A alfabetização é um desafio de toda criança, mas, sobretudo, é um direito de cada uma delas. Para os diferentes meninos e meninas portadores de paralisia cerebral (PC), o processo ensino-aprendizado também é possível e desejável. Para que tenha sucesso, além de muito respeito às diferenças, só é necessário formular estratégias específicas e disponibilizar recursos adequados.

Assim, reforçam os especialistas, é possível propiciar condições para que o aluno com PC tenha acesso à escrita, por meio de experiências significativas, tornando-o capaz não só de ler e escrever, mas de transcender para o letramento.

A mediação bem-feita desse processo é fundamental para o sucesso dele. As poucas pesquisas realizadas com foco especial na alfabetização de crianças com paralisia cerebral indicam como melhor caminho sempre contar com uma parceria entre a família e a escola, devendo esta ser representada por um grupo de docentes: um professor titular, um professor assistente e outro de Atendimento Educacional Especializado (AEE).

Perfil funcional

A partir do levantamento do perfil funcional da criança, a escola pode encontrar a melhor forma de abordagem do ensino. Com conhecimento sobre as questões neurocientíficas – em especial as de estímulo ao desenvolvimento da plasticidade cerebral – a aprendizagem fônica deve ser mediada, para que o aluno obtenha consciência dos sons e faça a identificação cognitiva das palavras.

Em sala de aula, algumas atividades devem atender diretamente às necessidades motoras dos alunos. No entanto, muito mais relevante do que isso é estabelecer um programa que aplique atividades elaboradas a partir de desafios cognitivos. Pedir ao aluno que fique traçando desenhos pontilhados pode até ajudá-lo a melhorar a grafia, mas não dá à criança qualquer capacidade de compreensão dos textos ali escritos.

É preciso garantir também que o professor não vá simplesmente antecipar a informação ao aluno, durante suas intervenções concretizadas, nem preencher por si as atividades. Se quiser estimular a autonomia e a independência da criança, deve disponibilizar espaços suficientes na folha conforme a necessidade motora dela e dar orientações didáticas adequadas à atividade proposta e ao nível de aprendizagem do aluno.

Perguntas mediadas são aquelas que tenham intencionalidade, que buscam uma reciprocidade com a criança e a ajude a criar hipóteses e significados.

Ferramentas úteis para crianças com paralisia cerebral

Um aluno com paralisia cerebral tem muitas especificidades físicas que devem ser levadas em conta, desde a posição do corpo que lhe seja confortável até os aspectos visuais e de empunhadura (do lápis ou de outro objeto).

Se houver condições de introduzir equipamentos tecnológicos, o teclado colmeia é ótimo para pessoas com baixa visão e dificuldades motoras. Ao lado de uma órtese tubular, que funciona como uma extensora de punho e dedos para clicar ou segurar objetos, o teclado dá mais firmeza na escrita. Pode-se pensar ainda em acionadores de tecnologia assistiva, como softwares, que permitem a criação de pranchas de comunicação alternativa e apps que possibilitam a comunicação alternativa.

Se o trabalho for feito em folhas de papel mesmo, deve-se ter atenção redobrada aos desenhos usados nas atividades. Eles são bons aportes visuais para formar a relação com o som. Mas, se a imagem utilizada for ruim ou representar algo que não tenha nada a ver com o contexto da criança, só trará mais dificuldades. Por isso, recomendam-se usar ao máximo imagens reais, preferencialmente coloridas, de coisas bem cotidianas.

Se o aluno tem muita limitação motora, o professor pode também trabalhar como escriba, usando um silabário ou um conjunto de alfabeto móvel, que tem as letras de madeira, papel ou até de tampinhas de garrafa PET.

Especialistas recomendam ainda que cada folha oferecida à criança seja ocupada por uma única atividade. Assim, o exercício num A4, com letra Arial negrito maiúscula tamanho 26 (de preferência), espaçamento 1,5 ou 2 entre letras, palavras e linhas, impede que o aluno se frustre ou se canse tentando escrever em espaços diminutos.

Se bem orientado, ele pode alternativamente colar nos espaços as letras ou palavras oferecidas a ele, sem prejuízo do aprendizado.

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Gostou do artigo? Então, vale a pena aprofundar seus conhecimentos com o Guia da Alfabetização.