O processo de formação de palavras da língua portuguesa ocorre, em geral, por:
- Composição (justaposição e aglutinação);
- Derivação (prefixal, sufixal, parissintética, regressiva e imprópria);
- Outros processos (hibridismo, abreviação, reduplicação, intensificação, siglagem, neologismo, combinação, aportuguesamento e lexia).
Neste artigo, vamos detalhar cada um desses conceitos. Vejamos.
Conceitos iniciais sobre formação de palavras
Antes de avançarmos, é importe relembrar alguns conceitos que vão facilitar o entendimento da formação de novas palavra: palavras primitivas, palavras derivadas, palavras simples e palavras compostas.
Primitivas x Derivadas
Os termos primitivos são aqueles que dão origem a outros. Já as palavras derivadas são aquelas que surgem das primitivas.
- Valor (primitiva) – Valorização (derivada);
- Chapéu (primitiva) – Chapelaria (derivada);
- Casa (primitiva) – Caseiro (derivada).
Simples x Compostas
As palavra simples são aquelas que têm apenas um radical. Já as compostas são as formadas por mais de um radical.
- Couve (simples) – Couve-flor (composta);
- Chapéu (simples) – Chapéu-coco (composta);
- Plano (simples) – Planalto (composta).
Agora que alinhamos esses conceitos iniciais, vamos mergulhar nos processos de formação de palavras.
Composição
O processo de composição é aquele que envolve a formação de palavras com mais de um radical. Ele se divide em dois grupos: justaposição e aglutinação.
Justaposição
Na justaposição, os termos são colocados lado a lado, isto é, são justapostos. Nesse processo, os radicais das palavras não sofrem alteração e mantêm sua grafia original.
Vejamos alguns exemplos:
- Guarda-roupa;
- Surdo-mudo;
- Segunda-feira;
- Beija-flor;
- Carga-horária.
Segundo o gramático Celso Cunha, em uma palavra composta, distingue-se o elemento determinado, que traz a ideia geral, do determinante, que contém a noção particular.
Por exemplo, no vocábulo “escola-modelo”, o termo “escola” é o determinante (geral) e “modelo” é o determinado (específico).
Aglutinação
Na formação por aglutinação, há alteração dos termos combinados. Eles são fundidos e há a perda de alguns fonemas. Nesse sentido, os termos formadores podem perder sua identidade ortográfica e fonológica.
Vejamos alguns exemplos:
- Planalto (plano + alto);
- Vinagre (vinha + acre);
- Aguardente (água + ardente);
- Pernalta (perna + alta);
- Embora (em + boa + hora).
Derivação
No processo de derivação, a uma radical são adicionados afixos (sufixos e prefixos). Dessa junção, nasce uma nova palavra.
Existem cinco tipos de derivação: prefixal, sufixal, parassintética, regressiva e imprópria.
Derivação prefixal
Nesse processo, acrescenta-se um prefixo a uma palavra já existente.
- Desnecessário (des- + necessário);
- Autoescola (auto- + escola);
- Refazer (re- + fazer);
- Infeliz (in- + feliz);
- antemão (ante- + mão).
Derivação sufixal
Nesse processo, acrescenta-se um sufixo a uma palavra já existente.
- Veleiro (vela + -eiro);
- Rapidamente (rápido + -mente);
- Menininho (menino + -inho);
- Lealdade (leal + -dade);
- Atuação (atuar + -ção).
Derivação parassintética
No processo de derivação parassintética, temos o acréscimo de prefixo e sufixo ao mesmo tempo.
- Entardecer (en- + tarde + -cer);
- Emagrecer (e- + magro + -cer);
- Esquentar (es- + quente + -ar);
- Ensolarado (en- + solar + -ado);
- Engaiolar (en- + gaiola + -ar).
Na derivação parassintética, como destaca a professora Flávia Rita, a junção dos afixos é simultânea e dependente. Isso quer dizer que, sem o prefixo ou o sufixo, não há um novo termo.
ex: Entardecer: Entarde (só prefixo – palavra que não existe), Tardecer (só sufixo – palavra que não existe).
Veja que, para que a palavra derivada tenha sentido, é necessário acrescentar prefixo e sufixo no mesmo momento.
Veja mais no vídeo abaixo:
Derivação regressiva
A derivação regressiva é aquela que forma substantivos abstratos a partir de um verbo – os chamados deverbais. Nesse processo, há a retirada de uma ou mais letras.
