Trovadorismo – o que é, autores, obras e contexto histórico

Marcado pela produção de cantigas líricas, o Trovadorismo é considerado o primeiro movimento literário europeu. Suas produções são um composto de música e poesia, com cantigas divididas em temas que falam de amor, amizade, zombaria e depreciação. 

Esse movimento literário e poético ocorreu somente na Europa, especialmente na França, Espanha e Portugal, e registrou escritos entre os séculos XI e XIV. Para saber seu conceito e características, continue a leitura deste artigo. 

Trovadorismo: característica do movimento literário

Qual o conceito do Trovadorismo?

O conceito do Trovadorismo teve origem no Sudeste da Europa, durante a Idade Média, a  partir do termo “trovador”, o qual significa: “cantor e compositor de cantigas”. 

As cantigas, principais produções literárias da Península Ibérica, eram cantadas com o auxílio de instrumentos musicais. Assim, claramente, se espelhavam na poesia lírica grega, tornando-se a base desse movimento. 

Confira no vídeo abaixo a declamação de uma cantiga do tempo do Trovadorismo:

Contexto histórico do Trovadorismo

Como dito anteriormente, o Trovadorismo iniciou-se na Idade Média, por volta dos séculos XI e XII. Nesse período, os países europeus estavam em formação e a sociedade medieval estava fragmentada entre clero, nobreza e povo. Além disso, a maior parte das nações tinha o Feudalismo como abordagem vigente, e a Igreja Católica como denominação religiosa.

Nesse cenário, o teocentrismo prevalecia. Assim, entendia-se Deus como centro do mundo e o homem como personagem secundário submetido aos valores cristãos. Nesse sentido, era a igreja que ditava os valores e influenciava no pensamento e comportamento humano.  Inclusive, somente os fiéis tinham acesso à educação. 

A Europa se mantinha em uma guerra entre os cristãos e os muçulmanos e o Tribunal do Santo Ofício tinha a tortura e à fogueira como prática aos que não seguiam a igreja.

Quais as características do Trovadorismo?

As características do Trovadorismo são:

  • conexão da música com a poesia;
  • recitais acompanhados de instrumentos musicais;
  • produção de cantigas líricas ou satíricas;
  • temas de amor, amizade, zombaria e depreciação;
  • escritos com referências de submissão e fidelidade amorosa;
  • produção de textos em prosa.

Cantigas do Trovadorismo

As cantigas do Trovadorismo podem ser divididas em líricas e satíricas. Veja abaixo, alguns exemplos. 

Cantigas líricas

No grupo das cantigas líricas, há temas de amor e amizade. Ambos possuem a manifestação de sentimento do sujeito lírico como característica principal. No entanto, há algumas diferenças nas cantigas de amor e amigo. Observe:

Cantigas de amor

  • o eu lírico é sempre masculino;
  • o trovador fala sobre o amor não correspondido;
  • a mulher é tratada como superior, por meio de adjetivos como “senhora” ou “dama”;
  • a maioria das cantigas apresenta refrão;
  • o trovador está sempre enlouquecido por amor;
  • a mulher é vista como figura idealizada;
  • as poesias são compostas em redondilha maior (possuem 7 sílabas poéticas).
Exemplo de cantiga de amor do Trovadorismo
Fonte da imagem

Cantigas de amigo

  • o eu lírico é sempre feminino;
  • o trovador é um homem que cria um eu lírico feminino;
  • o tema é a relação amorosa entre duas pessoas do campo;
  • a mulher fala sobre sentir saudades em decorrência da ausência do homem (namorado ou amante);
  • todas as cantigas apresentam refrão;
  • o cenário é sempre um ambiente do campo;
  • além da mulher e seu amigo, outras pessoas podem aparecer nos versos;
  • as poesias são compostas em redondilha menor (possuem 5 sílabas poéticas).
Exemplo de cantiga de amigo doi Trovadorismo
Fonte da imagem

Cantigas satíricas

As cantigas satíricas, por sua vez, trazem um tom de crítica social. Criadas por trovadores que não pertenciam à nobreza e até mesmo por membros da igreja. Os versos zombavam das regras do tempo. 

