Variações linguísticas: tipos, exemplos e exercícios

Variações linguísticas são as diferenças que uma língua apresenta em decorrência de diferentes fatores, como localidade, extrato social, situação de comunicação e tempo histórico. Compreender esse conceito e seus diferentes tipos é fundamental para se dar bem em provas de linguagem e enriquecer a comunicação. 

Os gramáticos Celso Cunha e Lindley Cintra, em sua Gramática do Português Contemporâneo, explicam que a variação é “inerente ao sistema da língua e ocorre em todos os níveis: fonético, fonológico, morfológico, sintático, etc”. Eles destacam, porém, que “essa multiplicidade de realizações do sistema nada prejudica as suas condições funcionais”.

Dito de outra forma, as variações são comuns e não atrapalham, em geral, a comunicação entre os falantes.

Do ponto de vista acadêmico, exames como o Enem costumam explorar muito o tema em suas questões. Já em relação à transmissão e recepção de mensagens, identificar essas variações ajuda a combater o preconceito linguístico e n valorizar a diversidade cultural. 

Neste artigo, vamos falar sobre o tema em todos os seus contextos. Acompanhe! 

O que são variações linguísticas?

As variações linguísticas são as diversas formas pelas quais as línguas se manifestam entre os seus falantes. Melhor dizendo, mesmo nos lugares que têm o português como idioma oficial, é possível encontrar diferenças na fala conforme alguns fatores como:

  • variação geográfica;
  • contexto histórico;
  • circunstâncias sociais;
  • aspectos situacionais. 

Essas diferenças são chamadas de variações linguísticas e mostram como o idioma é flexível e se adapta a diversas realidades. Isso significa que a língua não é uniforme, mas sim heterogênea em sua composição.

Assim, ao compararmos o nosso idioma em regiões diferentes, podemos observar características que se diferenciam na forma de falar. Por exemplo, as palavras “mandioca” “macaxeira” e “aipim” referenciam o mesmo alimento. No entanto, o emprego delas varia conforme a região. 

Essas variações, apesar de poderem gerar alguns ruídos de vez em quando, não atrapalham a interação entre os falantes. Afinal, há uma estrutura da língua que segue inalterada e permite a comunicação fluida. Como bem explica o filólogo Joaquim Mattoso Camara Jr., “a invariabilidade profunda, em meio de variabilidades superficiais, é inegável nas línguas”.

Fatores que contribuem para as variações linguísticas

Como mencionado acima, existem alguns fatores que contribuem para as variações linguísticas. São eles:

  • Fatores geográficos: diferenças linguísticas em diversas regiões, também chamada de regionalismo;
  • Fatores históricos: mudanças que ocorrem nas palavras ao longo dos anos;
  • Fatores sociais: variações conforme grupos de diferentes classes sociais, profissões, níveis de escolaridade e faixa etária;
  • Fatores culturais: diferentes maneiras de se comunicar conforme a situação em que se encontra. 

Cada um desses fatores carateriza um dos quatro tipos de variações linguísticas. Vamos, portanto, mergulhar nesse tópico. 

Quais são os tipos de variações linguísticas?

Baseada nos fatores que influenciam as suas mudanças, as variações linguísticas são classificadas em quatro tipos:

1) Variação geográfica (ou diatópica)

A variação geográfica, também chamada de diatópica, é um tipo de alteração linguística que ocorre conforme a região. Assim, embora a língua nativa no Brasil seja o português, algumas palavras são escritas e ditas de maneiras diferentes em determinadas regiões, ainda que tenham o mesmo significado. 

Um exemplo disso é a “mexerica”, ou seria “bergamota”? Que tal, “tangerina”? No Centro-Oeste e Sudeste do país é usada a palavra “mexerica”. Já na região Sul, os gaúchos falam “bergamota”. No Nordeste, o mais comum é “tangerina”. Esse tipo de variação é conhecido como regionalismo.

De acordo com Evanildo Bechara, em sua Moderna Gramática Portuguesa, essa diversidade no espaço é que gera os dialetos e sotaques regionais.

Um dos tipos de variações linguísticas é a variação diatópica ou geográfica, ilustrada nesta tabela.

Ademais, há variações também entre países. Em Portugal, por exemplo, eles chamam ônibus de autocarro e trem de comboio. Já em Angola, eles chamam um homem vaiodoso de bangão.

