Processos Fonológicos: um guia para concursos

Os processos fonológicos são fenômenos de transformação de sons na língua portuguesa. Embora não seja um tema frequente em concursos em geral, podem ser cobrados em provas específicas para cargos como professor de português, revisor de texto, taquígrafo e consultor legislativo ou ainda em certames de seleção para mestrados e doutorados na área da Linguística. 

Por isso, neste artigo, vamos explorar os principais processos fonológicos e trazer exemplos de cada um!

O que são processos fonológicos?

De acordo com a pesquisadora Denise Porto Cardoso, os processos fonológicos refletem a “dinâmica da língua e sua constante evolução”​. Em outras palavras, eles demonstram como os sons se alteram ao longo do tempo ou em situações específicas, influenciados pelo contexto sonoro em que ocorrem.

Dinâmica dos processos fonológicos.

10 principais processos fonológicos

Vamos conferir agora os 10 principais processos fonológicos e ver alguns exemplos de cada um deles. Vejamos!

1. Assimilação

A assimilação ocorre quando um som se torna mais parecido com outro som próximo a ele. Esse processo ajuda na harmonização da fala, tornando a pronúncia mais fluida. Segundo Cardoso, “a assimilação consiste em tornar um fonema semelhante a outro”​.

Por exemplo, a palavra “veludo” pode ser pronunciada como “vludo” na fala rápida, com o som da primeira vogal sendo assimilado ao contexto.

2. Dissimilação

A dissimulação, processo oposto à assimilação, ocorre quando um fonema se torna diferente de outro para evitar a repetição de sons similares. Cardoso explica que “a dissimilação acontece quando um fonema se torna dessemelhante a outro”.

Isso ocorre, por exemplo, na palavra “árvore”, que muitas vezes é pronunciado como “ávore”, sem o primeiro “r”, porque a dissimilação facilita a fala.

Entenda os processos fonológicos de assimilação e dissimulação.

3. Metafonia

A metafonia é um processo de alteração tonal, onde uma sílaba átona influencia a tônica. Cardoso comenta que “a metafonia é o processo diacrônico que explica a passagem de metu a m[e]du“​.

Um caso que ilustra esse processo é o da  palavra “miolos”, em que a sílaba átona influencia o som da tônica, transformando “o” final em um som fechado. Assim, em vez de se pronunciar “miolós”, pronuncia-se “miolôs”.

4. Debordamento

De acordo com Cardoso o debordamento é  “a passagem do /e/ para /i/ e do /o/ para /u/, mantendo a clareza comunicativa”​.

Esse processo pode ser visto, por exemplo, na palavra “tomate”, que muitas vezes é pronunciada como “tumate”.

5. Nasalização e Desnasalização

Esses processos alteram a nasalidade de vogais, sendo comuns em variações regionais. A nasalização transforma uma vogal oral em nasal, enquanto a desnasalização faz o contrário. Cardoso observa que “na nasalização, uma vogal oral torna-se nasal devido à assimilação a uma vogal nasal”.

Um exemplo de nasalização é a passagem do termo “identidade” para “indentidade na fala coloquial. Por sua vez, um caso que ilustra bem o processo de desnasalização é a passagem de “homem” para “home” na fala do dia a dia.

Entenda a diferença entre os processos fonológicos de nasalização e desnasalização.

6. Vocalização e Rotacismo

Na vocalização, uma consoante é transformada em um som vocálico. Já o rotacismo ocorre quando o som [l] é substituído pelo som [ɾ] (ou “r” fraco). 

Uma situação que demonstra um processo de vocalização é a pronúncia da palavra “calma” como “cauma”. Já no caso do rotacismo, um exemplo famoso é a troca, na fala, de “malvada” por “marvada”.

7. Palatalização e Despalatalização

A palatalização transforma consoantes não palatais em palatais, um fenômeno que ocorre quando o som é seguido de uma vogal alta. A despalatalização é o processo inverso. 

Na fala carioca, temos um exemplo de palatização que ocorre quando a palavra tinta é pronunciada como “tchinta”.

