Análise sintática: questão casca grossa do IBFC

Análise sintática é um assunto com muitas nuances. Por isso, é preciso se preparar bem para poder lidar bem com questões sobre esse tópico. Na caso específico do IBFC, a banca costuma cobrar diferentes funções sintáticas dentro de uma mesma questão. Isso exige concentração e estratégia por parte do canditato para não se perder em várias alternativas.

Neste artigo, vamos resolver uma questão bem completa da banca, o que vai nos pertir fazer uma revisão geral de vários pontos ligados à sintaxe. Preparado? Vamos lá!

Análise sintática: análise de questão da banca IBFC.

Questão do IBFC sobre análise sintática

IBFC – 2017 – TJ-PE – Analista Judiciário – Função Administrativa

Considere o fragmento abaixo para responder a questão.

 A conclusão óbvia é que uma língua não é como nos ensinaram: clara e relacionada diretamente a um fato ou situação que ela representa como um espelho.” (3º§)

Sabendo tratar-se de um período composto, estrutura mais complexa na língua, analise as afirmações abaixo.

I. A segunda oração é “que uma língua não é clara e relacionada diretamente a um fato ou situação” e exerce a função sintática de predicativo.

II. Ocorrem, no período, duas orações subordinadas adverbiais de valores semânticos distintos.

III. O trecho “a um fato ou situação” exemplifica termos coordenados entre si.

IV. A primeira oração classifica-se como subordinada substantiva subjetiva.

Assinale a alternativa que apresenta apenas as afirmativas incorretas.

a) I e II, apenas
b) II e IV, apenas
c) III, apenas
d) I e III, apenas
e) IV, apenas

Resolução da questão sobre análise sintática

Vamos agora resolver a questão por partes, analisando cada um dos itens.

I. A segunda oração é “que uma língua não é clara e relacionada diretamente a um fato ou situação” e exerce a função sintática de predicativo.

Para entender a função sintática dessa oração subordinada, precisamos recuperar a oração principal:

  • A conclusão óbvia é que uma língua não é clara e relacionada diretamente a um fato ou situação a um fato ou situação

Perceba que podemos trocar a oração iniciada por “que” por “isso” (“A conclusão óbvia é isso”). Quando essa troca é possível, então “que” exerce a função de conjunção integrante. E toda conjunção integrante introduz uma oração subordinada substantiva.

Agora para descobrir a função sintática da oração, basta analisar a função de “isso”. Nesse sentido, note que “isso” está ligado ao sujeito “a conclusão” pelo verbo de ligação “é”. Logo, exerce a função de predicativo do sujeito.

Dessa forma, acabamos de verificar que o item I está correto. Passemos para o próximo item.

II. Ocorrem, no período, duas orações subordinadas adverbiais de valores semânticos distintos.

Para encontrar as orações subordinadas adverbiais, precisamos mapear as conjunções. Vejamos:

  • A conclusão óbvia é que uma língua não é como nos ensinaram: clara e relacionada diretamente a um fato ou situação que ela representa como um espelho.

Sempre que pudermos trocar a palavra “como” por “conforme”, estaremos diante de uma oração subordinada adverbial conformativa. É exatamente o que ocorre no primeiro caso:

  • uma língua não é como nos ensinaram. = uma língua não é conforme nos ensinaram.

Já quando “como” puder ser trocado por “assim como”, teremos uma oração subordinada comparativa. Mas peraí, professor, cadê o verbo da segunda oração? Calma que eu vou explicar!

Como bem explica Fernando Pestana, em A Gramática para Concursos Públicos, a conjunção desempenha apenas dois papeis:

  1. Ligar termos de mesma função sintática;
  2. Ligar orações.

Dito isso, vamos analisar a situação mais detalhadamente. Primeiramente, vamos substituir o pronome relativo “que” pelo seu antecendente e também o pronome oblíquo “ela” pela termo que ele retoma:

  • Uma língua representa um fato como representa um espelho.

Nesse contexto, “um fato” exerce a função sintática de objeto direto do verbo “representar”. Já “um espelho” não pode exercer esse mesmo papel, porque a frase ficaria incoerente. Afinal, não há como uma língua representar um espelho.

Nesse contexto, a conjunção “como” só pode estar ligando duas orações. Logo, acabamos de descobrir que há um verbo implícito, porque toda oração deve ter um verbo. Assim, “um espelho” é sujeito do verbo oculto “representar”:

  • Uma língua representa um fato como representa um espelho (representa).

Dessa forma, o item II também está correto: temos duas orações adverbiais com valores semânticos distintos – uma é conformativa e a outra comparativa. Ufa! Vamos agora para o próximo item!

III. O trecho “a um fato ou situação” exemplifica termos coordenados entre si.

Como mostramos acima, quando uma conjunção não liga duas orações, ela liga dois termos com a mesma função sintática. É exatamente o que ocorre nesse caso. A conjunção coordenativa aditiva “ou” está conectando o termos “fato” e “situação”. Ambos exercem a função de complemento nominal do adjetivo “relacionada”.

Desa forma, o item III também está correto! Vamos para o último item.

IV. A primeira oração classifica-se como subordinada substantiva subjetiva.

De forma alguma! A primeira oração, por não se iniciar por um conectivo, exerce o papel de oração principal. Tranquilo essa, né?

Nesse sentido, o item IV está errado. Por isso, a resposta da questão é a letra D, pois apenas o item IV está incorreto.

Questão pesada de análise sintática do IBFC, mas que recompensa aqueles que estão estudando de forma dedicada!

Referência

A Gramática para Concursos Públicos, Fernando Pestana.

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