2) Variação histórica (ou diacrônica)

Como bem ressalta Bechara, a linguagem, apesar de ser individual, sempre se realiza “de acordo com tradições de comunidades históricas”.

Nesse sentido, a variação histórica, também chamada de diacrônica, está associada às palavras que se modificam com o passar dos anos. Isso significa que a Língua Portuguesa atual já sofreu inúmeras transformações durante os séculos. 

Um bom exemplo disso são as expressões: “sinhô” e “sinhá”, usadas para se referir aos senhores e senhoras, especialmente no período colonial. Hoje entraram em desuso. 

Outro exemplo interresante são as mudanças na grafia das palavras no decorrer dos anos. Esse tipo de alteração é geralmente tratado nas Reformas Ortográficas, que buscam estabelecer normas e padrões para o idioma.

Variações linguísticas ocorridas em decorrência de reforma ortográfica.

3) Variação social (ou diastrática)

A variação social, também conhecida como diastrática, é aquela que ocorre entre grupos com perfis diferentes. Em outras palavras, são as variações linguísticas encontradas nos mais diversos níveis de escolaridade, profissões, classes sociais e faixas etárias.

Assim, uma pessoa com nível superior possui um vocabulário diferente de um jovem do Ensino Médio, sendo mais amplo ou técnico, por exemplo. Além disso, um indivíduo sem acesso à educação formal, também pode ter dificuldade em escrever ou pronunciar palavras de forma correta.

O mesmo fenômeno ocorre quando pensamos em profissões diferentes. Afinal, um médico usa termos diferentes de um atendente de telemarketing que precisa adotar uma linguagem mais popular.

Nesse sentido, vale dizer que se dá o nome de socioleto a esse conjunto de traços linguísticos que caracterizam e identificam um grupo ou um estrato social. Como exemplo, pode-se indicar o chamado jurisdiquês, que é uma variação linguística utilizada pelos profissionais do meio jurídico, como mostra a imagem abaixo.

O jurisdiquês é um exemplo de variação diastrática.

Assim também acontece com as classes sociais e faixas etárias. Uma pessoa de classe alta evitará o uso de gírias, por exemplo. Bem como as pessoas mais velhas que usam uma linguagem mais conservadora. 

Bechara aponta que as diferenças diastráticas são mais marcadas “em comunidades onde os estratos sociais se apresentam mais distanciados”, ou seja, onde há maior desigualdade social.

4) Variação situacional (ou diafásica)

Por fim, a variação situacional ou difásica, é aquela que se refere às alterações da língua conforme o seu contexto. Em outras palavras, no ambiente acadêmico ou profissional, a linguagem tende a ser mais formal, enquanto, nos momentos de lazer ou entre amigos, ela se torna mais descontraída e informal. 

Segundo Bechara, as diferenças diafásicas se manifestam “quando se comparam língua falada e língua escrita, língua usual e língua literária, língua corrente e língua burocrática ou oficial, etc”.

Linguagem formal x linguagem informal

Conforme dito acima, as variações linguísticas também dizem respeito ao uso da linguagem formal e informal. Assim, elas devem ser aplicadas conforme o contexto em que estão inseridas. Veja:

  • Linguagem formal: segue as normas gramaticais e é utilizada em ambientes profissionais ou acadêmicos.
  • Linguagem informal: trata-se de uma comunicação descontraída e flexível. É usada nos momentos de lazer e entre amigos ou familiares.

Exemplos de linguagem formal

  • “Prezado senhor”
  • “Venho por meio desta”
  • “Em anexo, o documento referente à solicitação”
  • “Conforme solicitado”
  • “Estou muito bem, obrigado!”

Exemplos de linguagem informal

  • “E aí, galera?”
  • “Tô mandando essa mensagem”
  • “Já que você pediu”
  • “Tô na boa, valeu!”

O que é preconceito linguístico?

O preconceito linguístico é um conceito popularizado pelo linguista Marcos Bagno que indica o ato de julgar e/ou depreciar alguém em razão da forma como a pessoa se comunica – seja oralmente, seja por escrito. Em outras palavras, é a intolerância da língua devido ao sotaque, vocabulário ou gramática. 

Esse tipo de discriminação está associado à ideia de que há uma forma correta ou superior de escrever e de se comunicar verbalmente. Assim, as pessoas que estão fora desse “padrão” imposto por determinados grupos são excluídas, provocando a desvalorização cultural e a desigualdade social. 

