Olhos d’água, de Conceição Evaristo: análise e resumo da obra

Lançado em 2014, o livro “Olhos d’água” é uma coletânea de contos escritos por Conceição Evaristo. A autora aborda temas associados às experiências do cotidiano de pessoas negras, especialmente as mulheres. 

Os 15 contos que compõem a obra são apresentados de forma real, ou seja, sem nenhum tipo de cortes ou cenas fantasiosas. A autora retrata fielmente como é o dia a dia de uma pessoa negra no Brasil. 

As narrativas são curtas e falam sobre crianças, homens e, principalmente, mulheres, sendo elas: mães, domésticas, idosas, ex-prostitutas e tantas outras esferas. Os contos abordam o racismo, bem como as imposições acerca da cor de pele e gênero dos personagens. 

“Olhos d’água” conquistou o 3.º lugar do prêmio Jabuti, pela categoria de Contos e Crônicas, no ano de 2015.

Personagens de “Olhos d’água”

Os personagens da obra “Olhos d’água” são homens, crianças e, sobretudo, mulheres marcadas pelas submissão e violência devido à cor de pele e outras questões sociais e de gênero. 

Alguns contos levam o nome das personagens, como os títulos: Ana Davenga, Ayoluwa e Natalina. Mulheres que vivenciaram diferentes tipos de violência, mas decidiram continuar vivendo, sonhando e ansiando por dias melhores. 

Além disso, as pessoas da narrativa trazem a identidade afro-brasileira e relembram o sofrimento, bem como a resiliência de seus ascendentes.

Resumo de “Olhos d’água”

A obra “Olhos d’água” é composta por 15 diferentes contos que se mesclam. Eles narram histórias de pessoas negras que sofreram os mais diversos tipos de violência e depreciação durante a vida. 

Contudo, o leitor consegue notar, desde o primeiro conto, o qual possui o mesmo título do livro, que a autora vai além do sofrimento. Seu objetivo é mostrar a ancestralidade e identidade afro-brasileira, destacando a dura realidade, bem como o acalento a esses personagens. 

Os nove primeiros contos da obra têm mulheres como protagonistas, enquanto os quatro seguintes, contam a histórias de homens que morrem devido à marginalização social. Os títulos, em sua maioria, são construídos pelo nome dos personagens principais, como: “Maria”, “Luamanda” e “Lumbiá”, por exemplo. 

Vale dizer que, já no prefácio, o livro sinaliza que a escrita é a forma que a autora tem de retratar as suas experiências e escancarar o que há de errado na realidade: 

“…escrever é, certamente,“uma maneira de sangrar”; mas também de invocar e evocar

vidas costuradas “com fios de ferro” – porém aqui preservadas com a persistente costura

dos fios da ficção, em que também se almeja e se combina, incansavelmente, não

decerto a imortalidade, mas a tenaz vitória humana, a cada geração, sobre a morte.

A partir daí, o leitor consegue se identificar imediatamente por meio das narrativas compartilhadas. Narrativas estas, recheadas de ancestralidade, fé, lágrimas, violência e sentimentos. As vozes não se calam devido aos acontecimentos expostos e por essa razão, a obra comove com sua dor poética.

Contexto histórico de “Olhos d’água”

O contexto histórico em “Olhos d’água” é histórico e, ao mesmo tempo, contemporâneo. Isso porque, ainda que aborde temas muito atuais por meio de sua publicação de 2014, ele é um retrato de situações que ocorrem desde que “o mundo é mundo”. 

Assim, a obra representa a voz dos negros e de toda uma sociedade que, há muitas décadas, tenta ser silenciada. 

Análise literária de “Olhos d’água”

Em “Olhos d’água”, a desigualdade social é o ponto central. As situações retratadas, infelizmente, não são ficções, mas sim a dura realidade do cotidiano de muitas pessoas. Entre os destaques de cada conto, a autora menciona o desespero, a miséria e a fome. Além de retratar episódios como assaltos, balas perdidas, a vida de um morador de rua e assim por diante. 

Temas como esses não são novos, bem como o retrato de uma realidade perfeita que homens brancos costumam pintar. Por essas razões, Conceição decidiu retratar de forma clara a realidade do mundo do crime, as desigualdades e, especialmente, a violência contra negros e mulheres. 

No entanto, a autora consegue mostrar os personagens não apenas como vítimas de um sistema falho, mas sim, como protagonistas de suas próprias histórias. Ao combinar diálogos e pensamentos, a autora transmite a complexidade do “existir”. Isso porque, cada uma das pessoas retratadas tem sonhos, medos, amores, raivas, assim como qualquer ser-humano. 

Além disso, “Olhos d’água” também escancara a sexualidade em um período no qual a sociedade tenta impor padrões aceitáveis, oprimindo quem os “desacata”.

Adaptação no teatro da obra “Olhos d’água”

O livro “Olhos d’água” deu origem ao espetáculo: “Olhos d’água ou Nas Pedras Nasciam Asas”, que estreou no Rio de Janeiro em novembro de 2019. A obra cênica é assinada por Cássio Duque, com a adaptação do conto “Olhos d’água” de Conceição Evaristo. A direção é de Juracy de Oliveira, Shirlene Paixão e Sol Miranda. 

Sobre a autora Conceição Evaristo

Nascida em uma favela de Belo Horizonte, em 29 de novembro de 1946, a autora Conceição Evaristo é graduada em Letras pela UFRJ, mestre em Literatura Brasileira pela PUC do Rio de Janeiro, e doutora em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense. 

Sua carreira literária iniciou por meio de publicações em “Cadernos Negros”, do Grupo Quilombhoje, de São Paulo, no qual Conceição escrevia contos e poesias. Assim, foi construindo sua produção textual e sendo reconhecida como uma mulher que representava o seu povo.

São os sentimentos e experiências de homens e mulheres negras que compõem os seus livros de dores e sensações. Além de “Olhos d’água”, a autora também escreveu outros livros como: “Ponciá Vicêncio”, que foi publicado nos Estados Unidos em uma tradução para a Língua Inglesa. 

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