Crianças com síndrome de down (SD) podem aprender a ler e escrever. Isso é inquestionável. Mas esse processo deve acontecer no tempo de cada criança. E é este o maior cuidado que se deve ter na fase de sua alfabetização.

Pessoas com down podem ter problemas com audição, habilidades de memória e resolução de problemas, na noção de imagem corporal, de coordenação motora, atenção e orientação espacial e temporal. O próprio Movimento Down reconhece que a criança SD possui algum nível de dificuldade cognitiva, leve, moderada ou severa. Nesse sentido, a melhor forma de começar a alfabetização é identificando suas reais necessidades.

Após uma avaliação individual, o processo exigirá estímulos diários para que as intervenções criem consciência fonológica, trabalhando a vinculação de sons e letras, ensinando os fonemas.

As crianças com down podem ser estimuladas por questões visuais, por meio da combinação de imagens com contação de histórias, músicas, leitura e brincadeiras. O próprio enriquecimento do vocabulário da criança deve acontecer de forma simples, basicamente em conversas, com o cuidado de articular bem e repetir as palavras.

Assertividade e ativação da capacidade motora

Uma questão muito relevante no processo pedagógico dessas crianças é focar no acerto, sendo direto e objetivo. Especialistas afirmam que crianças SD não elaboram pensamento complexos baseados na tentativa e erro. Assim, ser assertivo, dizer exatamente o que deve ser feito, como deve ser feito, é sempre o melhor caminho. Se for necessário, o melhor primeiro é fazer junto com a criança e só depois deixá-la fazer sozinha.

O ideal é que as intervenções psicopedagógicas sejam acompanhadas por uma equipe multidisciplinar. Até porque outra característica especial precisa ser muito bem trabalhada: a criança SD é portadora de hipotonia, ou seja, seus ligamentos costumam ser mais frouxos, falta-lhe força nas mãos. Isso exige maior atenção de todos, não só para preparar a criança para escrever, mas também para tarefas do dia a dia, como vestir-se sozinha.

Alguns exercícios podem ajudar nessa jornada, antes mesmo de iniciar a alfabetização propriamente dita:

  • passar os dedos por cima de letras grandes escritas em lixas ou na areia (e caminhar sobre elas);
  • desenhar e fazer linhas e círculos com esponjas e pincéis em superfícies em diversas inclinações;
  • trabalhar a coordenação motora fina colocando contas num fio;
  • colar adesivos em lugares definidos;
  • desenvolver a força muscular dos ombros e braços com exercícios de equilíbrio;
  • brincar com Lego;
  • construir figuras com areia molhada.

Desenvolvimento da escrita – desafios e adpatações

É comum, de início, a criança apoiar a outra mão, o queixo ou a bochecha para firmar o lápis. Vale a pena permitir essa posição pois, com o tempo, ela vai encontrando uma postura mais adequada. Seja como for, o assento precisa estar numa altura adequada em relação à mesa e os pés devem alcançar o chão com firmeza – nesses aspectos, as antigas carteiras inclinadas são melhores do que uma mesa plana.

Quando a criança já estiver começando a escrever, vale propor a ela desenhar linhas em labirintos impressos no papel ou até a escrever no ar. É possível ainda pedir para que escreva mais rápido a mão livre, sem se importar com a qualidade da letra e elogiando seu empenho. Computador, tablet, lousa e papéis pautados ou quadriculados também podem ser bem aplicados.

O quadro branco, usado com pincéis atômicos, por exemplo, são mais fáceis para escrever, bem como lápis e canetas mais grossos, especialmente os triangulares, que são mais anatômicos. Se eles não estiverem à disposição, dá para deixar o lápis ou caneta mais “gordinhos” enrolando um elástico ou esparadrapo próximo à ponta.

Por fim, vale lembrar o quão fundamentais são os movimentos para aprender a escrever. Mostre a posição correta de segurar e manusear o lápis ou caneta sentando-se ao lado do aluno. A partir do momento que ele aprende o movimento da escrita, vai desenvolver gradualmente a fluência e a legibilidade. Basta ter paciência e ajudá-lo colocando a mão sobre a mão dele, reduzindo aos poucos a orientação até que ele fique confiante.

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