A sociedade está sempre repleta de convenções que funcionam muito bem na maioria das vezes, mas que, em outros momentos, precisam ser adaptadas para lidar com características individuais. Isso é muito verdade quando a questão é ter ou não uma idade certa para aprender a ler e escrever. Afinal, temos aqui um padrão ou uma conveniência?

Oficialmente, o processo de alfabetização começa no primeiro ano do Ensino Fundamental, por volta dos 6 anos, e espera-se que os alunos saibam ler e escrever por volta de 8 a 9 anos de idade, já no terceiro ano. Existem escolas, contudo, que iniciam a alfabetização por volta dos 4 anos de idade – e com isso, com menos de 7 anos, essas crianças já estão alfabetizadas de fato.

Importante ressaltar que as pesquisas neurocientíficas indicam que o processo iniciado por uma criança de 6 anos de idade já apta às habilidades de leitura e escrita é concluído entre os 7 anos e meio e os 7 anos e 8 meses.

Evite comparações

Embora seja inegável que a alfabetização representa um marco no desenvolvimento de qualquer criança, é sempre essencial ressaltar que não é mais ou menos inteligente a criança que aprende a ler mais cedo ou mais tarde. É crucial ter em mente que cada uma tem o próprio momento e ritmo de desenvolvimento, mesmo sabendo que a criança com mais de dez anos de idade poderá enfrentar desafios adicionais para ser alfabetizada.

É comum nesse “jogo de mais ou menos” que pais e mães se apeguem a esses padrões e acabem se preocupando para além da conta com o desenvolvimento dos filhos. Quem nunca ouviu um papo entre mães comparando os pequenos com os colegas de classe da escola?

Comparar não ajuda em nada. Primeiro porque cada criança é um ser único. Em segundo lugar, e o que realmente importa para o real desenvolvimento, porque os meninos e as meninas devem ser sempre estimulados de forma natural.

Lembre-se de que as crianças podem começar a frequentar a escola bem antes dessa fase mais madura de alfabetização, e que essa etapa pode ser uma base sólida para o que se espera logo à frente (entre os 2 e 3 anos de idade, a criança pode ser estimulada com cores, sons, letras e outros itens de forma lúdica). Nesses anos iniciais da educação infantil, a criança pode explorar o mundo também através da música e da socialização com colegas e professores.

Estimular sem pressionar

Quando citamos o que esperar logo à frente, estamos falando não só sobre o processo de alfabetização em si, mas também sobre o de letramento, que deve acompanhar o primeiro e ser estimulado de diversas maneiras.

A principal delas é a brincadeira. A leitura – por que não? – também pode ser incentivada sob a forma de brincadeiras, de músicas e dos livros.

No entanto, é importante que isso seja encarado como um ato sem julgamento. Não é preciso alimentar falsas expectativas. O incentivo à criança deve acontecer sem pressão àquela que porventura não demonstrar interesse ou gosto pela leitura logo de cara.

Tampouco deve ser visto como sinal da capacidade intelectual da criança. Até porque ler um certo número de palavras não significa que o letramento foi alcançado. Não é incomum a criança ler tudo direitinho com boa fluência e, se questionada sobre o que entendeu do texto, responder com sinceridade: “não sei, eu só estava lendo”.

Mesmo que ler não seja só ter fluência, é importante destacar que o ritmo da leitura precisa ser conquistado por ser condição necessária para a compreensão do texto.

Como fazer isso?

Tudo pode começar dentro de casa. Os próprios pais podem criar momentos diários significativos de leitura e brincadeiras, para desmistificar a prática pelo exemplo. Ler junto com o filho e conversar sobre o que foi lido é uma das formas mais conhecidas de criar crianças interessadas na leitura.

Além disso, vale a pena lançar mão de jogos e brinquedos com letras, que servem para aguçar a curiosidade das crianças, pois permitem associar os nomes delas ou de pessoas próximas às letras do alfabeto.

Em casa também é fácil ensinar o alfabeto com ímãs das letras aplicados na porta da geladeira. No passeio na rua, o olhar mais atento às placas de trânsito também podem trazer repertório.

Nesse ambiente, a maioria dos erros devem ser vistos com naturalidade. Corrigi-los de forma apressada agora pode desestimular o aluno. Não é o que queremos.

Por isso, vale ficar atento a quaisquer sinais de dificuldades. Uma criança que expressa muita dificuldade de aprender com 6 ou 7 anos pode, no fundo, apresentar deficiência na visão ou audição. Descartadas essas hipóteses, talvez o problema tenha sido o desenvolvimento cognitivo de estimulação para a alfabetização dessa criança – os processos de consciência fonológica e discriminação auditiva são muito importantes e influenciam também nesse processo.

Enfim, o objetivo disso tudo é habilitar a criança ao uso efetivo e contextualizado da linguagem escrita, promovendo o desenvolvimento completo da linguagem.

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Gostou do artigo? Então, vale a pena aprofundar seus conhecimentos com o Guia da Alfabetização.