O Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD) é, de longe, um dos mais complexos e exigentes do Brasil. E as questões de Língua Portuguesa seguem essa mesma toada, apresentando nível altíssimo e concorrência qualificada. Nesse contexto, a preparação para o CACD precisa ir além da memorização, exigindo compreensão profunda e contextualizada da língua.
Com longa experiência em ensino de Língua Portuguesa para candidatos a diplomatas, o professor Caco Penna destaca a importância de abandonar tabelinhas e métodos tradicionais do Ensino Médio. Dessa forma, seu método integra rigor gramatical a técnicas inovadoras, como a Programação Neurolinguística, aliadas a elementos práticos do teatro, locução e dublagem.
Segundo Penna, tanto a prova objetiva quanto a discursiva demandam domínio das nuances linguísticas, desenvolvimento de capacidade argumentativa e análise textual refinada. Nesta entrevista, o professor compartilha dicas práticas para quem quer uma preparação diferenciada. Confira!
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Clube do Português: Como surgiu seu interesse em preparar candidatos para o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata (CACD)?
Caco Penna: Conheci o CACD por volta de 2011/2012, quando dava aulas para cursinhos pré-vestibulares e concursos públicos em geral. Em 2013, fui convidado por um colega professor para substituí-lo em uma empresa que se dedicava exclusivamente ao concurso da Diplomacia.
Como já conhecia a prova, encarei o desafio, e foi muito prazeroso, pois, devido à exigência da prova, os alunos me estimulam a ir sempre além nos assuntos, aprofundando o máximo possível – o que é uma grande responsabilidade, mas um grande estímulo.
Costumo brincar que o CACD é uma “batalha de nerds”, e isso vale tanto para os candidatos quanto para os professores. Estou sempre estudando, lendo e buscando me aprofundar nos assuntos concernentes às matérias que trabalhamos no TPS (a prova objetiva) e nas Redações, e, diferentemente das outras áreas, os futuros diplomatas sempre se interessam pelo conteúdo mais aprofundado, pelas relações literárias, pelas interdisciplinaridades… isso torna as aulas extremamente ricas em conteúdo, o que é prazeroso tanto para o aluno quanto para o professor, que tem sempre um estímulo para não estagnar nos estudos.
Os alunos são o meu grande combustível para seguir estudando.
Principais desafios do CACD
Clube do Português: Quais são os principais desafios que os candidatos enfrentam na prova de Língua Portuguesa do CACD?
Caco Penna: Já se percebe a diferença logo na preparação para a prova objetiva (o TPS): é uma prova que exige um passo além no estudo gramatical. Temos as questões conceituais, mas, em geral, elas vêm aplicadas à relação textual específica.
Em muitos casos, o simples decorar dos nomes não é suficiente, fazendo com que o candidato precise abandonar as famosas “tabelinhas” e realmente entender a lógica da linguagem. A “macetologia” não vai trazer um bom resultado.
A prova discursiva (a Redação, na segunda fase) também tem um grande diferencial em relação aos demais concursos: além do Resumo ou de um texto mais curto (como tivemos até a prova de 2023), há um texto dissertativo de 70 linhas, com temáticas específicas.
Para esta prova, os modelos de Redação de ENEM e demais vestibulares são completamente inócuos. Digo sempre aos alunos: se fizermos do mesmo jeito, teremos o mesmo resultado – ou seja, se fizermos as redações do mesmo modo como fazíamos como éramos adolescentes, não teremos um resultado melhor do que um texto de um adolescente… e um diplomata precisa ir muito além disso em sua capacidade argumentativa.
Se for para dizer, então, o principal desafio na preparação para o CACD, diria que é se “despir” do modo como se estudou a linguagem durante o Ensino Médio e iniciar como uma matéria nova (assim como se faz com História ou Geografia, por exemplo, matérias que estudamos no Ensino Médio, mas, para o CACD, começamos o estudo do zero).
Somente deste modo, o candidato poderá entender a linguagem em sua amplitude (independentemente de como ela for cobrada) e alcançar uma habilidade retórica que lhe trará um excelente resultado na redação.
Estudo da Língua Portuguesa para o CACD
Clube do Português: Quais conselhos você daria para quem está iniciando agora a preparação para o CACD, especialmente na disciplina de Língua Portuguesa?
Caco Penna: De uma forma geral, minha recomendação é sempre “vá com calma”. Comumente, o candidato que está ingressando compra “combos” de todas as matérias, programa um estudo de 12h/dia, de domingo a domingo… e depois de 3 meses já está esgotado.
Comece com poucas matérias e vá se acostumando com a rotina de estudos. Aumente pouco a pouco. Quando se sentir confiante, acrescente mais uma ou duas matérias e por aí vai.
Lembrem-se sempre do item implícito em todo edital: sanidade física e mental! Sem isso, todo o resto será perdido!
