Antítese, oxímoro e paradoxo: conceito, exemplos e questões

8 min de leitura

Percebemos melhor as nuances da vida por meio dos contrastes. E essa é exatamente a função da antítese, figura de linguagem que se caracteriza por contrapor ideias de sentidos opostos. Neste artigo, vamos analisar em detalhes esse artifício retórico e também sua variante, o paradoxo ou oxímoro. Confira!

O que é uma antítese?

De acordo com o professor Othon M. Garcia, “antítese é uma figura de retórica que consiste em opor a uma ideia outra em sentido contrário”.

Na mesma linha, o gramático Domingos Paschoal Cegalla explica que esse recurso estilístico “consiste em pôr em confronto palavras ou expressões de sentido oposto”.

Segundo Garcia, a antítese reflete a própria realidade, que, por ser múltipla, é em si mesma contrastante. Em outras palavras, enxergamos melhor a vida na oposição entre ideias divergentes. Assim, entendemos melhor a beleza de um dia de sol depois de pegarmos uma tempestade daquelas pela frente.

Exemplos de antítese

  • De nada adianta ganhar o mundo e perder a vida.
  • Quando os tiranos caem, os povos se levantam.
  • O mar, que na paz nos enriquece, na guerra, nos ameaça.
  • Muitas vezes, precisamos dar dois passos para trás, para dar três para frente.
  • O louvor acha incrédulos; a maledicência, muitos crentes.

Vale registrar que, segundo o professor Mark Forsyth, uma longa lista de antíteses é tecnicamente chamada de progressio. Vejamos um exemplo:

“Vivemos conectados, mas nos sentimos isolados.
Procuramos atenção, mas rejeitamos presença.
Acumulamos seguidores, mas perdemos amigos.
Gritamos por likes, mas silenciamos afetos.”

Antístese, paradoxo e oxímoro

O gramático Ernani Terra esclarece que o paradoxo (ou oxímoro) é uma antítese radical.

Nesse caso, nas palavras do estudioso, “os termos opostos pelo sentido se fundem numa expressão pelo menos aparentemente contraditória”. Assim, as palavras não apenas contrastam, elas de fato se contradizem:

  • suave amargura;
  • delicioso sofrimento;
  • obscura claridade;
  • doce tormento;
  • calor gélido;
  • silêncio ensurdecedor.

Vale reforçar, como aponta Rocha Lima, que todo paradoxo ou oxímoro é, em última análise, um tipo especial de antítese.

O exemplo mais famoso de uso desse recurso retórico é o poema “O amor é fogo que arde sem se ver”, do escritor português Luís de Camões:

Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor,
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

OBS: Vale muito a pena assistir à declamação da obra pelo inesquecível Cid Moreira.

Oxímoro x Paradoxo: qual a diferença?

Na teoria, o termo paradoxo diz respeito ao pensamento. Logo, é possível, por exemplo, ter uma ideia paradoxal ou viver uma situação paradoxal.

O oxímoro, por sua vez, é a figura de linguagem que representa, que concretiza, que ilustra esse raciocínio contraditório.

Contudo, no âmbito das provas de vestibulares e concursos, esses dois vocábulos são tratados como sinônimos. Dessa forma, você pode utilizar as duas palavras sem medo.

Questões sobre antítese

Para fechar este artigo, vamos analisar duas questões de concurso público sobre antítese.

Questão 1 – FGV – 2018 – Prefeitura de Boa Vista – RR – Professor de Pedagogia

Uma antítese é um tipo de linguagem figurada em que ocorre a presença de duas palavras de sentido oposto; a frase abaixo em que NÃO ocorre a presença de uma antítese é:

a) “Um bom homem de negócios contrata otimistas como vendedores e pessimistas para o departamento de crédito”;
b) “Nunca solicitarei nem recusarei um emprego, nem jamais pedirei demissão”;
c) “Sorte é o cálculo bem-feito. Azar é o erro de cálculo”;
d) “Toda saída é entrada para outra coisa”;
e) “Melhor lidar com os problemas do sucesso do que com a estagnação do fracasso”.

Resposta: Letra B

Comentário: Em geral, a antítese presupõe o uso de palavras antônimas. Assim, a única alternativa em que não temos a presença de antônimos é a letra B. Perceba que o contrário de “recusar” é “aceitar”, e não “solicitar”.

Em todas as outras opções, temos a utilização de termos semanticamente opostos:

  • Letra A: otimistas e pessimistas;
  • Letra C: sorte e azar;
  • Letra D: saída e entrada;
  • Letra E: sucesso e fracasso.

Questão 2 – CESGRANRIO – 2010 – BR Distribuidora – Profissional Júnior – Direito

Antítese é uma figura de linguagem com a qual se salienta uma oposição de ideias por meio de sentenças ou palavras. O fragmento que contém uma antítese é:

a) “Somos artesãos, meio como as formigas,” (L. 8-9)
b) “vemos nossas obras destruídas em segundos por cataclismas naturais,” (L. 12-13)
c) “se pensamos que cada estrela é um sol, e que tantas delas têm sua corte de planetas, fica difícil evitar a questão da nossa existência cósmica,” (L. 23-25)
d) “Ao olhar para o Universo, o homem é nada. Ao olhar para o Universo, o homem é tudo.” (L. 53-54)
e) “somos como o Universo pensa sobre si mesmo.” (L. 69-70)

Resposta: Letra D

Comentário: Note que, na frase da alternativa D, temos, como explica Rocha Lima, a contraposição de uma palavra a outra de significação apostos:

  • “Ao olhar para o Universo, o homem é nada. Ao olhar para o Universo, o homem é tudo.”

Conclusão

A antítese é mais do que um enfeite estilístico — é uma lente por meio da qual compreendemos melhor as contradições do mundo e de nós mesmos.

Ao colocar frente a frente ideias opostas, ela desperta no leitor uma espécie de alerta cognitivo, forçando-o a enxergar nuances, tensões e ambiguidades que, de outro modo, passariam despercebidas.

Quando bem utilizada, transforma o texto em um campo de forças, capaz de provocar reflexão, emoção e identificação.