Uma das áreas mais fascinantes da língua portuguesa é o estudo da própria língua. Acompanhar as mudanças pelas quais ela passa pode ser um exercício divertido: você já se perguntou por que seus avós chamavam uma pessoa bonita de “brotinho”? Ou por que seus pais, anos depois, adotaram “boazuda” para dizer a mesma coisa? E por que será que você, atualmente, não fala como eles?
Ferdinand de Saussure, considerado o pai da linguística, pode te ajudar a compreender esses pontos. A linguística é concebida como uma ciência, ou seja, não apenas descreve fatos linguísticos como também busca explicações coerentes para sua ocorrência.
Graças aos estudos saussurianos, a língua é explicada a partir de quatro dicotomias: língua x fala, significante x significado, sincronia x diacronia, paradigma x sintagma. Neste artigo, vamos nos concentrar em sincronia e diacronia.
Exemplo de sincronia na língua portuguesa
Na visão de Saussure, a língua é um sistema de valores estruturado e autônomo, que muda contínua e naturalmente.
Sendo a língua um fenômeno social e convencional, temos que a língua portuguesa vibra tanto no eixo sincrônico (evolução) quanto diacrônico (estado).
Acompanhe o exemplo do verbo “comer”.
Verbo COMER sob a ótica sincrônica:
- “COM- é um radical que se define em relação aos demais elementos linguísticos presentes na palavra”
Assim, temos que a análise sincrônica é: descritiva, estática, trata da gramática geral, preocupa-se com uma parte.
Exemplo de diacronia na língua portuguesa
O ponto de vista diacrônico buscará comparações através do tempo.
Verbo COMER sob a ótica diacrônica:
- “Comer”: do latim edere, cujo radical é ed-. Como no presente do indicativo suas formas se confundiam com o verbo esse, no latim vulgar, na Península Ibérica, passou a ser acompanhado de cum-”
Assim, temos que a análise diacrônica é: retrospectiva, móvel, trata da gramática histórica, preocupa-se com o todo.
A língua é móvel: sincronia e diacronia se complementam
Sincronia é olhar para a língua portuguesa como ela é hoje, sem aprofundar os estágios de evolução pelos quais a língua passou, como o latim.
Diacronia é compreender o que houve com a língua ao longo da história, para ela ter as características que tem num determinado momento.
Imagine: se seus tataravós falavam e escreviam “vossa mercê” e não “cê” (como popularmente vemos hoje), é porque o contexto permitia que a língua fosse até determinado ponto. Língua é um sistema aberto, que se transforma com a sociedade.
Se ela muda conforme o contexto de seus falantes e recebe influências, pode ser problemático afirmar que apenas um eixo ou outro é o correto para os estudos linguísticos. Logo, ambos, eixo sincrônico e diacrônico, possuem sua importância e nos ajudam a compreender a diversidade da língua portuguesa.
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