Érico Veríssimo é um dos nomes mais significativos do romance brasileiro. O autor despontou na década de 1930, durante a segunda fase do modernismo, período que produziu uma literatura de caráter mais construtivo, de maturidade, aproveitando as conquistas da geração de 1922 e sua prosa inovadora.
É o representante gaúcho dentro do regionalismo modernista e sua obra mais famosa é a trilogia O tempo e o vento, publicada em sete volumes.
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Érico Lopes Veríssimo nasceu a 17 de dezembro de 1905, em Cruz Alta, Rio Grande do Sul. Filho do farmacêutico Sebastião Veríssimo da Fonseca e da dona de casa Abegahy Lopes, tinha um irmão mais novo, Ênio, e uma irmã adotiva, Maria.
Com quase dez anos de idade, Érico criou a Caricatura, “revista” na qual fazia desenhos e escrevia pequenas notas. Aos treze anos, ele já apreciava os clássicos nacionais e internacionais. Em 1920, foi matriculado no extinto Colégio Cruzeiro do Sul, um internato de orientação protestante de Porto Alegre, deixando sua namorada Vânia em Cruz Alta.
Mesmo tendo aversão à matemática, Veríssimo foi por muito tempo aluno destaque de sua turma. Em dezembro de 1922, quando terminou os estudos, seus pais se separaram, levando Érico, sua mãe e seus irmãos a morarem na casa dos avós maternos.
Sebastião era um homem gastador e mulherengo, o que lhe fez contrair diversas dívidas e até mesmo perder a propriedade da farmácia. Érico então foi obrigado a exercer diversas funções em empregos modestos, por isso trabalhou como balconista no armazém do tio Américo Lopes e, depois, no Banco Nacional do Comércio. Durante esse tempo, transcrevia obras de Euclides da Cunha e de Machado de Assis, dentre outros escritores.
Em 1926, Érico e um amigo de seu pai tornaram-se sócios da Farmácia Central, contudo foram à falência em 1930, deixando uma dívida que perdurou por dezessete anos. Além de farmacêutico, Érico também trabalhou como professor de literatura e língua inglesa à época.
Em 1927, Veríssimo conheceu sua futura esposa, Mafalda Halfen Volpe, e os dois ficaram noivos em 1929. Nesse mesmo ano, Érico publicou na revista Cruz Alta em Revista o seu primeiro texto: Chico: um Conto de Natal. Logo após, seu amigo Manuelito de Ornelas enviou os contos Ladrão de Gado e A Tragédia dum Homem Gordo à Revista do Globo, e o jornal Correio do Povo publicou o conto A Lâmpada Mágica.
Em 1931, transferiu-se definitivamente para Porto Alegre; lá, foi secretário de redação da Revista do Globo. Nesse mesmo ano, regressou a Cruz Alta para se casar com Mafalda, e os dois passaram a morar em Porto Alegre. O casal teve dois filhos: Clarissa Veríssimo (1935) e o também escritor Luís Fernando Veríssimo (1936).
Para aumentar sua renda, Veríssimo começou a traduzir livros do inglês para o português e começou a colaborar com as edições dominicais dos jornais Diário de Notícias e Correio do Povo. A sua primeira tradução foi da obra O Sineiro (The Ringer), de Edgar Wallace.
Em 1932, foi promovido a diretor da Revista do Globo. Ainda nesse ano, publicou sua primeira coletânea de contos intitulada Fantoches, que não contou com boas vendas, além de ter tido os exemplares restantes queimados em um incêndio que destruiu o local onde estavam armazenados.
Seu primeiro romance, Clarissa, veio em 1933. Três anos depois, foram publicados outros dois que deram continuação a esse: Música ao longe (com o qual ganhou o Prêmio Machado de Assis) e Um lugar ao sol. Sua primeira obra de repercussão nacional e internacional, Olhai os lírios do campo, veio só em 1938.
Mais tarde, em 1943, já com o status de escritor consagrado, aceitou o convite para trabalhar nos Estados Unidos porque não concordava com a ditadura de Getúlio Vargas. Lá, Veríssimo lecionou Literatura Brasileira na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e sua estada durou dois anos.