Em relação à Língua Portuguesa, retomo o que disse nas questões anteriores: abandone as “tabelinhas”, os “macetinhos”, as “forminhas de redação”… se atalho funcionasse, não seria atalho, seria o caminho. O CACD é uma prova que seleciona os candidatos diferenciados, e, para se diferenciar da maioria, você precisa fazer o que a maioria não faz.
No meu curso “CACD Completo”, dou o roteiro completo: à medida que vamos aprofundando na Gramática, vamos aplicando o conhecimento tanto em simulados inéditos quanto em análises de provas anteriores, ao mesmo tempo que praticamos análise textual tanto de textos literários (em prosa e em poesia) quanto em textos não literários, além de dar toda a base necessária de literatura e repertório cultural.
É um estudo amplo e inter-relacionado: dá mais trabalho do que os “macetinhos”, mas é um caminho que, depois de percorrido, se consolida de tal maneira que você nunca mais terá problemas com a matéria.
O papel da Programação Neurolinguística
Clube do Português: Poderia nos contar mais sobre o método de ensino que você desenvolveu, que combina conhecimento gramatical contextualizado com técnicas de Programação Neurolinguística (PNL)?
Caco Penna: Não acredito que algum método de ensino seja pensado previamente, eles são desenvolvidos e consolidados a partir de muito estudo e muita prática. Estou em sala de aula desde 2005, e pude dar aulas para pessoas dos mais diversos níveis de aprendizado: desde adolescentes pré-vestibulandos, passando por concursos públicos dos mais diversos e chegando até alunos exigentes, como os CACDistas; de aulas particulares a salas com 300 ou 400 pessoas; de aulas presenciais a cursos gravados… isso tudo nos faz desenvolver e apurar nossos métodos de explicar os conteúdos, de modo que pessoas diferentes, em contextos diferentes, consigam apreender o conteúdo de uma forma clara.
Estudei Programação Neurolinguística (PNL) durante 6 anos (participando, inclusive, de cursos internacionais), justamente em um período em que estava me desenvolvendo como professor.
A PNL entra na forma de explicar, nas ênfases, na estrutura didática como um todo: não é uma “mágica” ou uma “técnica pré-formatada”, é algo que se dilui durante toda a forma de explicação e sequência didática. Associa-se a ela, minha formação em Letras com dupla habilitação, Português e Linguística, que me fez compreender a linguagem como algo muito além da “macetologia”, insuficiente para concursos de grande exigência.
Vale sempre lembrar que, assim como nenhum método é pensado previamente, eles também nunca param de se aperfeiçoar. Hoje, além de já ter concluído a pós em “Literatura, Artes e Filosofia”, também trago para as aulas todos os meus estudos e leituras, além de aprender um pouco com cada aluno das aulas particulares. É uma troca constante e um aperfeiçoamento interminável.
Teatro, locução, dublagem aplicados ao ensino
Clube do Português: Como sua experiência como ator, locutor e dublador contribui para suas técnicas de ensino e preparação de candidatos?
Caco Penna: Comecei no teatro em 1993 (denunciando a minha idade, rs!). Em 2002, tirei meu registro profissional como ator e, além de espetáculos teatrais, trabalhei muito com eventos dos mais diversos (fui palhaço, mágico, mestre de cerimônias, fazia personagens performáticos, eventos para empresas…).
Isso faz com que a gente desenvolva uma certa desenvoltura, principalmente em aulas para turmas grandes (nunca tive problemas para entrar em salas com 300 ou 400 alunos), além de buscar formas de se relacionar com pessoas diferentes.
A profissionalização como locutor foi um pouco mais tarde, em 2012. Fiz o curso profissionalizante na área pensando em, associado ao trabalho de ator, ingressar na dublagem, o que fiz a partir de 2014. A locução me fez apurar ainda mais a preocupação com a clareza do raciocínio oral, a desenvoltura com o microfone, a dicção, a impostação da voz… características que considero essenciais para o meu trabalho hoje, principalmente no mundo online, em que estamos 100% do tempo diante de câmeras e microfones.
No fim, tudo acabou se juntando: minha paixão pelos estudos, minha formação em PNL, minha experiência com teatro e locução, minha especialização em Linguística… tudo convergiu para o trabalho que desenvolvo hoje.
Por isso, como disse antes, gosto da exigência que os CACDistas têm: eles fazem com que eu busque, a todo momento, explorar ao máximo cada área de conhecimento que eu tenha e busque sempre novos campos para enriquecer ainda mais a preparação.
Resumo da entrevista em 5 pontos
- O CACD exige uma preparação que vai além da simples memorização.
- A prova de Língua Portuguesa demanda domínio gramatical e análise textual aprofundada.
- Métodos inovadores substituem os tradicionais do Ensino Médio.
- Técnicas de PNL, teatro e locução enriquecem a compreensão da linguagem.
- A preparação deve ser gradual, mantendo a sanidade física e mental.