Clarice Lispector foi uma escritora, jornalista e tradutora da segunda metade do século XX. Consagrou-se como uma das escritoras brasileiras mais influentes da terceira fase do modernismo, fase da “Geração de 45”, sendo o nome mais importante da prosa brasileira de sua época, ao lado de Guimarães Rosa.

Vida pessoal e profissional

Clarice Lispector nasceu dia 10 de dezembro de 1920, em Tchetchelnik, na Ucrânia. Meses após o seu nascimento, sua família fugiu da perseguição aos judeus, indo para a Moldávia e Romênia. Em 1922, mudam-se para o Brasil, mais especificamente para a cidade de Maceió, onde estavam alguns parentes.

O nome de batismo de Clarice é Haia (Vida) e, assim como todos de sua família, teve o nome abrasileirado ao chegar aqui. Em 1925, sua família se mudou para Recife, onde viveu a maior parte da sua infância.

Sua mãe Marieta, que sofria de paralisia, faleceu em 1930. Nessa época, com apenas sete anos de idade, Clarice escreveu sua primeira peça de teatro, Pobre menina rica, assim como outros textos curtos que tentou publicar na seção infantil que saía às quintas-feiras num diário recifense. Porém, seus textos nunca foram aceitos.

Mudou-se para o Rio de Janeiro no início da adolescência, em 1935. Três anos depois, ingressou no Curso Complementar do Colégio Andrews, em Botafogo, e começou a trabalhar como professora particular de Português e Matemática. Em 1938, foi aprovada em quarto lugar no vestibular da Faculdade Nacional de Direito e passou a trabalhar como secretária de um escritório de advocacia.

Dois anos depois, seu pai veio a falecer após uma cirurgia de vesícula. Nessa mesma época, Clarice trabalhava como repórter na Agência Nacional, do Departamento de Imprensa e Propaganda. Em fevereiro de 1942, foi transferida para a redação do jornal A Noite, extensão da Agência Nacional.

Após mais de dez anos de tentativas, finalmente conseguiu se naturalizar brasileira em janeiro de 1943. Nesse mesmo mês, casou-se com o diplomata Maury Gurgel Valente, que conheceu na faculdade de Direito, e publicou seu primeiro livro, Perto do coração selvagem, escolhido romance do ano pela Fundação Graça Aranha.

Devido à profissão do marido, foi morar em Nápoles, Itália. Em 1946, lançou seu segundo livro, O lustre, em uma temporada carioca. No mesmo ano, mudou-se para Berna, Suíça, com o marido, onde nasceu seu primeiro filho, Pedro Gurgel Valente, dois anos depois.

Clarice retornou para o Brasil em 1949 e lançou seu terceiro livro, A cidade sitiada. Entre maio e setembro de 1952, escreveu para a página Entre Mulheres no jornal Comício, do Rio de Janeiro, sob o pseudônimo de Tereza Quadros. No mesmo ano, lançou Alguns contos, seu primeiro livro de contos, e mudou-se para Washington, EUA, onde deu à luz ao segundo filho, Paulo Gurgel Valente, em 1953.

Mas as constantes viagens do marido abalaram o casamento de Clarice, que não quis abrir mão da carreira para acompanhá-lo. Além disso, o filho mais velho do casal sofria com esquizofrenia, o que também dificultava as viagens. Portanto, em 1959 Clarice separou-se do marido e voltou para o Rio de Janeiro para viver com os filhos.

Desde então, dedicou-se a escrever cada vez mais e recebeu mais alguns prêmios importantes: 

– o romance A maçã no escuro foi ganhador do prêmio Carmen Dolores Barbosa de melhor livro do ano, em 1961;

–  o seu primeiro livro infantil, O mistério do coelho pensante, foi eleito o melhor livro infantil do ano de 1967 pela Campanha Nacional da Criança;

– o famoso romance Uma aprendizagem ou o Livro dos prazeres veio em 1969 e foi ganhador do prêmio Golfinho de Ouro do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro;

– em 1976, recebeu prêmio pelo conjunto da obra da Fundação Cultural do Distrito Federal.

Como também falava fluentemente diversos idiomas, Clarice dedicou-se intensamente à tradução para o português de obras de grandes escritores, tais como Jorge Luis Borges, Garcia Lorca, Jack London, Júlio Verne, Agatha Christie e Edgar Allan Poe.

Faleceu por conta de um câncer de ovário, no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes de seu aniversário de 57 anos.

Características principais da literatura de Clarice Lispector

Clarice Lispector é o principal nome de uma tendência intimista da moderna literatura brasileira. Como principais características de suas obras, temos:

– romance introspectivo: o questionamento do ser, o “estar-no-mundo”, o intimismo e a pesquisa do ser humano como eixos principais;

– aposta na ambiguidade e num jogo de antíteses marcado pelo eu e pelo não-eu, o ser e o não ser;

– preocupação com a revalorização das palavras, explorando os limites do significado;

– uso de metáforas e aliterações;

– preocupação muito grande com o que está nas entrelinhas.

Essa literatura introspectiva de Clarice tornou-se uma tendência na prosa moderna brasileira, afastando-se mais do social, do retrato da sociedade em crise, para a crise do próprio indivíduo.

Lista de obras

Romances:

1943 – Perto do Coração Selvagem 

1946 – O Lustre 

1949 – A Cidade Sitiada 

1961 – A Maçã no Escuro 

1964 – A Paixão segundo G.H. 

1969 – Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres 

1973 – Água Viva

1978 – Um Sopro de Vida

1977 – A Hora da Estrela

Contos:

1952 – Alguns contos

1960 – Laços de Família

1964 – A Legião Estrangeira

1971 – Felicidade Clandestina

1973 – A Imitação da Rosa

1974 – Onde Estivestes de Noite

1974 – A Via Crucis do Corpo

1977 – O Ovo e a Galinha

1979 – A Bela e a Fera

Literatura infantil:

1967 – O Mistério do Coelho Pensante

1968 – A Mulher que Matou os Peixes

1974 – A Vida Íntima de Laura

1978 – Quase de Verdade

1987 – Como Nasceram as Estrelas

Crônicas:

1978 – Para Não Esquecer

1984 – A Descoberta do Mundo

Correspondências:

2002 – Correspondências

2007 – Minhas Queridas

Entrevistas:

2007 – Entrevistas

Artigos de jornais:

2005 – Outros Escritos

2006 – Correio Feminino

2006 – Só para Mulheres

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