Derivação imprópria: conceito, exemplos e questões

A derivação imprópria é um processo de formação de palavras que consiste na mudança de categoria gramatical de determinado termo. Ela também é conhecida como conversão ou hipóstase.

Neste artigo, vamos mostrar exemplos práticos de fenômeno linguístico. Vejamos!

Derivação imprópria: conceito e exemplos.

O que é derivação imprópria?

De acordo com Amini Boainain Hauy, em sua Gramática da Língua Portuguesa Padrão (p.504), a derivação imprópria “realiza-se pela mudança de categoria gramatical da palavra primitiva, sem ocorrência de afixos”.

Ela é chamada de imprópria, porque na prática não há um processo de derivação de fato. Como explica Hauy, esse fenômeno linguístico “pertence à área da semântica, e não à da morfologia”.

Vale destacar que, em muitos lugares, afirma-se de forma equivocada que a derivação imprópria ocorre quando uma palavra troca de classe gramatical. Na verdade, esse tipo de derivação ocorre quando há mudança da categoria gramatical.

Isso pode ser feito por meio da mudança de classe de um termo, mas também por uma alteração dentro da própria classe (ex: usar um substantivo próprio como substantivo comum). Para entender melhor como isso ocorre, vamos analisar uma questão da banca Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Questão sobre derivação imprópria

FGV – 2016 – MRE – Oficial de Chancelaria:

Um dos processos conhecidos de formação de palavras em Português é a chamada “derivação imprópria”, marcada pela criação de uma nova palavra pela modificação de sua classe original. Tal processo aparece em:

A) “Sim, no começo era o pé”.
B) “Se está provado, por descobertas arqueológicas, que há sete mil anos estes brasis já eram habitados…”.
C) “… pensai nestas legiões e legiões de pés que palmilharam nosso território”.
D) “E pensai nestes passos, primeiro sem destinos, machados de pedra abrindo as iniciais picadas na floresta”.
E) “E nos pés dos que subiam às rochas distantes”.

Gabarito

A resposta da questão é a letra B. Nessa alternativa, o substantivo próprio “Brasil” é utilizado como um substantivo comum. Até por isso ele sofre uma flexão de número (“brasis”).

Perceba, pois, que nesse caso, diferentemente do que o próprio enunciado da banca diz, não há mudança de classe gramatical, mas sim de categoria gramatical. Questão polêmica e capciosa da FGV, hein?

Exemplos de derivação imprópria

A professora Amini Hauy (p.504 e 505) elenca oito exemplos de derviação imprópria mais recorrentes:

1) Substantivos próprios passam a comuns:

  • Quem eu pensei que era meu melhor amigo acabou me saindo um verdadeiro judas.

2) Substantivos comuns passam a próprios:

  • castelo > Castelo; figueira > Figueira; pereira > Pereira.

3) Adjetivos passam a substantivos:

  • Preciso mandar consertar as venezianas.

4) Infinitivos passam a substantivos:

  • O badalar dos sinos podiam ser ouvidos a quilômetros de distância.

5) Adjetivos passam a advérbios:

  • Você precisa chegar rápido. (em lugar de “rapidamente”).

6) Particípios passam a preposições:

  • Mediante, tirante, visto (= por)

7) Palavras invariáveis passam a variáveis:

  • Na vida, recebemos mais nãos do que sins.

8) Particípios passam a substantivos e adjetivos:

  • O condenado fugiu ontem à noite.
  • Márcio estava resoluto quanto a sua decisão.

Nominalização

De acordo com Noam Chomsky, nomilização é o processo pelo qual estruturas verbais podem ser transformadas em estrutras nominais. Dito de forma mais simples, é a transformação de um verbo em um substantivo. Vejamos a frase abaixo:

ex: Pedro reclamou e incomodou Paulo.

Agora vamos ver como fica o processo de nominalização:

ex: A reclamação de Pedro incomodou Paulo.

Perceba que tivemos uma mudança na palavra (reclamar > reclamação).

O processo de nominalização não se confunde com o de derivação imprópria. Neste, o termo mantém a mesma grafia, mas é utilizado como uma classe gramatical distinta; naquele, a forma de escrever a palavra sobre alteração.

ex: O reclamar de Pedro incomodou Paulo.

Veja que o verbo “reclamar”, quando acompanhado pelo artigo definido masculino “o”, transforma-se em um substantivo, por meio da derivação imprópria.

Referências

  • Gramática da Língua Portguesa Padrão, Amini Boainain Hauy;
  • Aspectos da Teoria da Sintaxe, Noam Chomsky.

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