Prova de português da FGV. Esse é um dos maiores medos de muitos concurseiros — e com razão. Conhecida por exigir leitura atenta, domínio das relações de sentido e sensibilidade linguística, a banca costuma elaborar questões que desafiam até os mais experientes.
Para ajudar os candidatos a compreenderem melhor o estilo da FGV, conversamos com o professor Wanderson Melo, primeiro colocado para o cargo de Consultor de Redação e Discurso Parlamentar no último concurso da Câmara dos Deputados. Com base em sua experiência, ele explica as marcas da banca, aponta pegadinhas frequentes e indica os melhores caminhos para estudar com estratégia.
Características das provas de português da FGV
Clube do Português: Qual é, na sua opinião, a principal marca registrada do estilo da FGV nas provas de português, aquilo que diferencia essa banca de outras como a Cespe/Cebraspe ou a FCC?
Wanderson Melo: A FGV tem dois grandes focos em suas provas: interpretação de texto (e tudo aquilo que envolve esse tópico) e emprego de classes de palavras.
A FCC cobra interpretação de texto de forma mais rasa e exige muito conhecimento de concordância e pontuação. O Cebraspe, por sua vez, exige análise de texto, mas requer muito o estudo das funções sintáticas.
Interpretação de texto nas provas da FGV
Clube do Português: Como você orienta os alunos a estudarem interpretação de texto para a FGV, considerando que muitos candidatos reclamam da linguagem “filosófica/densa” dos textos dessa banca?
Wanderson Melo: Percebo que a FGV, nos últimos anos, tem saído da subjetividade em questões de interpretação de texto e tem formulado melhor suas questões. Nesse sentido, recomendo domínio das tipologias textuais, noção das estratégias e das falácias argumentativas e, por fim, compreensão das relações de sentido entre as partes do texto.
Além disso, recomendo fortemente a resolução de muitas questões. É muito importante saber aspectos teóricos, mas é fundamental treinar a abordagem da banca.
Referências bibliográficas para provas da FGV
Clube do Português: Quais gramáticas, manuais ou materiais você considera adequados para quem deseja estudar português para FGV?
Wanderson Melo: Para interpretação de texto, Comunicação em Prosa Moderna, do Othon Garcia, e Lições de Texto, do Platão e Fiorin. Recomendo também a gramática do Celso Cunha e Cintra.
Pegadinhas comuns nas provas de português da FGV
Clube do Português: Você pode apontar 2 ou 3 “pegadinhas frequentes” da FGV em questões de gramática (pontuação, crase, concordância, regência etc.), e dar exemplos de como evitá-las?
Wanderson Melo: Cito dois que têm sido cobrados de maneira recorrente: uso do gerúndio e ordem direta do período. Em relação ao primeiro assunto, sabe-se que o gerúndio pode expressar ação concomitante em relação a outro verbo e, ainda, ação anterior em relação a outro verbo.
No entanto, de acordo com as últimas questões sobre o tema, a banca tem considerado correto apenas o gerúndio que expressa ação concomitante.
Quanto à ordem direta, a dica importante é que, além de o candidato ter de observar a posição do sujeito, seguida do verbo, do complemento e do adjunto adverbial, ele tem de verificar se há termo expletivo.
A banca examinadora, em questões, tem indicado que o uso de “é” e “que” entre esses termos da oração sinaliza ordem indireta. Então, por exemplo, em “O jovem falou a verdade”, há ordem direta. Agora, para a FGV, em “Foi o jovem que falou a verdade”, não há essa ordem.