Já sobre o processo de despalatização, podemos citar a troca da pronúncia da palavra “mulher” por “mulier”.

8. Prótese, Epêntese e Paragoge (Adição de Sons)

Esses três processos acrescentam sons em diferentes partes da palavra:

  • Prótese: Insere um som no início da palavra. Por exemplo, a palavra “estrela” surgiu do latim “stella” por meio de um processo de prótese. 
  • Epêntese: Adiciona um som no interior da palavra, como adivogado em vez de advogado.
  • Paragoge: Acrescenta um som ao final, mais comum no português europeu. No Brasil, em alguns lugares, podemos ver, por exemplo, a troca da pronúncia “amor” por “amore”.
Conheça os processos fonológicos que envolve a adição de sons.

9. Aférese, Síncope e Apócope (Retirada de Sons)

Esses processos removem sons de diferentes partes das palavras:

  • Aférese: Retira um som do início. Exemplo: em vez de está.
  • Síncope: Remove um som do meio da palavra, como pra em vez de para.
  • Apócope: Remove um som final, comum no plural de palavras, como em as casa (as casas).

10. Metátese e Hiperbibasmo

A metátese troca posições de fonemas para facilitar a pronúncia. Por exemplo, na fala cotidiana, é comum ver a pronúncia de “lagartixa” ser alterada para “largatixa”.

Já o Hiperbibasmo muda o acento tônico da palavra. Isso ocorre, por exemplo, quando alguém pronuncia a palavra paroxítona “rubrica” como uma proparoxítona (“rubrica”).

Resumo dos processos fonológicos

Para ajudar você a fixar esse conhecimento, preparamos uma tabela-resumo com todos os processos fonológicos:

Processo FonológicoDefiniçãoExemplo
AssimilaçãoUm som se torna semelhante a outro próximo.Veludo → “vludo”
DissimilaçãoUm som se torna diferente de outro semelhante para facilitar a pronúncia.Árvore → “ávore”
MetafoniaAlteração tonal onde uma sílaba átona influencia a tônica.Miolos → “miolôs”
DebordamentoMudança de e para i e de o para u mantendo a clareza comunicativa.Tomate → “tumate”
NasalizaçãoTransformação de uma vogal oral em nasal.Identidade → “indentidade”
DesnasalizaçãoTransformação de uma vogal nasal em oral.Homem → “home”
VocalizaçãoTransformação de uma consoante em som vocálico.Calma → “cauma”
RotacismoTroca do som [l] pelo som [ɾ] (ou “r” fraco).Malvada → “marvada”
PalatalizaçãoTransformação de consoantes não palatais em palatais.Tinta → “tchinta”
DespalatalizaçãoTransformação de consoantes palatais em não palatais.Mulher → “mulier”
PróteseAdição de um som no início de uma palavra.Stella (latim) → “estrela”
EpênteseAdição de um som no interior de uma palavra.Advogado → “adivogado”
ParagogeAdição de um som ao final de uma palavra.Amor → “amore”
AféreseRemoção de um som do início de uma palavra.Está → “tá”
SíncopeRemoção de um som do meio de uma palavra.Para → “pra”
ApócopeRemoção de um som no final de uma palavra.As casas → “as casa”
MetáteseTroca de posição entre fonemas para facilitar a pronúncia.Lagartixa → “largatixa”
HiperbibasmoMudança do acento tônico de uma palavra.Rubrica → “rúbrica”

Por que conhecer os processos fonológicos?

A professora Denise Porto Cardoso ressalta que “todos os processos que ocorreram na passagem do latim para o português continuam a acontecer atualmente”​, indicando que esses fenômenos fazem parte da natureza viva e dinâmica da língua. 

Nesse sentido, conhecer esses processos fonológicos oferece uma base técnica importante para profissionais de revisão, transcrição e outras áreas da linguística. Mesmo que não sejam temas recorrentes em todos os concursos, o domínio desses fenômenos confere ao candidato um diferencial em provas mais específicas, destacando seu conhecimento aprofundado da língua portuguesa.

Referência

Fonologia da Língua Portuguesa: Processos Fonológicos, Denise Porto Cardoso.

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