- Caça – Caçar;
- Beijo – Beijar;
- Debate – Debater’;
- Perda – Perder;
- Crítica – Criticar.
Derivação imprópria
A derivação imprópria é um processo de formação de palavras que consiste na mudança da classe gramatical de determinado termo. Ela também é conhecida como conversão.
- O jantar de ontem não estava tão bom. (verbo “jantar” funciona como substantivo – em lugar de “janta”.)
- Independente de quem vier, é importante estarmos preparados. (adjetivo “independente” funciona como advérbio modo – em lugar de “independentemente”.)
- O belo é um conceito subjetivo. (adjetivo “belo” funciona como substantivo – em lugar de “beleza”.)
- Maria é uma pessoa muito cabeça. (substantivo “cabeça” funciona como adjetivo – no lugar de “inteligente”).
Veja mais no vídeo abaixo:
Outros processos de formação de palavras
Há ainda outros processos que podem dar origem a novas palavras, como o hibridismo, a abreviação, a reduplicação, a intensificação, a siglagem, o neologismo, a combinação e o aportuguesamento.
Hibridismo
No hibridismo, ocorre a junção de radicais de línguas distintas.
- Automóvel (grego “auto” + latim “mobĭlis”);
- Monóculo (grego “mono” + latim “oculus”);
- Televisão (grego “tele” + latim “visĭo”).
Abreviação
O processo de abreviação, também chamado de redução, consiste em reduzir uma palavra até o limite de sua compreensão.
- Moto – Motocicleta;
- Segunda – Segunda-feira;
- Foto – Fotografia.
Reduplicação
A reduplicação é o processo de formação de palavras que dá origem a expressões imitativas ou onomatopeicas.
- Reco–reco;
- Bombom;
- Quero-quero.
Intensificação
A intensificação consiste em alargar o sufixo de um termo já existente. Na maioria das vezes, isso ocorre pelo uso do sufixo -izar.
- Inicializar – Iniciar;
- Culpabilizar – Culpar;
- Obstaculizar – Obstar.
Siglagem
O processo de siglagem consiste, em geral, na representação de um nome pelas letras iniciais das palavras que o compõem, dando origem a uma sigla.
- ONU – Organização das Nações Unidas;
- UF – Unidade Federativa;
- CNI – Confederação Nacional da Indústria.
Nesse contexto, vale lembrar a regra para escrita de siglas:
- Se tiver até três letras, a sigla deve ser grafada toda em letra maiúscula (ex: FGV – Fundação Getúlio Vargas);
- Se tiver mais de três letra, mas não for pronunciável, a sigla também deve ser grafada só com letras maiúsculas (ex: BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento);
- Se tiver mais de três letras e for pronunciáve, apenas a primeira letra da sigla deve ser maiúscula (ex: Anatel – Agência Nacional de Telecomunicações).
Neologismo
O neologismo é um processo de formação de palavras que consiste na invenção de novos termos para suprir uma lacuna de signifcação.
- Comível – Comer;
- Internetês – Internet;
- Chipar – Chip.
Combinação
A combinação é um tipo de neologismo que consiste na junção de partes de duas ou mais palavras.
- Portunhol – Português + Espanhol;
- Showmício – Show + Comício;
- Aborrecente – Aborrecer + Adolescente.
Aportuguesamento
O aportuguesamento é a adaptação gráfica, morfológica e/ou fonológica de um estrangeirismo à estrutura da língua portuguesa.
- Tíquete – Ticket;
- Estresse – Stress;
- Abajur – Abat-jour.
Lexia
De acordo com o gramático Celso Cunha, a lexia é um tipo especial de composição, que forma sintagmas por meio da união de dois ou mais elementos:
- Negócio da China;
- Mão de vaca;
- Pai de família.
Ligação de elementos mórficos na formação de palavras
O gramático Evanildo Bechara lista três fenômenos de ligação de elementos mórficos que ocorrem na formação de palavras. Vejamos cada um deles em detalhes:
- Haplologia ou braquilogia: simplificação para evitar reduplicações de sílabas: caridade + oso → caridoso (por caridadoso)
- Fusão: origem de ditongos ou crase: canal + s → canale + s → canaes (três sílabas) → canais (duas sílabas, pela origem do ditongo)
- Supressão: divide-se em três casos:
- supressão de segmento medial pertencente a qualquer das bases: petrodólar.
- supressão de elemento final: narcótico → narcotizar; prioridade → priorizar.
- supressão de elemento final por cruzamento de bases: motel (motor + hotel).
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