O vocábulo “mais” pode exercer diferentes funções. Dentre elas, está a de adjunto adverbial de tempo. Apesar de pouco recorrente, ela vem sendo cobrada em provas de concursos por diferentes bancas. Por isso, neste artigo, vamos mostrar como identificar essa função da palavra e também vamos analisar duas questões. Confira!
“Mais” como adjunto adverbial de tempo
Para verificar quando o vocábulo “mais” exerce a função de adjunto adverbial de tempo, basta substiui-lo por outro adjunto de tempo, como “jamais”, “de vez em quando”, “às vezes”, etc. Além disso, ele vai sempre aparecer combinado com o termo “não”.
Ademais, quando ocupar esse papel, “mais” vai se referir a um tempo passado. Nesse sentido, vamos verificar alguns exemplos para deixar esse processo mais claro:
- Ele não vai mais na casa dos pais.
- Ele não vai jamais na casa dos pais.
- Não se pode mais comprar ovos naquela padaria.
- Pode-se às vezes comprar ovos naquela padaria.
Agora que você já sabe como identificar o “mais” na função temporal, vamos entrar em campo de verdade e analisar duas questões de concurso que pedem esse conhecimento. Preparado?
Questão 1 – GUALIMP – 2022 – Prefeitura de Carmo-RJ
Observe: “É corrente, no Direito Civil, que não se pode mais questionar a existência do fato ou sua autoria, quando a questão estiver decidida no juízo criminal, o que reforça a ideia de uma autonomia relativa entre as esferas”.
A melhor interpretação para o valor assumido pelo termo destacado, no contexto em análise, é:
a) Adjunto adverbial com valor de intensidade, que amplia a força do verbo “questionar”.
b) Adjunto adverbial com valor de modo, que explica o modo como o “fato” ocorre.
c) Adjunto adverbial com valor de tempo, que indica um tempo que passou.
d) Adjunto adverbial com valor de tempo, que indica um tempo de agora em diante.
Resposta: Letra C
Comentário: Veja que o “mais” na frase da alternativa C cumpre os três requisitos que listamos acima:
- Pode ser substituído por outro adjunto adverbial de tempo (“que não se pode jamais questionar a existência do fato ou sua autoria”)
- Vem combinado com o vocábulo “não” (“que não se pode mais questionar a existência do fato ou sua autoria”)
- Faz referência a um tempo que passou, ou seja, antes era possível questionar aexistência do fato ou sua autoria, mas hoje isso não é possível.
Além disso, podemos destacar que “mais” nunca exercerá a função de adjunto adverbial de modo. Ademais, como adjunto adverbial de intensidade, o termo pode ser substituído por “bastante”.
- Ele precisa correr mais para alcançar a bola.
- Ele precisa correr bastante para alcançar a bola.
Questão 2 – IDECAN – 2019 – IF-AM – Assistente em Administração
Já que os Kuikuro não podem mais beber a água do Rio Xingu, precisamos questionar: por quanto tempo seus peixes continuarão a alimentar as aldeias, à medida que toxinas agrícolas e industriais poluem seus afluentes ou o próprio rio é bloqueado por barragens hidrelétricas?
A respeito do trecho acima, analise as afirmativas a seguir:
I. Não há no trecho pronomes relativos.
II. Na primeira oração, há um adjunto adverbial de tempo.
III. A expressão “à medida que” pode ser substituída, sem prejuízo de sentido, por “na medida em que”.
Assinale:
a) se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
b) se somente as afirmativas I e III estiverem corretas.
c) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
d) se todas as afirmativas estiverem corretas.
e) se nenhuma afirmativa estiver correta.
Resposta: Letra A
Comentário: Vamos analisar cada um dos itens para verificar se está corretos ou incorretos:
I. Não há no trecho pronomes relativos.
De fato, não nenhum pronome relativo no trecho acima. Vejamos:
Já que os Kuikuro não podem mais beber a água do Rio Xingu, precisamos questionar: por quanto tempo seus peixes continuarão a alimentar as aldeias, à medida que toxinas agrícolas e industriais poluem seus afluentes ou o próprio rio é bloqueado por barragens hidrelétricas?
No texto, temos duas ocorrências do pronome possessivo “seus” e uma do pronome demonstrativo “próprio”. Aqui, vale destacar que, segundo o gramático Fernando Pestana, o vocábulo “próprio”, quando tem valor reforçativo e aparece junto com o artigo, exerce a função de pronome.
Diante do exposto, podemos dizer que o item I está correto.
II. Na primeira oração, há um adjunto adverbial de tempo.
Vamos voltar novamento ao trecho:
Já que os Kuikuro não podem mais beber a água do Rio Xingu, precisamos questionar: por quanto tempo seus peixes continuarão a alimentar as aldeias, à medida que toxinas agrícolas e industriais poluem seus afluentes ou o próprio rio é bloqueado por barragens hidrelétricas?
Olha lá o nosso “mais”! Perceba que ele cumpre exatamente os três requisitos para ser classificado como adjunto adverbial de tempo: a) pode ser substituído por outra expressão temporal; b) vem combinado com o vocábulo “não”; c) indica tempo passado.
Por isso, o item II também está correto.
III. A expressão “à medida que” pode ser substituída, sem prejuízo de sentido, por “na medida em que”.
Apesar de parecidas, as expressões “à medida que” e “na medida em que” são parônimas e têm significados bem diferentes, como você pode ver na tabela abaixo:
| Expressão | Significado | Sinônimos | Exemplo |
|---|---|---|---|
| À medida que | Indica proporcionalidade ou progressão. | Sinônimo de “na proporção que” | À medida que o tempo passa, as pessoas amadurecem. |
| Na medida em que | Indica causa ou explicação. | Sinônimo de “porque” | Na medida em que estudou bastante, ele foi aprovado com facilidade. |
Logo, o item III está incorreto!
Referência
- A Gramática para Concursos Públicos, Fernando Pestana, página 274.
