Bacia das almas: qual a origem dessa expressão?

Você com certeza já ouviu a expressão “na bacia das almas“. Porém, você sabe qual a origem dela? Neste artigo, vamos explicar de onde veio esse termo e também vamos mostrar que há versões erradas sobre o nascimento da expressão. Confira!

O que significa estar “na bacia das almas”?

Segundo o professor Rafael Rigolon, “na bacia das almas” pode ter dois sentidos principais:

  • Algo adquirido a um preço extremamente baixo
  • Uma situação crítica, desesperadora.

Para entender melhor, vamos conferir dois exemplos:

  • O teto de caixão, todo pintado, obra de arte sacra, vendeu na bacia das almas para um bricabraque de fora. (Otto Lara Resende).
  • O Corinthians se classificou na bacia das almas na Libertadores.

No primeiro caso, o termo tem o sentido de algo barato. Já no segundo, ele retrata uma situação dramática.

Agora que já conhecemos os significados, vamos mergulhar na origem da expressão. Vejamos!

A origem da expressão: bacia + almas?

Duas explicações circulam com frequência na internet. A mais conhecida, contudo, é uma interpretação pseudoetimológica ligada ao sacramento da unção dos enfermos (antiga “extrema-unção”).

Nessa versão, a bacia seria uma referência ao recipiente onde eram colocados os óleos sagrados ficava ao lado do moribundo, sinal de que sua alma estava prestes a partir. Mas, segundo o professor Rigolon, essa explicação não se sustenta.

A verdadeira história: caridade pelas almas do Purgatório

Para entender a origem da expressão, é preciso voltar à tradição católica sobre o Purgatório — um lugar de purificação para as almas que cometeram pecados leves.

De acordo com o professor Rigolon, “ainda que a vida do cristão fosse a mais reta possível, essa possibilidade de não ir diretamente para junto do Criador amedrontava muita gente que houvesse cometido uns pecados aqui e ali”.

Essas almas podiam ter seus sofrimentos aliviados por meio de orações, penitências e missas oferecidas pelos vivos. No entanto, apenas os mais abastados podiam pagar por essas celebrações. Já os pobres não tinham essa possibilidade.

Foi para suprir essa injustiça que, por volta do século XV, surgiram na França irmandades dedicadas a angariar fundos para as almas dos menos favorecidos. Assim nasceu a “Bassin des Âmes du Purgatoire”. Em português, Bacia das Almas do Purgatório.

Nesse contexto, durante as missas, pequenas bacias recebiam as doações anônimas em moedas.

Da França ao Brasil: bacia, caixa e cruz das almas

No Brasil, a prática assumiu formas locais. Em vez da bacia, o mais comum passou a ser a caixa das almas, presente nas igrejas mais antigas.

Também havia a tradição de depositar moedas ao pé do cruzeiro, a chamada cruz das almas, que inclusive deu nome ao município baiano de Cruz das Almas.

Segundo Rigolon, “na caixinha, na cruz ou na bacia, esses valores eram sempre baixos, compostos por moedas e trocados. Por isso, quando alguém compra ‘na bacia das almas’ é que obteve por uma pechincha. Se vendeu, é que o desespero era grande.”

Em resumo, a expressão carrega consigo um pano de fundo histórico e religioso que foi sendo ressignificado ao longo do tempo.

Longe de ter origem em um contexto sombrio ligado à morte iminente, como sugerem versões equivocadas, seu verdadeiro berço está nas práticas de caridade cristã em favor das almas do Purgatório.

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