Aurélio Buarque de Holanda, renomado lexicógrafo brasileiro e criador do famoso “Dicionário Aurélio”, dedicou sua vida ao estudo da língua portuguesa.
Em uma entrevista concedida em 1976 ao jornalista Araken Távora (o vídeo da conversa está no final deste artigo), ele compartilhou suas palavras favoritas do idioma, destacando aquelas que, para ele, possuíam uma beleza singular. Descubra, então, neste artigo quais são os termos escolhidos pelo dicionarista.
Libélula
Aurélio descreveu “libélula” como “um voo, uma coisa alada, de uma poesia imensa”. A palavra, de sonoridade leve e cadência fluida, parece imitar, assim, o bater delicado das asas do inseto que nomeia.
De acordo com o pesquisador, com suas vogais abertas e sílabas suaves, “libélula” evoca leveza e graça, criando uma imagem quase mágica. É o tipo de palavra que encanta não apenas pelo significado, mas também pela forma como soa, como se carregasse em si um sopro de vento.
O contraste com um de seus sinônimos populares, “lava-bunda”, mencionado com humor por Aurélio, ressalta os caprichos da língua. Ambas designam o mesmo animal, mas estão em extremos opostos da beleza linguística: enquanto uma transmite delicadeza, a outra provoca riso ou desconforto.
Murucututu
O vocábulo “murucututu”, nome de uma espécie de coruja amazônica, chamou a atenção de Aurélio por sua sonoridade peculiar.
Com cinco sílabas que terminam em “u”, a palavra forma uma sequência ritmada e musical que se destaca no português falado.
Para o dicionarista, essa combinação era admirável, uma verdadeira demonstração de como os sons podem se organizar de maneira harmônica dentro de uma única palavra.

Alvorada
Para Aurélio, “alvorada” era mais do que o simples amanhecer. Ele a definia como “uma clarinada de palavra”, destacando a força expressiva que ela carrega.
Para o lexicógrafo, a imagem sonora do termo parece anunciar algo grandioso, como um despertar solene. O som claro das vogais e a leveza da articulação conferem ao vocábulo uma musicalidade que acompanha perfeitamente o sentido que ela representa.
A beleza subjetiva das palavras
Aurélio enfatizava que a beleza das palavras é subjetiva e pode ser encontrada mesmo naquelas consideradas “feias” ou “imorais”. Para ele, todas os termos são criações humanas, frutos da atividade intelectual e cultural. Por isso, merecem apreciação.
As escolhas do estudioso refletem seu profundo amor pela língua portuguesa e sua sensibilidade para a estética das palavras.
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Confira abaixo a entrevista completa: