Humanismo na literatura: o que é, características e questões comentadas

O Humanismo na literatura foi o movimento de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna. Melhor dizendo, foi a transição entre o Trovadorismo e o Classicismo. 

O período valorizou a cultura greco-latina e os ideais que exaltavam o ser humano. Foi por intermédio das mudanças sociais e econômicas que a sociedade passou a pensar diferente e uma nova produção artística surgiu.

Se você deseja saber o que é Humanismo na literatura e suas principais características, continue a leitura deste artigo.

Humanismo na literatura: guia completo sobre esse movimento literário

O que é o Humanismo na literatura?

Em linhas gerais, o Humanismo na literatura foi um movimento que mudou a forma de pensar da sociedade. Em outras palavras, ele exaltou a racionalidade humana, uma vez que as pessoas na época não tinham acesso à informação e eram fortemenete influenciadas pelas igrejas, especialmente a Católica. 

Assim, surgido no final da Idade Média, na Itália, no século XIV, o Humanismo na literatura foi o ponto de partida para o Classicismo, durante o Renascimento

Contexto histórico do Humanismo na literatura

O Humanismo na literatura surgiu em um contexto histórico repleto de mudanças econômicas, sociais e políticas. Para se ter uma ideia, na época de seu surgimento, o feudalismo perdia espaço para o capitalismo, que se desenvolvia fortemente, criando uma nova classe social, a burguesia. 

Os burgueses, por sua vez, eram crias do sistema feudal. No entanto, o pensamento da classe foi se transformando de forma gradual. Assim, a mentalidade da submissão às ordens da igreja foi se quebrando e novas teorias foram aparecendo.

A partir do rompimento com a igreja pelas reformas religiosas, os pensadores passaram a priorizar a razão. Nesse sentido, a sociedade passou a ser vista como responsável por seus próprios atos, valorizando a cultura greco-romana.

Principais características do Humanismo na literatura

De maneira geral, o Humanismo apresenta três características principais:

CaracterísticaDescrição
AntropocentrismoEm contraste com o Trovadorismo, que pregava a incostestabilidade de Deus (teocentrismo), o Humanismo exalta o homem como centro do universo, valorizando um ideal de beleza e perfeição.
RacionalismoO humanismo questiona pressupostos tidos como divinas ou sobrenaturais e busca explicá-los por meio por meio do racicíonio lógico e da investigação empírica. Nas literatura, os autores buscam um equilíbrio entre razão e emoção.
CientificismoOs humanistas valorizam os experimentos e o método científico. Esse rigor técnico pode ser visto nos poemas e poesias da época, que primavam pela metrificação das rimas.
Características do Humanismo na Literatura

Produções literárias do Humanismo

O movimento humanista mesclava as produções medievais e modernas. Entre elas:

Poesia Palaciana

Originária das cantigas do Trovadorismo, a poesia palaciana dispunha de uma estrutura textual mais bem elaborada com:

  • ambiguidades;
  • redondilhas;
  • figuras de linguagem;
  • assonâncias;
  • sensualidade;
  • aliterações;
  • idealismo;
  • métrica;
  • ritmo;
  • expressividade.
  • valorização amor idealizado
  • idealização da figura feminina

Além disso, as poesias já não eram acompanhadas de música e eram recitadas para o entretenimento dos nobres, dentro dos palácios. Seus principais temas eram religiosos, líricos, satíricos e heroicos.

Veja um exemplo:

Senhora, partem tão tristes

meus olhos por vós, meu bem,

que nunca tão tristes vistes

outros nenhuns por ninguém.

Tão tristes, tão saudosos,

tão doentes da partida,

tão cansados, tão chorosos,

da morte mais desejosos

cem mil vezes que da vida.

Partem tão tristes os tristes,

tão fora d’esperar bem,

que nunca tão tristes vistes

outros nenhuns por ninguém.

João Ruiz de Castelo Branco, “Cancioneiro Geral”. In: S. Spina. Presença da Literatura Portuguesa. São Paulo, Difusão Europeia do Livro, 1969.

Prosa

A prosa do Humanismo na literatura era dividida em dois grupos: crônicas historiográficas e crônicas ficcionais.

A crônica historiográfica consiste em ordem temporal de eventos históricos. Suas principais características são:

  • fatos ocorridos no passado;
  • personagens, tempo e espaço bem definidos;
  • linguagem coloquial e leve;
  • acontecimentos narrados de forma detalhada;
  • ações bem dramatizadas;
  • compilação de fatos em ordem cronológica. 

Já a crônica ficcional, como o próprio nome sugere, é um texto de ficção que narra o cotidiano dos personagens. Em outras palavras, é uma narrativa na qual todos os elementos fazem parte da imaginação do autor. Suas principais características são:

  • textos curtos de fácil compreensão;
  • linguagem simples;
  • narrativas do cotidiano;
  • uso de poucos ou nenhum personagem;
  • humor crítico, sarcástico e irônico;
  • linguagem leve e coloquial;
  • linha cronológica bem estabelecida.

Teatro

Diferentemente da poesia e da prosa, no teatro humanista o objetivo era criticar e moralizar a sociedade. Assim, ele era dividido entre autos e farsas. 

Os autos tratavam-se de encenações que debatiam temáticas religiosas, como, por exemplo, a obra “Auto da Barba do Inferno”, de Gil Vicente. Acompanhe um trecho:

DIABO: Quem vem aí? Oh! Santo sapateiro honrado, como vens tão carregado!…

SAPATEIRO: Mandaram-me vir assim… (cheio de objetos (*) Os objetos que as personagens carregam representam os pecados que cometeram em vida.]

E para onde é a viagem?

DIABO: Para o lago dos danados.

SAPATEIRO: E os que morrem confessados, onde têm a sua passagem?

DIABO: Não digas tais linguagem! Esta é a tua barca, esta!

(…)

Tu morreste excomungado! Mesmo sem o saberes. O que esperavas depois de viver, Fazendo dois mil engano… Tu roubaste em trinta anos, O povo com a tua mestria. (com o teu ofício) Embarca, esta barca é para ti, que há já muito que te espero!

SAPATEIRO: Pois digo-te que não quero!

DIABO: Mas hás de ir, sim, sim!

SAPATEIRO: Quantas missas eu ouvi… Não me hão elas de agora prestar? (valer)

DIABO: Ouvir missa, depois roubar… É caminho para aqui.

SAPATEIRO: E as ofertas que servirão? (as esmolas) E as horas dos finados?

DIABO: E os dinheiros mal cobrados, que foi da tua satisfação?

Já as farsas consistiam em encenações curtas e populares, com base no cotidiano. Além disso, possuíam caráter cômico. Confira, a seguir, um trecho de “Farsa de Inês Pereira”, de Gil Vicente.

[…]

INÊS Renego deste lavrar

E do primeiro que o usou;

Ó diabo que o eu dou,

Que tão mau é d’aturar.

Oh Jesu! que enfadamento,

E que raiva, e que tormento,

Que cegueira, e que canseira!

Eu hei-de buscar maneira

D’algum outro aviamento.

VICENTE, Gil. Farsa de Inês Pereira.

A “Farsa de Inês Pereira” é uma encenação em forma de sátira que narra os costumes da vida doméstica. Ela referencia a mulher medieval como um ser ignorante.

Qual foi a principal obra da literatura do Humanismo?

A princpal obra do movimento humanista foi o poema épico Divina Comédia, no qual o poeta italiano Dante Alighieri narra em 1ª pessoa sua travessia do Inferno ao Paraíso, passando pelo Purgatório.

Cada uma dessas etapas configura uma partes da obra:

  • Parte I: Inferno;
  • Parte II: Purgatório;
  • Parte III: Paraíso.

Nessa jornada, Dante é guiado pela almo do poeta romano Virgílio (autor de três grandes obras da literatura latina, as Éclogas (ou Bucólicas), as Geórgicas, e a Eneida).

Ao chegar ao paraíso, o protagonista encontra sua querida Beatriz, que lutava pela salvação de seu amado.

O texto possui 100 cantos com aproximadamente 140 versos cada um. Os versos seguem o esquema de rimas alternadas e encadeadas (ABA BCB CDC). Nele Dante critica filósofos, políticos e religiosos da época.

