A forma correta é afligir, sem o “n” após o primeiro “i”. Esse tipo de confusão ocorre porque, no português falado, algumas pessoas acabam inserindo o som nasal “n” em palavras que não o possuem na escrita.
Por isso, neste artigo, vamos esclarecer de uma vez por todas qual é a forma certa e o motivo desse erro ser tão frequente.
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ToggleQuando usar “afligir”?
“Afligir” é um verbo da 3ª conjugação e significa causar sofrimento, angústia ou preocupação. Para entender melhor, confira um exemplo:
- O professor explicou calmamente para não afligir os alunos com notícias difíceis.
- Não te deixes afligir pelos problemas que não podes resolver hoje.
Já “aflingir” é uma forma incorreta e não existe na norma culta da língua portuguesa. Por isso, não deve ser utilizada.

Por que muitas pessoas falam “aflingir”?
Essa troca é um fenômeno conhecido na linguística como nasalização, que transforma uma vogal oral em nasal. No caso de “afligir”, algumas pessoas inserem o “n” para facilitar a pronúncia, principalmente porque existem outros verbos parecidos que têm o “n”, como “atingir” e “fingir”.
Assim, esse paralelismo fonético faz com que o cérebro tente “regularizar” padrões e aplique a nasalização também em “afligir”, o que leva ao erro.
Conjugação do verbo “afligir”
Para ajudar na memorização e evitar erros, veja como se conjugam algumas formas do verbo “afligir”:
- Eu aflijo
- Tu afliges
- Ele/ela aflige
- Nós afligimos
- Vós afligis
- Eles/elas afligem
Note que, em nenhuma dessas formas, há um “n” na escrita.
Dicas para não errar mais
- Associe com o verbo “corrigir”: assim como não dizemos “corringir”, também não devemos dizer “aflingir”. Ambos pertencem ao mesmo grupo de verbos terminados em “-gir”.
- Pratique a leitura: quanto mais você lê, mais fixa a forma correta das palavras. Dê preferência a bons textos, como livros e artigos.
- Cuidado com a oralidade: muitas vezes, o erro está enraizado na fala. Observe atentamente quando ouvir alguém pronunciar errado e corrija mentalmente.
Questão de concurso sobre o verbo afligir
Para fechar este artigo, vamos analisar uma questão de concurso público que envole o verbo “afligir”.
FGV – 2019 – TJ-CE – Técnico Judiciário – Área Judiciária
“O fim das penas não é atormentar, perseguir e afligir um ser sensível… Seu fim é apenas impedir que o réu cause novos danos aos seus concidadãos e dissuadir os outros de fazerem o mesmo”.
Se quiséssemos nominalizar todas as ações sublinhadas, deveríamos trocar os verbos por substantivos; nesse caso, a substituição inadequada seria:
a) atormentar um ser sensível / atormentação de um ser sensível;
b) perseguir um ser sensível / perseguição de um ser sensível;
c) afligir um ser sensível / aflição de um ser sensível;
d) impedir que o réu cause novos danos / impedimento de o réu causar novos danos;
e) dissuadir os outros / dissuasão dos outros.
Resposta: Letra C
Comentário: Quando um verbo é transformado em um substantivo, o objeto direto (OD) se transforma em complemento nominal (CN), pois ambos desempenham um papel semântico passivo. O adjunto adnominal, por sua vez, apresenta um papel ativo.
Na alternativa C, temos um exemplo de “nominalização inadequada”, uma vez que a passagem do verbo para o substantivo altera o sentido original da expressão.
Observe:
- Em “aflição de um ser sensível”, a ideia transmitida é de posse ou agente (valor ativo), como se o ser sensível “produzisse” a aflição.
- No entanto, em “afligir um ser sensível”, o ser sensível é quem sofre a ação de afligir (valor passivo).
Nesse caso, a forma mais adequada seria “aflição a um ser sensível”, indicando claramente que o ser sensível é o destinatário ou alvo do sentimento de aflição, mantendo o sentido passivo da relação semântica.
Portanto, a escolha errada na nominalização comprometeu a coerência da ideia original.