No entanto, embora muito semelhantes, as cantigas satíricas eram divididas também em dois grupos: temas de escárnio e de maldizer. Conheça abaixo as diferenças sutis entre elas:

Cantigas de escárnio

  • diversas críticas ao comportamento social;
  • termos de duplo sentido;
  • presença de trocadilhos e ironias;
  • textos sem palavrões;
  • não há menção a pessoa ofendida.
Exemplo de cantiga satírica do Trovadorismo
Fonte da imagem

Cantigas de maldizer 

  • críticas feitas a pessoas identificadas;
  • termos de duplo sentido;
  • presença de linguagem ofensiva e palavrões.
Exemplo de cantiga de maldizer do Trovadorismo
Fonte da imagem

Trovadorismo em Portugal

O Trovadorismo em Portugal teve destaque nos séculos XII e XIII, declinando no século XIV. Assim, o movimento se iniciou com a obra “Cantiga da Ribeirinha” do trovador Paio Soares de Taveirós, escrita para Maria Pais Ribeiro. 

É válido dizer que a literatura portuguesa do século XII não dispunha de nenhuma identidade nacional. Isso porque o território era parte do Condado Portucalense e Galícia. Foi D. Afonso I Henriques quem transformou tais condados em um reinado, embora só tenha sido reconhecido como monarca após reconquistar essas terras posteriormente.

Devido a este fato, a identidade dos trovadores era ibérica e hispânica, e não portuguesa. Somente no final do século XII que Dom Dinis I, rei trovador, estabeleceu a língua galego-portuguesa como oficial. O movimento foi essencial para o idioma e a cultura do lugar. 

Principais autores do trovadorismo em Portugal

Além de Paio Soares de Taveirós, primeiro trovador, e D. Dinis, grande impulsionador do movimento, com 140 cantigas líricas e satíricas, houve outros trovadores em Portugal, dentre eles:

  • João Soares Paiva;
  • João Garcia de Guilhade;
  • Martim Codax;
  • Aires Teles;
  • Afonso Sanches;
  • Ricardo Coração de Leão.

As cantigas do Trovadorismo podem ser encontradas em compilações denominadas de “Cancioneiros”. 

Questão sobre Trovadorismo

Para fechar o artigo, vamos ver como esse movimento é cobrado em provas de vestibulares. Para isso, vamos analisar uma questão da Universidade Estadual de Goiás:

Leia os textos a seguir e responda a questão:

Senhora, que bem pareceis!
Se de mim vos recordásseis
que do mal que me fazeis
me fizésseis correção,
quem dera, senhora, então
que eu vos visse e agradasse.

Ó formosura sem falha
que nunca um homem viu tanto
para o meu mal e meu quebranto!
Senhora, que Deus vos valha!
Por quanto tenho penado
seja eu recompensado
vendo-vos só um instante.

De vossa grande beleza
da qual esperei um dia
grande bem e alegria,
só me vem mal e tristeza.
Sendo-me a mágoa sobeja,
deixai que ao menos vos veja
no ano, o espaço de um dia.

Rei D. Dinis

CORREIA, Natália. Cantares dos trovadores
galego-portugueses. Seleção, introdução, notas e
adaptação de Natália Correia. 2. ed. Lisboa: Estampa, 1978.
p. 253.

Quem te viu, quem te vê

Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala
Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua
Hoje o samba saiu procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer
[…]

Chico Buarque

A cantiga do rei D. Dinis, adaptada por Natália Correia, e a canção de Chico Buarque de Holanda expressam a seguinte característica trovadoresca:

a) a vassalagem do trovador diante da mulher amada que se encontra distante.
b) a idealização da mulher como símbolo de um amor profundo e universal.
c) a personificação do samba como um ser que busca a plenitude amorosa.
d) a possibilidade de realização afetiva do trovador em razão de estar próximo da pessoa amada.

Resposta: Letra A. Como vimos no artigo, uma das principais características do Trovadorismo eram os escritos com referências de submissão e fidelidade amorosa. É exatamente o que vemos no dois textos, um homem se colocando como vassalo de sua amada.

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