Memórias Póstumas de Brás Cubas: análise da obra de Machado de Assis

Escrita por Machado de Assis e publicada em 1881, “Memórias Póstumas de Brás Cubas” foi a primeira obra do movimento realista no Brasil. 

Escrita por Machado de Assis e publicada em 1881, “Memórias Póstumas de Brás Cubas” foi a primeira obra do movimento realista no Brasil. 

Dividida em 160 capítulos, a história é narrada pelo próprio protagonista, Brás Cubas, o qual relata suas diversas memórias, após a morte.

Em 2001, o livro foi adaptado ao cinema e considerado o melhor filme pelo Festival de Gramado. 

Memórias Póstumas de Brás Cubas: resumo e análise do livro de Machado de Assis

Personagens principais de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” 

Os personagens principais da obra “Memória Póstumas de Brás Cubas” são:

  • Brás Cubas: narrador-personagem, protagonista da história.
  • Virgília: amante de Brás Cubas e filha do conselheiro Dutra. 
  • Conselheiro Dutra: personagem que ocupa um cargo de político e é pai de Virgília.
  • Lobo Neves: também político e marido de Virgília.
  • Sabina: esposa de Cotrim e irmã de Brás Cubas.
  • Cotrim: marido de Sabina e também tio de Nhã-Loló.
  • Nhã-Loló: pretendente de Brás Cubas e sobrinha de Cotrim.
  • Luís Dutra: primo de Virgília.
  • Dona Plácida:  personagem-testemunha da relação entre Virgília e Brás Cubas e também a empregada Virgília. 
  • Quincas Borba:  amigo de infância de Brás Cubas que se tornou filósofo morador de rua. 
  • Marcela: mulher que se envolveu com Brás Cubas na juventude. 
  • D. Eusébia: amiga da família de Brás Cubas.
  • Eugênia: filha de D. Eusébia, conhecida por ser manca. 
  • Prudêncio: escravo de Brás Cubas.

Resumo de Memórias póstumas de Brás Cubas

A obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas” se inicia com a declaração da morte do personagem principal, Brás Cubas, que também narra a própria história. A causa de seu falecimento é a pneumonia, doença que Brás Cubas acreditava que seria curada com um medicamento chamado “emplasto”, o qual só existia em sua imaginação.

Assim, como a criação de tal remédio não foi possível, Brás Cubas começa o seu relato contando sobre a sua morte e, consequentemente, sobre o velório que reuniu onze amigos. Além desses onze, também apareceram nove ou dez pessoas, segundo ele.

O defunto-autor (ou autor-defunto), no entanto, não fala apenas sobre a experiência do seu enterro. Ele também descreve a sua vida por meio de um ponto de vista irônico e pessimista, tornando o enredo um tanto complexo. Ademais, também aborda temas comuns da sociedade, como a hipocrisia e a natureza humana. 

Brás Cubas fala sobre os eventos de sua infância, juventude e vida adulta e dá ênfase a sua relação com o seu escravo, negrinho Prudêncio, e com seu amigo da escola, Quincas Borba. Nessa narrativa, é possível notar o tom de superioridade do protagonista em comparação ao negrinho e também o triste fim de Borba, que se torna filósofo, porém vira mendigo. 

Um dos fatos relatados pelo narrador-personagem é o seu envolvimento com Marcela, uma mulher mais velha, por quem se apaixonou na juventude. Embora a relação tenha sido pautada por interesse, Cubas destaca que Marcela o amou durante meses. Esse relacionamento foi o responsável por sua mudança de país. O pai de Brás Cubas, preocupado, tomou a decisão de mandá-lo estudar fora. 

Relacionamento com Virgília

Assim, Cubas conta que foi para Coimbra, em Portugal e se formou em Direito. No entanto, ao retornar ao Brasil, relata que se apaixonou por Virgília, mas a moça se casou com Lobo Neves. Isso ocorreu devido ao status que o casamento traria a vida dela, por se tratar de um marido com cargo político e influente. 

Contudo, o defunto-autor destaca que o casal ainda se encontrava às escondidas em uma casa alugada para esses fins. E era Dona Plácida, empregada de Vigília, a pessoa que encobria todos os adultérios. 

Por fim, o narrador também entra para a política em busca de status, mesmo sabendo da mediocridade de seu trabalho. Afinal, ele percebe e narra ao leitor que as aparências era o que realmente importava. 

Estilo literário de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”

A obra machadiana inaugurou o realismo no Brasil e se manteve oposta ao romantismo, movimento que enaltece a vida burguesa. O realismo, por sua vez, tinha um olhar crítico e, no caso de Machado, irônico sobre a burguesia, o que fez com que a classe burguesa não apreciasse essa literatura. 

Além disso, o realismo no Brasil se iniciou em um contexto político de grande tensão entre conservadores e progressistas, resultando na Abolição da Escravatura, em 1888, e  na Proclamação da República, em 1889. 

Nesse contexto, Machado de Assis conseguiu, por intermédio de sua obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, relatar um pouco da decadência da burguesia do Rio de Janeiro, associada ao conservadorismo. 

