Afinal de contas, qual a diferença entre janta e jantar? Neste artigo, vamos resolver essa dúvida e mostrar quando e como utilizar cada palavra.Vejamos!
Sejamos sinceros: na hora da fome, o formalismo é o que menos importa. O estômago fala mais alto. Mas, de outro lado, na hora de assumir o formalismo, de ser formal, o que a língua culta estabelece é o que mais importa.
Sob essa perspectiva, é preciso entender o que se passa com o uso de certas expressões. É o caso de janta e jantar. O conhecimento sobre o uso de cada uma dessas formas é necessário para impedir que o preconceito linguístico provoque decisões equivocadas.
Vale perguntar, afinal, se “janta” é ou não sinônimo de “jantar”. E observe que interessante: a confusão está no fato de que ambas as palavras podem ter tanto a função de verbo quanto de substantivo.
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ToggleA origem de cada uma
Jantar como verbo, tem origem no latim jentare (“almoçar”). Mas, por meio de um processo de derivação imprópria, logo passou a ser empregado também como substantivo: “o jantar”.
Janta, como substantivo ou verbo, nasceu séculos depois, por um fenômeno chamado derivação regressiva. Esse processo faz um substantivo a partir de um verbo. Por exemplo, foi do verbo “fabricar” que derivou a palavra “fábrica”. Existem dezenas de outros substantivos deverbais, ou seja, originalmente extraídos de verbos: “suplicar” virou “súplica”, “alcançar” deu em “alcance”, “baixar”, em “baixa”, “almoçar”, em “almoço”.
Há quem refute o termo janta como substantivo, admitindo-o apenas como verbo (conjugado na 3ª pessoa do singular, no presente do indicativo). No entanto, por origem, “jantar” é que é, antes de tudo, um verbo.
Além de compreender que jantar também pode ser substantivo por derivação, é razoável assumir o substantivo “janta”. Afinal, “a janta” é filha legítima de “jantar” e consta como verbete desde um dicionário de Portugal em 1881 (na primeira edição do Caldas Aulete) e hoje está em todos os dicionários, brasileiros e portugueses.
Está certo ou errado?
Por tudo isso, não é possível entrar na onda de que “a janta” não existe, de que estaria errado. Correto é entender que há diferenças de uso.
Fato é que jantar é a palavra a usar em qualquer contexto, por ser considerada a versão formal, mais elegante e culta. É quase uma questão de colocar um status mais elevado à refeição: quem nunca frequentou ou soube da realização de algum “jantar dançante” ou de um “jantar de encerramento” de algo relevante?
Janta, por sua vez, é um termo de uso coloquial, admitida no contexto privado, popular, familiar. Nesses ambientes, pode-se impor até como a forma recomendável. Em casa, tudo bem chamar a família para a “janta”, se o cardápio for o trivial, sem salamaleques.
Por fim, o termo variante “janta” tem sido utilizado sem cerimônia por diversos autores renomados. Veja alguns exemplos:
- “A mulher mandará a empregada pôr a janta, e perguntará se ele quer tomar banho” (crônica “Noitinha em Vila Isabel”, de Rubem Braga).
- “… resto de janta abaianada” (estrofe do poema “Graciliano Ramos”, de João Cabral de Melo Neto).
- “A janta posta, Lunalva” (estrofe do poema “Balada do morto vivo”, de Vinícius de Morais).
- “[…] devia ser hora de se comer a janta e arriar a tropa para as estradas” (“Correspondência com seu tradutor Alemão Curt Meyer-Clason (1958-1967)”, de Guimarães Rosa).
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