Escrever o próprio nome é um marco simbólico e pedagógico no processo de alfabetização. Para a criança, não se trata apenas de registrar letras no papel, mas de afirmar sua identidade, conquistar autonomia e se aproximar do universo da escrita.
Na Educação Infantil, esse aprendizado cumpre papel essencial, tanto no desenvolvimento cognitivo quanto no fortalecimento da autoestima.
Por isso, neste artigo, vamos detalhar a importância, as etapas e as atividades para estimular esse processo. Confira!
O nome como ponto de partida para a alfabetização
Pesquisas clássicas de Emília Ferreiro e Ana Teberosky já apontavam que o nome próprio é, muitas vezes, a primeira forma de escrita dotada de estabilidade.
Por essa razão, ele funciona como um “passaporte para o mundo alfabético”, permitindo à criança observar regularidades, testar hipóteses sobre o sistema de escrita e perceber que existe uma relação entre sons e letras.
Ao escrever seu nome, a criança mobiliza um repertório inicial de letras que servirá de base para produzir outras palavras. Por exemplo, ao identificar que a letra A aparece tanto em Ana quanto em Amigo, ela começa a compreender a lógica do sistema alfabético.
Nesse sentido, esse processo vai além da decodificação mecânica: envolve reflexão, comparação e construção ativa de conhecimento.
Tendo entendido como o nome próprio funciona como porta de entrada para o universo alfabético, vamos ver por que ele é tão importante em termos metodológicos.
Razões metodológicas para ensinar o nome próprio
Há fundamentos consistentes para adotar o trabalho com o nome próprio como base no processo de alfabetização:
- Modelo estável – do ponto de vista linguístico e gráfico, o nome próprio de cada criança funciona como uma referência fixa, facilitando a aprendizagem.
- Eliminação da ambiguidade – por se referir a um único objeto, o nome próprio reduz incertezas na interpretação.
- Valor de verdade – o nome próprio remete à identidade da criança, sendo reconhecido tanto por quem escreve quanto por quem lê.
- Função social – identificar e marcar pessoas e objetos faz parte das interações sociais, reforçando o uso prático da escrita.
Esses fundamentos nos mostram o que fazer, mas agora vamos conhecer como os referenciais educacionais orientam esse trabalho com o nome próprio
Nome próprio nos referenciais educacionais
O nome carrega um peso afetivo. Afinal, ele diferencia a criança dos colegas, marca sua singularidade e reforça o sentimento de pertencimento ao grupo.
Assim, ver seu nome no crachá, na lista de chamada ou colado em seus materiais escolares dá à criança a sensação de reconhecimento e valorização dentro do espaço escolar.
Esse aspecto é tão importante que o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil destaca: “saber escrever o próprio nome é um valioso conhecimento que fornece às crianças um repertório básico de letras que lhes servirá de fonte de informação para produzir outras escritas”.
Assim, o nome não é apenas um objeto linguístico, mas também um instrumento de construção da identidade.
Vale adicionar ainda que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reconhece a importância de oferecer experiências de escrita significativas já na Educação Infantil.
Nesse sentido, destaca a necessidade de que as crianças expressem ideias, sentimentos e vivências por meio de múltiplas linguagens, incluindo a escrita espontânea.
“Expressar ideias, desejos e sentimentos sobre suas vivências, por meio da linguagem oral e escrita (escrita espontânea), de fotos, desenhos e outras formas de expressão.” (BNCC, Habilidade EI03EF01)
Essa diretriz fortalece o papel do nome próprio como recurso pedagógico, uma vez que ele representa, ao mesmo tempo, identidade, pertencimento e oportunidade concreta para iniciar a reflexão sobre o sistema de escrita.
Com esse respaldo institucional, podemos partir para ideias práticas: a seguir, veja atividades concretas para estimular a escrita do nome próprio.
