A jornada para conquistar um cargo público não é fácil: são dezenas de tópicos para estudar, concorrência crescente, pouco tempo para os estudos, entre outros obstáculos. No processo de preparação para concursos públicos, muitos candidatos enfrentam desafios que vão desde a falta de estratégia até a gestão inadequada do tempo.
Com uma trajetória de mais de uma década auxiliando candidatos a alcançarem aprovações em concursos de tribunais, o professor Daniel Garófalo, bacharel em Direito, mentor para provas de concursos, compartilha dicas práticas para acelearar a preparação dos condidatos.
Nesta entrevista, exploramos sua visão sobre os principais obstáculos enfrentados pelos concurseiros, a possibilidade de aprovação em apenas seis meses e as estratégias mais eficazes para otimizar o estudo. Suas respostas revelam a importância de um método estruturado e de revisões bem planejadas. Confira abaixo a entrevista completa!

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Clube do Português: Quais são os principais desafios que os candidatos enfrentam na preparação para concursos públicos?
Daniel Garófalo: Os desafios começam pela falta de estratégia. Muitos candidatos se perdem em materiais extensos, como livros (cursos ou manuais) e cursos on-line em videoaulas, e acabam estudando de forma passiva, acreditando que “mais é melhor”.
Outro ponto crítico é a desorganização: sem um plano claro, o candidato tende a dispersar energia em tópicos menos relevantes. Além disso, o fator psicológico pesa muito. A pressão por resultados e o desânimo causado por ciclos de estudos improdutivos são comuns. Na minha mentoria, trabalho com um método estruturado para evitar esses erros e garantir que o candidato tenha um cronograma eficiente e motivação constante. Resumidamente, os principais erros dos candidatos, em especial os iniciantes, podem ser pontuados da seguinte forma:
Não fazem o mapeamento do concurso:
Geralmente a preparação não se inicia sem antes hierarquizar o edital, ou seja, sem estabelecer uma ordem de importância entre as disciplinas e seus respectivos temas de acordo com as provas anteriores, o que deve ser o ponto de partida para a organização da preparação. Essa estratégia traz uma clareza imediata ao concurseiro, que passa a saber exatamente onde focar os estudos.
Usam um material descalibrado:
Sem o mapeamento, os concurseiros facilmente optam por utilizar materiais gigantes, que geram desmotivação e os fazem perder tempo em assuntos pouco relevantes, ou usam materiais insuficientes, que não levam à construção do conhecimento mínimo necessário para acertar as questões.
Têm uma má gestão do tempo:
O desconhecimento do tempo ideal para estudar cada disciplina e seus temas conduz a um estudo que não foca a maior parte da energia nos temas quentes, levando a perder eficiência e muitas questões de prova.
Não fazem revisões ou fazem de maneira errada:
A revisão faz parte do aprendizado, e são esses novos pontos de contato com o conteúdo que geram a consolidação do aprendizado. Aqui, o ideal é que a revisão tenha completude, que permita passar novamente por todos os conceitos e artigos relevantes, de forma organizada e completa.
Não dominam a redação da lei seca:
A maioria dos concurseiros estudam e dominam um tema de forma difusa, abrangente, mas a cobrança da prova exige o domínio da redação da lei seca, e eles erram, porque o estudo não foi realizado com esse foco.
Não usam um bom método de estudo:
Vários concurseiros estudam só por questões e lei seca (por exemplo), tornando a preparação desestruturada e fragmentada, ou seja, sem uma linha de construção do conhecimento ordenada e eficiente.
Aprovação para concursos em 6 meses: é possível?
Clube do Português: É realmente possível ser aprovado em 6 meses para um bom concurso?
Daniel Garófalo: Sim, é possível, desde que o candidato adote uma abordagem estratégica e focada desde o início. O problema reside justamente nisso, em um primeiro momento, por inexperiência, 90% dos candidatos vão no chamado “efeito manada”, leia-se, fazendo tudo que todo mundo faz… cursinho em videoaula, PDF de mil paginas, respondendo questão de assunto que acabou de estudar. A consequência disso todos nós sabemos: a reprovação.
Veja, não estou dizendo que isso seja um problema por si só, cada reprovação é um aprendizado, uma chance a mais de se orientar na direção do seu sucesso, mas o problema é que para isso acontecer leva tempo, muito tempo, são diversas reprovações, ajustes, reajustes, adaptações e assim por diante.
Por isso costumo dizer que, hoje, depois de mais de 10 anos de experiência com concursos de tribunais, por mais incrível que pareça, vejo o começo da jornada como sendo justamente aquele momento ao qual atribuo maior relevância. É disparado o mais determinante!
