O texto narrativo tem como objetivo central contar uma história e apresenta os seguintes elementos: narrador, personagem, tempo, espaço e enredo. Gêneros como novelas, romances, contos, fábulas e algumas crônicas, por exemplo, são basicamente narrativos.

Nesses tipos de textos, quem conta a história é o narrador, que pode ou não ser apresentado de forma explícita. Portanto, narrador é aquele que narra, conta o que se passa supostamente aos seus olhos; conta o que aconteceu, o que acontece, o que acontecerá, o que não aconteceu e também o que poderia ter acontecido.

Narrador x autor

É importante destacar que, de modo geral, a figura do narrador é diferente da figura do autor. O autor, ao criar a história, ele também cria o narrador. Claro que nada impede que autor também seja o narrador, por isso existem os textos do gênero autobiografia, em que o autor conta a história da própria vida.

Contudo, na maioria das vezes não é isso que acontece, e o autor cria uma história fictícia com um narrador também fictício. Como consequência, geralmente o narrador conta a história sob o seu ponto de vista, a sua perspectiva dos fatos, e a isso damos o nome de foco narrativo ou simplesmente tipos de narrador.

Tipos de narrador

Existem três tipos de narrador (ou foco narrativo):

1. Narrador-personagem: o narrador é personagem ao mesmo tempo, pois conta uma história da qual ele participa. Seu discurso é em primeira pessoa.

2. Narrador-observador: o narrador é um mero observador de fatos, dos quais não participa diretamente. Ele não sabe de tudo o que acontece, mas apenas do que pode observar, do que pode enxergar. Seu discurso é em terceira pessoa.

3. Narrador-onisciente: o narrador sabe de tudo o que se passa não só na história, mas também na cabeça dos personagens. Por isso, pode fazer análises psicológicas e comportamentais de todos, conhecendo mais as personagens do que elas mesmas. Normalmente, esse tipo de narrador faz uso do discurso indireto livre. 

1. Exemplo de narrador- personagem:

Com franqueza, estava arrependido de ter vindo. Agora que ficava preso, ardia por andar lá fora, e recapitulava o campo e o morro, pensava nos outros meninos vadios, o Chico Telha, o Américo, o Carlos das Escadinhas, a fina flor do bairro e do gênero humano. Para o cúmulo de desespero, vi através das vidraças da escola, no claro azul do céu, por cima do morro do Livramento, um papagaio de papel alto e largo, preso de uma corda imensa que bojava no ar, uma cousa soberba. E eu na escola, sentado, pernas unidas, com o livro de leitura e a gramática nos joelhos.

– Fui bobo em vir, disse eu ao Raimundo.

– Não diga isso, murmurou ele.

(“Conto de escola”. Machado de Assis. In: Contos, São Paulo, Ática, 1982, 9ª ed., p. 25-30)

2. Exemplo de narrador-observador:

A CORUJA E A ÁGUIA

(Fábula de domínio público)

A coruja e a águia, depois de muita briga, resolveram fazer as pazes.

— Basta de guerra! —  disse a coruja. —  O mundo é tão grande, e tolice maior que o mundo é andarmos a comer os filhotes uma da outra.

—  Perfeitamente. — respondeu a águia. —  Também eu não quero outra coisa!

— Nesse caso, combinemos isto: de agora em diante não comerás nunca os meus filhotes.

— Muito bem. Mas como posso distinguir os teus filhotes?

— Coisa fácil. Sempre que encontrares uns filhotinhos lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheios de uma graça especial que não existe em filhotes de nenhuma outra ave, já sabes, são os meus filhotes!

—  Está feito! —  concluiu a águia.

Dias depois, voando à caça, a águia encontrou um ninho com três monstrengos dentro, que piavam de bico muito aberto, desprovidos de penas e olhos esbugalhados.

— Horríveis bichos! —  disse ela. —  Vê-se logo que não são os filhotes da coruja.

E comeu-os.

Mas eram os filhotinhos da coruja. Ao regressar à toca, a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi ajustar contas com a rainha das aves, a águia.

—  Quê? —  disse a águia espantada, — Eram teus filhotes, aqueles mostrengos? Pois, olha, não se pareciam nada com o retrato que deles você me fez…

Moral da história: Para retrato de filho, ninguém acredite em pintor pai ou mãe. Já diz o ditado: “Quem ama o feio, bonito lhe parece!”

(Monteiro Lobato, Fábulas. Ed. Brasiliense, São Paulo; 20ª edição)

3. Exemplo narrador-onisciente

Ali pelas onze horas da manhã o velho Joaquim Prestes chegou no pesqueiro. Embora fizesse força em se mostrar amável por causa da visita convidada para a pescaria, vinha mal-humorado daquelas cinco léguas cabritando na estrada péssima. Aliás o fazendeiro era de pouco riso mesmo, já endurecido pelos setenta e cinco anos que o mumificavam naquele esqueleto agudo e taciturno.

(Fragmento do conto O poço, de Mário de Andrade)