Desta forma, o escritor ironizou os costumes da classe burguesa da época e ainda criticou toda a futilidade e hipocrisia dessas pessoas. 

Análise literária de Memórias Póstumas de Brás Cubas

O romance de Machado de Assis apresenta um narrador-personagem que relata a própria vida na posição de defunto-autor. Isso porque todos os fatos são contados após a sua morte. É possível notar que, na maioria dos capítulos, o narrador fala diretamente com o leitor, como se estivessem conversando. Esse recurso é chamado de “interlocução”. 

A obra é dividida em tempo cronológico e psicológico. O primeiro está relacionado com o desdobramento dos fatos na vida de Cubas e o segundo com as divagações e memórias do narrador-personagem.

Vale dizer que a história é ambientada no Rio de Janeiro, com alguns detalhes focados em Gamboa, bairro pertencente à cidade. Além disso, alguns momentos também se passam em Coimbra, quando o protagonista vai estudar fora do Brasil.  

O enredo é repleto de metáforas, eufemismo e ironias, tudo isso usado para retratar as críticas de Machado à classe burguesa da época. Ademais, é possível perceber que a estrutura da narrativa sobre mudanças em seu começo, meio e fim, marcando a nova fase literária. 

Quebra com a literatura tradicional

É importante mencionar que a obra foge totalmente ao que era considerado tradicional da literatura da época. Isso porque os leitores estavam acostumados com finais felizes e Cubas conclui a sua história com tudo que ocorreu de mais negativo em sua trajetória. 

Um ponto que merece destaque é o fato de o autor conseguir trabalhar os personagens da burguesia, porém inserir figuras consideradas de baixa classe, como Dona Plácida e a prostituta pela qual se apaixona. 

Ademais, o fato de o narrador estar morto e contando a sua história de outro plano o faz não ter discernimento algum quanto a moralidade. Em outras palavras, ele não se preocupa com o que vão pensar e usa e abusa das ironias. 

Informações-chaves de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”

Confira na tabela abaixo os principais pontos dessa obra de Machado de Assis:

Informações-chaves de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”
AutorMachado de Assis
Ano de publicação1881
Movimento literárioRealismo
Contexto históricoAscenção da burguesia carioca, urbanização, exôdo rural, Abolição da Escravatura e Proclamação da República
Onde se passa a históriaRio de Janeiro
Tipo de narrador (foco narrativo)Narrador-personagem
Características de linguagemInterlocução (conversa com o leitor), ironia, humor crítico e uso de eufemismos e metáforas
Tipo de enredoNão linear (divisão entre tempo cronológico e psicológico)

Adaptação no cinema de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”

A obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas” fez tanto sucesso que, no ano de 2001, ela foi adaptada para as telas de cinema. O longa-metragem foi baseado na obra de Machado e dirigido por André Klotzel.

Sua aceitação foi tanta que o filme levou 5 troféus no Festival de Gramado, sendo eles:

  • melhor filme;
  • melhor atriz coadjuvante – Sônia Braga;
  • melhor direção de arte;
  • melhor montagem;
  • melhor produção.

Sobre o autor Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839, no morro do Livramento, no Rio de Janeiro. De origem humilde, Machado perdeu a mãe muito cedo. Por isso, que o criou foi sua madrasta. 

Devido à sua falta de recursos, o autor estudou de forma autodidata, publicando com apenas 14 anos, o seu soneto intitulado de “À Ilma Sra. D.P.J.A”. Em 1956, Machado foi aprendiz de tipógrafo pela sua admiração por livraria e tipografia, e em 1858 se tornou revisor no Correio Mercantil.

No ano de 1860, ocupou o cargo de redator no Diário do Rio de Janeiro e passou a escrever para: “O espelho”, a “Semana Ilustrada” e o “Jornal das Famílias”. Assim, em 1864, publicou o seu primeiro livro de poesias, chamado “Crisálidas”. 

Machado de Assis também foi censor teatral em 1862. Em 1867, trabalhou como diretor de publicação do Diário Oficial. Já em 1869, o autor se casou com Carolina Augusta Xavier de Novais, quem lhe ajudava com a revisão dos livros. 

Em 1872 se tornou o primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. No entanto, continuou escrevendo folhetins que, aos poucos, se tornaram livros. O autor também fundou, em 1896, a Academia Brasileira de Letras, se tornando o presidente no ano seguinte à fundação. 

Em 1904, Machado perde a sua esposa e escreve o poema “A Carolina” em sua homenagem e em 1908, já debilitado pela epilepsia, escreve o seu último romance, intitulado de “Memorial de Aires”.

Principais obras

No dia 29 de setembro de 1908, Machado morre, vítima de câncer e deixa um legado de obras. As principais são:

  • Memórias Póstumas de Brás Cubas – 1881;
  • Quincas Borba –  1891;
  • Dom Casmurro – 1899;
  • Esaú e Jacó – 1904;
  • Memorial de Aires – 1908.

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