Se começar a trajetória da maneira errada, cada dia que passa sem direcionamento, você se distancia do seu objetivo final. Como um barco à deriva, para onde ir? Não vejo mais de onde vim, nem sei para onde vou, ou seja, completamente sem rumo. Até se reestabelecer a rota, meses, ou até anos, terão passado.
Existem ferramentas para que não haja essa defasagem no esforço, como por exemplo as mentoria individuais sérias. Digo isso baseado na seguinte premissa: a partir do momento em que a pessoa, desde o primeiro dia, já começa fazendo as escolhas certas e busca ajuda através de uma mentoria séria, leia-se, que verdadeiramente se compromete com o mentorado, já não estamos mais falando de apenas 6 meses. Estaremos falando de 6 meses seus somados a 10 anos de experiência prática em concursos públicos da parte do mentor. Com essa soma, o “impossível” se torna alcançável, o que faz total sentido, convenhamos.
Então, sim, dá para ser aprovado em 6 meses. Na verdade, dependendo do caso, pode até ser que isso ocorra em menos tempo. Por quê? Porque 6 meses em uma boa mentoria equivalem a pelo menos 4 anos estudando sozinho.
Estudar sozinho é como tentar chegar a um destino desconhecido sem GPS: você vai errar caminhos, andar em círculos, gastar mais tempo, dinheiro e energia do que deveria. Uma mentoria pode ser vista metaforicamente como um Waze dos concursos: cada decisão é otimizada, cada minuto de estudo tem um propósito, e você segue com segurança, sem desperdiçar esforços.
Estratégias práticas para ganhar tempo na prepação para concursos públicos
Clube do Português: Com base na sua experiência, quais estratégias de estudo você considera mais eficazes para otimizar o tempo de preparação para concursos públicos?
Daniel Garófalo: A primeira estratégia é adotar um estudo ativo, que inclua resolução de questões e revisões constantes. A neurociência mostra que quando você resolve questões e revisa espaçadamente, ativa diferentes áreas do cérebro, aumentando a retenção.
Outra abordagem é o uso de ciclos de estudo, alternando matérias prioritárias e complementares para evitar sobrecarga mental.
Por fim, o planejamento personalizado é essencial: o candidato precisa adaptar os estudos à sua rotina, e não o contrário.
Quais matérias priorizar para concursos?
Clube do Português: No processo de preparação para concursos públicos, como o candidato pode identificar e focar nas disciplinas ou tópicos que têm maior peso ou relevância no concurso almejado?
Daniel Garófalo: O segredo está na análise detalhada do edital e do histórico estatístico das últimas dez provas para o cargo que almeja.
Essas provas anteriores te ajudarão a identificar os tópicos mais recorrentes. Aplicando o Princípio de Pareto, o candidato consegue focar nos 20% do conteúdo que representam 80% das questões. Além disso você saberá quais fontes de exigência da banca examinadora para aquela matéria em específico, se lei, doutrina ou jurisprudência, algo de suma importância pois ditará o ritmo e direção conforme o assunto.
O segredo é mapear esses pontos e criar um plano de estudos direcionado, para que o candidato otimize seu tempo e tenha segurança ao abordar os temas essenciais.
Como não esquecer o que eu já estudei?
Clube do Português: Quais técnicas de revisão você recomenda para consolidar o conhecimento adquirido e evitar o esquecimento de conteúdos importantes?
Daniel Garófalo: Revisões orgânicas espaçadas (estas são aquelas inerentes ao programa de estudos, na medida em que avance com os assuntos mais importantes você os revisita, isso paralelamente aos de menor relevância, te permitindo não só “bater o edital” mas sim “girar o edital”, isto é, esgotá-lo por diversas vezes) e repetição intensiva periodizada são as melhores armas contra a curva do esquecimento.
Recomendo revisar o conteúdo estudado após 24 horas, depois em uma semana, um mês e três meses, focar essa revisão específica na letra de lei, que representa em regra 87% do conteúdo das questões de prova no caso dos concursos de tribunais, a título de exemplo.
Além disso, a resolução de questões de temas aleatórios, deve fazer parte da revisão, pois ativa a memória de longo prazo e permite identificar lacunas no aprendizado. A neurociência compara a revisão a reforçar um músculo: quanto mais você exercita, mais forte ele fica. Esse é o método que aplicamos na mentoria, com um equilíbrio perfeito entre novas aprendizagens e revisões contínuas.