Até 1959, o ensino formal da língua portuguesa no Brasil era bastante heterogêneo e despadronizado. Não havia a unificação de terminologias, e cada um poderia, a rigor, usar o nome que quisesse, bem como classificar os ensinamentos conforme bem entendesse. A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), instituída pela Portaria Ministerial 36 de 28 de janeiro de 1959, veio para uniformizar e organizar o ensino da língua.
O fato é que, apesar de ser apenas uma recomendação do Ministério de Estado da Educação e Cultura, a NGB passou a suprir a necessidade de uniformização de termos gramaticais que circulavam “soltos” no universo escolar até a primeira metade do século XX.
A Nomenclatura repercutiu imediatamente nas práticas pedagógicas dos professores da área e reconfigurou o material didático da época. Para as doutoras em Linguística Lucielma de Oliveira Batista e Tamires de Lima Santiago, o contexto macrossocial foi fundamental para o delineamento do projeto que culminou na elaboração da NGB, cuja unificação também foi fundamental para estabelecer uma nova forma de estruturação do ensino público da matéria.
Tópicos deste artigo
ToggleNomes das coisas
Após o trabalho de uma comissão formada por filólogos e linguistas renomados, a NGB deu nome às classes gramaticais que a gente conhece.
A nova ordenação divide o ensino da língua em Fonética, Morfologia e Sintaxe. Além disso, sugere o estudo das Figuras de Sintaxe, da Gramática Histórica, Ortografia, Pontuação, Significação das Palavras e Vícios de Linguagem.
Na Fonética, por exemplo, estudam-se fonemas, classificação das vogais e das consoantes, a tonicidade dos vocábulos.
A Morfologia é a parte interessada na estrutura e formação das palavras, nas flexões, classificações e estruturas. Nela estão contidas as classes de palavras (substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição).
A Sintaxe aborda a concordância, regência e colocação dos termos nas orações. É onde “mora” a análise sintática, que busca entender as funções dos termos na construção do pensamento de um período (simples ou composto)
A Ortografia está anexada à NGB e diz respeito a: abreviatura, alfabeto, dígrafo, homógrafo e notações léxicas (acento, sinais gráficos e siglas). Dentro dela, também está a Pontuação, com suas aspas, asterisco, colchetes, dois-pontos etc.
Já a Significação das palavras trata dos antônimos, homônimos, sinônimos e do sentido figurado. Os vícios de linguagem são, entre outros, a desagradável cacofonia.
Os alunos e esses nomes “estranhos”
A língua é viva, portanto, não deixou de mudar de lá para cá.
Mais de 60 anos depois, os alunos são cada vez mais resistentes a padrões, nomenclaturas e terminologias impostas “goela abaixo” e demonstram dificuldade com alguns termos cujos nomes são demasiado “estranhos”. Diante desse cenário, o professor se vê em um dilema: insiste na proposta de padronização da nomenclatura ou foca sua atuação em um aprendizado menos rigoroso?
Fato também é que, na maioria das vezes, o que se vê é apenas a manutenção de uma espinha dorsal da NGB nas salas de aula, influenciada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) – Lei 9.394/96 –, pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), adotados a partir do final da década de 1990 e, mais recentemente, pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
As coisas vêm mudando, especialmente admitindo discussões linguísticas como o estudo da Oralidade e a inserção da Análise do Discurso, da Linguística Textual e da Sociolinguística, estas todas supervalorizadas nas provas do Enem.