Principais autores do Humanismo na literatura

Os principais autores do Humanismo na literatura, são:

  • Dante Alighieri (1265-1321);
  • Erasmo de Roterdã (1466-1536);
  • Francesco Petrarca (1304-1374);
  • François Rabelais (1494-1553);
  • Fernão Lopes (1385-1460);
  • Giovanni Boccaccio (1313-1375);
  • Gil Vicente (1465-1536);
  • Michel de Montaigne (1533-1592);
  • Thomas More (1478-1535).

Principais obras do Humanismo na literatura

As principais obras do Humanismo na literatura são:

  • A divina comédia – poema de Dante Alighieri;
  • Manual do Cavaleiro Cristão – livro de Erasmo de Roterdã;
  • Triunfos – poemas de Francesco Petrarca;
  • Gargantua e Pantagruel – livro de François Rabelais;
  • Crônica de el-rei D. João I – crônica de Fernão Lopes;
  • Decamerão – narrativa de Giovanni Boccaccio;
  • Auto da barca do inferno – teatro de Gil Vicente;
  • Os Ensaios – livro de Michel de Montaigne;
  • Utopia – narrativa de Thomas More.

Questões sobre Humanismo na literatura

Para fechar nosso artigo, vamos conferir duas questões inéditas (com gabarito comentado) sobre o movimento humanista na literatura.

Questão 1

Qual das opções abaixo representa duas características do Humanismo na literatura:

a) Gnosticismo e Cientificismo

b) Antropocentrismo e Falta de rigor com as métricas poéticas

c) Racionalismo e Cientificismo

d) Teocentrismo e Religiosidade

Reposta: Letra C. Como vimos no artigo, duas das caracterísitcas-chaves do Humanismo são o racionalismo e, como consequência dele, o cientificismo.

Vejamos os erros das outras alternativas. Na letra A, o Gnosticismo, movimento que pregava que a Terra foi criada por uma divindade imperfeita, não é uma das característica do movimento humanista, que não se pautava por fatores sobrenaturais.

Na letra B, a falta de rigor com as métricas poéticas também não é algo que carateriza o Humanismo. Muito pelo contrário, como derivação do cientificismo, havia uma valorização dessas questões técnicas.

Por fim, a letra D traz duas características do Trovadorismo, movimento que antecedeu o Humanista.

Questão 2

Analise o texto abaixo para responder a questão:

A selva escura – As feras – O espírito de Virgílio

Quando eu me encontrava na metade do caminho de nossa vida, me vi perdido em uma selva escura, e a minha vida não mais seguia o caminho certo. Ah, como é difícil descrevê-la! Aquela selva era tão selvagem, cruel, amarga, que a sua simples lembrança me traz de volta o medo. Creio que nem mesmo a morte poderia ser tão terrível. Mas, para que eu possa falar do bem que dali resultou, terei antes que falar de outras coisas, que do bem, passam longe.

Eu não sei como fui parar naquele lugar sombrio. Sonolento como eu estava, devo ter cochilado e por isso me afastei da via verdadeira. Mas, ao chegar ao pé de um monte onde começava a selva que se estendia vale abaixo, olhei para cima e vi aquela ladeira coberta com os primeiros raios do sol. A cena trouxe luz à minha vida, afastou de vez o medo e me deu novas esperanças. Decidi então subir aquele monte. Olhei para trás uma última vez, para aquela selva que nunca deixara uma alma viva escapar, descansei um pouco, e depois, iniciei a escalada.

Trecho da Divina Comédia de Dante Alighieri

O texto acima foi retirado da obra Divina Comédia, do escritor italiano Dante Alighieri. A referida obra faz parte do seguinte movimento literário:

a) Barroco

b) Humanismo

c) Modernismo

d) Trovadorismo

Resposta: Letra B. A Divina Comédia talvez seja a principal obra do movimento humanista. Ela foi escrita em formato de poema, com versos decassílabos, a terza rima (rigor com as métricas). Na peça, Dante Alighieri apresenta vários pontos que são comuns ao Humanismo, como a idelização da mulher e do amor e a busca pelo equilíbrio entre a razão e a religiosidade.”

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