencial para quem busca um aprendizado mais profundo e estruturado da língua portuguesa. Confira abaixo a entrevista completa!
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ToggleClássicos literários e desenvolvimento do imaginário
Clube do Português: Qual o papel dos clássicos literários no desenvolvimento do imaginário das pessoas?
Guilherme Montoro Mellim: Primeiramente, é uma alegria poder responder a essas perguntas.
Os clássicos condensam as experiências humanas mais relevantes em uma excelente forma literária e narrativa. Moldam a nossa imaginação e, portanto, a nossa ação e intelecto.
É a partir dessas obras que podemos obter a verdadeira dimensão do homem, da variedade de tipos, personalidades e circunstâncias. Que podemos refletir as grandes histórias; antecipar as situações morais mais determinantes em nossa vida e, principalmente, compreender o nosso próximo com mais clareza e profundidade.
3 passos para ler textos complexos
Clube do Português: Que competências são necessárias para compreender textos mais longos e complexos?
Guilherme Montoro Mellim: São necessárias três “coisas”:
a) o domínio formal da Linguagem, que é um refinamento na capacidade de perceber as diversas formas presentes num discurso, desde as mais externas e simples, como as da morfologia, passando por formas mais amplas e abstratas, como os planos de composição dos grandes gêneros literários, até chegar às profundidades da linguagem figurada e simbólica;
b) uma “cultura geral“, adquirida com o tempo, vivência e leitura, para perceber as referências históricas, geográficas, mitológicas, artísticas, filosóficas, astronômicas etc., sempre presentes nas grandes obras.
c) vontade de conhecer e entender essas grandes histórias e de participar desse diálogo milenar de grandes mentes e almas.
Educação Clássica x Educação Moderna
Clube do Português: O que é a educação clássica e como ela se diferencia do modelo atual?
Guilherme Montoro Mellim: A Educação Clássica da Linguagem foi, por muitos séculos, o modo normal de se transmitir um alto domínio da Linguagem e de introduzir o jovem numa tradição cultural mais ampla.
Essa educação aproveita o interesse natural pelas grandes histórias para refinar as capacidades de compreensão e de expressão do aluno.
Não se separava, como hoje, a prática da redação da leitura. Ou a leitura do estudo de formas da Língua.
Além disso, há essa preocupação com a qualidade narrativa e formal das obras. As histórias selecionadas se tornam modelos que são compreendidos, admirados e amados pelos jovens.
Impacto das obras literárias no aprendizado da linguagem
Clube do Português: Como o estudo de obras literárias influencia no aprendizado da linguagem?
Guilherme Montoro Mellim: Aquilo que mais chama a atenção de uma pessoa, de qualquer idade, é conhecer uma nova história. Estamos o tempo todo entendendo o mundo e a nossa vida a partir de uma história contada por nós mesmos e pelos outros.
Quando estamos diante de obras literárias de qualidade, sentimos um vital interesse por conhecer aquele enredo e, ao mesmo tempo, estamos expostos a um modelo excelente de uso da linguagem.
Essa ocasião pode e deve ser aproveitada pelo professor para transmitir os conhecimentos necessários e desenvolver nos alunos o domínio da linguagem.
O papel do professor na Educação Clássica
Clube do Português: Qual a importância do professor e da leitura comentada e guiada no método clássico?
Guilherme Montoro Mellim: O professor deve ser um modelo de inteligência e sensibilidade para o aluno.
O aluno o admira e emula pois percebe nele uma espécie de pai que, amorosa e pacientemente, o guia na aquisição de certas capacidades e conhecimentos.
Os comentários, as perguntas diretas, as explicações e correções, etc. vão criando hábitos intelectuais no aluno, que o tornam cada vez mais capaz e autônomo.
Resumo da Entrevista em 5 Pontos
- Clássicos e Imaginação: moldam o intelecto, a ação e a compreensão do mundo.
- Leitura de textos complexos: exige domínio da linguagem, cultura geral e interesse.
- Educação Clássica x Atual: integra leitura, redação e estudo da língua.
- Literatura e Aprendizado: histórias bem contadas facilitam o domínio da linguagem.
- Papel do professor: guia o aluno com leitura comentada e estímulo intelectual.