Sua obra mais famosa, a trilogia O tempo e o vento, começou a ser escrita em 1947.
O autor colecionou diversas premiações durante sua trajetória e veio a falecer em 28 de novembro de 1975, em Porto Alegre, vítima de um infarto.
Características da literatura de Érico Veríssimo
Criador de heroicos personagens gaúchos, Érico Veríssimo é considerado o representante gaúcho dentro do regionalismo modernista. Seus primeiros romances, tais como Clarissa, Caminhos cruzados, Música ao longe, Olhai os lírios do campo e Saga, retratam a vida urbana da provinciana Porto Alegre e o cotidiano caótico da sociedade moderna.
Sua famosa trilogia épica O tempo e o vento remonta ao passado histórico do Rio Grande do Sul dos séculos XVIII e XIX e trata das disputas de terra e poder das famílias Amaral, Terra e Cambará. Os personagens heroicos que se destacam são Ana Terra e Capitão Rodrigo.
Para o crítico Wilson Martins há um “ciclo de Clarissa” nas obras de Veríssimo, pois essa personagem, assim como Vasco e outros, reaparece em várias situações ao longo de vários romances. Essa repetição de personagens levou o autor a ser conhecido como redundante, além de superficial nas abordagens psicológica e social.
É possível considerar também uma terceira fase da produção de Veríssimo, a qual aborda temas de momento, como é o caso de O senhor embaixador, O prisioneiro e Incidente em Antares.
Prêmios de Érico Veríssimo
1934 – Prêmio Machado de Assis, da Cia. Editora Nacional, por Música ao longe;
1935 – Prêmio Fundação Graça Aranha por Caminhos cruzados;
1954 – Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras, pelo
conjunto de sua obra;
1965 – Prêmio Jabuti – Categoria Romance, da Câmara Brasileira de Livros, em 1965, pelo livro O senhor embaixador;
1968 – Prêmio Intelectual do Ano (Troféu Juca Pato), concedido pela Folha de S. Paulo e pela União Brasileira de Escritores.
Lista de obras
A produção literária de Érico Veríssimo é vasta e foi traduzida para mais de quinze idiomas.
Contos
– Fantoches
– As mãos de meu filho
– O ataque
– Os devaneios do general
– O Navio das Sombras
– Chico
Romances
1933 – Clarissa
1935 – Caminhos cruzados
1936 – Música ao longe
1936 – Um lugar ao sol
1938 – Olhai os lírios do campo
1940 – Saga
1943 – O resto é silêncio – 1943
1949 – O tempo e o vento (1ª parte) — O continente
1951 – O tempo e o vento (2ª parte) — O retrato
1962 – O tempo e o vento (3ª parte) — O arquipélago
1965 – O senhor embaixador
1967 – O prisioneiro
1971 – Incidente em Antares
Novela
1954 – Noite
Literatura infantojuvenil
1935 – A vida de Joana d’Arc
1936 – As aventuras do avião vermelho
1936 – Os três porquinhos pobres
1936 – Rosa Maria no castelo encantado
1936 – Meu ABC
1937 – As aventuras de Tibicuera
1938 – O urso com música na barriga
1939 – A vida do elefante Basílio
1939 – Outra vez os três porquinhos
1939 – Viagem à aurora do mundo
1939 – Aventuras no mundo da higiene
1956 – Gente e bichos
Narrativas de viagens
1941 – Gato preto em campo de neve
1946 – A volta do gato preto
1957 – México
1969 – Israel em abril
Autobiografias
1966 – O escritor diante do espelho (em “Ficção Completa”)
1973 – Solo de clarineta – Memórias (1º volume)
1976 – Solo de clarineta – Memórias 2 (ed. póstuma, organizada por Flávio Loureiro Chaves)
Ensaios
1945 – Brazilian Literature – an Outline
1973 – Mundo velho sem porteira
1995 – Breve história da literatura brasileira
Biografia
1972 – Um certo Henrique Bertaso
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