Atividades para estimular a escrita do nome próprio
O trabalho pedagógico com o nome próprio precisa ir além de simples cópias ou ditados. Dessa forma, o educador pode exercitar essa habilidade em diferentes momentos. Abaixo, listamos algumas sugestões de atividade:
- usar crachás e etiquetas para marcar lugares e materiais;
- propor jogos de memória com as letras dos nomes da turma;
- incentivar que a criança reconheça o próprio nome em listas, músicas ou histórias;
- estimular a comparação entre nomes, levando-a a refletir sobre as letras iniciais, finais e repetidas.
Essas práticas tornam a escrita do nome uma experiência de exploração, em que a criança levanta hipóteses, comete erros, testa novas estratégias e, gradualmente, se apropria do sistema de escrita.
Depois de experimentar essas práticas, importante compreender como elas se inserem no processo mais amplo de alfabetização e letramento.
Nome próprio, alfabetização e letramento
Antes de tudo, é importante diferenciar alfabetização e letramento. Alfabetizar significa ensinar o código, as convenções da escrita. Já o letramento envolve o uso social dessa escrita em práticas reais.
Nesse contexto, o nome, por estar presente em documentos, crachás, bilhetes e tantos outros contextos, cumpre as duas funções: ajuda a criança a decifrar o sistema e a entender como a escrita circula socialmente.
Assim, escrever o nome conecta teoria e prática. A criança não apenas aprende as letras, mas também percebe para que serve escrever.
Mas esse processo não acontece de forma linear. Ele está inserido nas diversas etapas que compõem a psicogênse da escrita. Vejamos!
Etapas da psicogênese da escrita do nome próprio
Na tabela abaixo, listamos todas as etapas que envolvem a aprendizagem e a decodificação da escrita do nome próprio:
Etapa | Características da escrita | Exemplo ilustrativo |
---|---|---|
Imitação da escrita | A criança imita o gesto gráfico do adulto; surgem traços contínuos, zigue-zagues e linhas sem valor sonoro definido. | ~~~~ ou linhas contínuas parecendo rabiscos. |
Uso de letras isoladas | Algumas letras começam a aparecer, sejam do nome ou não; denotam maior compreensão do modelo escrito. | Pode escrever apenas “J” ou “C”. |
Mistura de letras e pseudoletras | Surge a intenção clara de escrever o próprio nome. Mistura letras do nome, outras que não pertencem a ele e até pseudoletras. | “JXça” para Jéssica. |
Atenção à quantidade e ordem | A criança percebe que precisa usar as letras certas e na ordem correta. Letras estranhas são excluídas. | “Fabna” → “Fabiana”. |
Estabilização do nome | O nome é reproduzido corretamente, respeitando quantidade e ordenação das letras. | “Fabiana” escrito completo. |
Um primeiro triunfo
Em resumo, aprender a escrever o próprio nome é, aos olhos da criança, um triunfo. É quando ela se reconhece no universo da escrita e percebe que pode interagir com o mundo por meio das palavras.
Esse momento é celebrado pela família, valorizado pela escola e guardado na memória como um dos primeiros grandes passos rumo à alfabetização plena.
Mais do que uma habilidade motora ou uma exigência escolar, escrever o próprio nome é um ato de afirmação: “eu existo, eu pertenço, eu posso escrever”.
Referências de obras sobre nome próprio e alfabetização
- Psicogênese da Língua Escrita — Emília Ferreiro e Ana Teberosky: teoria fundamental que descreve as hipóteses de escrita infantil, com capítulo dedicado ao nome próprio.
- Psicopedagogia da Linguagem Escrita — Ana Teberosky: aborda conhecimentos prévios das crianças sobre escrita e propõe situações didáticas, inclusive para trabalho com nomes na alfabetização inicial.
- Diana Grunfeld — artigo na Revista Lectura y Vida: discute intervenções didáticas com nome próprio nas turmas de Educação Infantil, mostrando como o professor pode planejar atividades que favoreçam a apropriação do sistema de escrita.