Como afirma Bagno, “o preconceito linguístico está ligado, em boa medida, à confusão que foi criada, no curso da história, entre língua e gramática normativa.”

Por isso, o autor defende que é preciso que “a escola e todas as demais instituições voltadas para a educação e a cultura abandonem esse mito da ‘unidade’ do português no Brasil e passem a reconhecer a verdadeira diversidade linguística de nosso país para melhor planejarem suas políticas de ação junto à população amplamente marginalizada dos falantes das variedades não padrão”.

Nesse sentido, combater esse tipo de preconceito é fundamental para valorizar a diversidade linguística e promover a inclusão e o respeito por todas as formas de expressão.

Exercícios comentados sobres variações linguísticas

Para fechar este artigo, vamos conferir três questões sobre as variações linguísticas.

  • QUESTÃO 1:

Qual das alternativas abaixo exemplifica a variação situacional?

A) Uma pessoa usa piadas internas com o grupo de amigos, mas utiliza uma linguagem mais formal para conversar com o gerente.

B) A evolução da expressão “vossa mercê” para “você”

C) Diferença no sotaque entre pessoas do Brasil e de Moçambique

D) Uso de jargões médicos por parte de profissionais da área de saúde.

Resposta: Letra A. Uma mudança da linguagem informal para a formal de acordo com o contexto do falante ilustra bem o chamada variação situacional ou diafásica.

  • QUESTÃO 2:

Qual das opções a seguir ilustra de forma mais adequada a variação geográfica da língua portuguesa?

A) Uso de hashtags por jovens nas redes sociais.

B) Regionalismos que ocorrem em diferentes partes do Brasil.

C) Mudanças na língua portuguesa ocorridas em razão das Reformas Ortográficas.

D) Uso de jurisdiquês.

Resposta: Letra B. O uso de regionalismos (como gurie e piá) ilustram bem as variações da língua de acordo com o fator geográfico, ou seja, de acordo com a região do falante.

  • QUESTÃO 3 (Enem/2014):

Em Bom Português

No Brasil, as palavras envelhecem e caem como folhas secas. Não é somente pela gíria que a gente é apanhada (aliás, não se usa mais a primeira pessoa, tanto do singular como do plural: tudo é “a gente”). A própria linguagem corrente vai-se renovando e a cada dia uma parte do léxico cai em desuso.

Minha amiga Lila, que vive descobrindo essas coisas, chamou minha atenção para os que falam assim:

– Assisti a uma fita de cinema com um artista que representa muito bem.

Os que acharam natural essa frase, cuidado! Não saber dizer que viram um filme que trabalha muito bem. E irão ao banho de mar em vez de ir à praia, vestido de roupa de banho em vez de biquíni, carregando guarda-sol em vez de barraca. Comprarão um automóvel em vez de comprar um carro, pegarão um defluxo em vez de um resfriado, vão andar no passeio em vez de passear na calçada. Viajarão de trem de ferro e apresentarão sua esposa ou sua senhora em vez de apresentar sua mulher.

(SABINO, F. Folha de S. Paulo, 13 abr. 1984)

A língua varia no tempo, no espaço e em diferentes classes socioculturais. O texto exemplifica essa característica da língua, evidenciando que

a) o uso de palavras novas deve ser incentivado em detrimento das antigas.
b) a utilização de inovações do léxico é percebida na comparação de gerações.
c) o emprego de palavras com sentidos diferentes caracteriza diversidade geográfica.
d) a pronúncia e o vocabulário são aspectos identificadores da classe social a que pertence o falante.
e) o modo de falar específico de pessoas de diferentes faixas etárias é frequente em todas as regiões.

Resposta: Letra B. O texto ilustra bem a chamada variação histórica ou diacrônica. O autor traz vários casos de mudanças na língua ao longo dos anos e das gerações.

Referências

  • Moderna Gramática Portuguesa, Evanildo Bechara, páginas 32 a 38.
  • Nova Gramática do Português Contemporâneo, Celso Cunha e Lindley Cintra, páginas 4 e 5.
  • Estrutura da Língua Portuguesa, Joaquim Mattoso Camara Jr., página 17.
  • Preconceito Linguístico, Marcos Bagno, páginas 11 e 20.

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