O último romance escrito por Clarice Lispector (1920-1977), “A hora da estrela” foi publicado no mesmo ano de sua morte. Nele, há o retrato de uma jovem nordestina que precisa sobreviver na cidade grande.
O livro, considerado um clássico da Literatura Nacional, faz parte da terceira geração modernista, ou pós-modernismo, como também é chamado. A sua estrutura conta com 3 grandes eixos narrativos, o que torna o enredo fragmentado.
Personagens principais de “A hora da estrela”
Os personagens principais da obra “A hora da estrela”, são:
- Rodrigo S.M: narrador do livro, que pode ser interpretado como uma representação de Clarice Lispector.
- Macabéa: personagem principal da história, uma mulher sonhadora e ingênua.
- Raimundo Silveira: chefe de Macabéa, o qual se mostra intolerante muitas vezes.
- Olímpico de Jesus: primeiro e único namorado da protagonista, é também um nordestino muito ambicioso.
- Glória: colega de trabalho de Macabéa, mulher que lhe rouba o namorado.
- As quatro Marias: Maria da Penha, Maria José, Maria Aparecida e apenas Maria eram as quatro colegas de quarto de Macabéa.
- Madame Carlota: a cartomante.
Resumo de “A hora da estrela”
A obra “A hora da estrela” é apresentada por um narrador-personagem, Rodrigo S.M, um escritor que aguarda a sua própria morte. Ao longo da narrativa, ele é quem faz reflexões sobre a vida e os sentimentos da protagonista Macabéa. No entanto, ele também fala bastante sobre as coisas que ele mesmo pensa.
Ao contar a história de Macabéa, conhecemos a personagem nordestina que, além de ingênua, não tem grandes perspectivas de vida. Órfã e criada por uma tia que a maltratava demais, ela vai morar no Rio de Janeiro com apenas 19 anos.
Contudo, sobreviver numa cidade grande sem nenhum tipo de experiência ou estudo é muito difícil. Embora Macabéa consiga um emprego como datilógrafa, o salário é muito ruim, o que permite apenas dividir um quarto com mais quatro mulheres e comer cachorro-quente todos os dias.
As quatro Marias
Essas quatro mulheres são chamadas de “quatro Marias”: Maria da Penha, Maria Aparecida, Maria José e apenas Maria, e trabalham como balconistas das Lojas Americanas. Já Macabéa, trabalha com Glória, moça bonita e inteligente que chega a ouvir as lamentações da protagonista e até aconselhá-la.
Sua falta de recursos é tão grande que, para enganar a fome, ela mastiga papel. Para se distrair das coisas ruins da vida, ouve o rádio relógio de uma de suas colegas de quarto, nas horas vagas, e vai ao cinema sonhar em ser Marilyn Monroe.
Apesar de Macabéa não ser bonita, nem vaidosa, ela adora pintar as unhas de vermelho. Assim, consegue chamar a atenção de um nordestino ambicioso, o Olímpico de Jesus. Eles começam a namorar, porém, o rapaz troca a protagonista por Glória, pois a moça é filha do açougueiro e isso pode ajudá-lo a subir na vida.
Já cansada de tudo e todos, Macabéa tenta a sorte indo a uma cartomante, a qual a ilude dizendo que a protagonista irá se casar com um estrangeiro rico. Macabéa fica tão feliz que saí de lá nas nuvens. Ao atravessar a rua, é atropelada por um Mercedes Benz amarelo.
Nesse instante ocorre a “hora da estrela”, pois é um momento em que todos, finalmente, a enxergam como uma estrela de cinema.
Estilo literário de “A hora da estrela”
“A hora da estrela” não possui nenhum capítulo, ela é dividida em blocos ou fragmentos de texto, como também é chamado. O livro, publicado em 1977, faz parte da terceira geração modernista, ou pós-modernismo.
A escrita desse período é movida pelo fluxo de consciência, ou seja, muitos autores da época trabalharam a análise psicológica dos personagens de suas obras. Assim, “A hora da estrela”, uma obra não convencional e fragmentada, também dispõe dessa característica.
Além disso, Clarice Lispector também faz o uso da metalinguagem e de uma temática universal que não depende de traços regionais.
Análise literária de “A hora da estrela”
Rodrigo S.M, narrador de “A hora da estrela”, é um dos personagens mais importantes da trama. Ele faz uma mediação entre os acontecimentos e sentimentos de Macabéa, bem como dos seus próprios.
Já no início do livro, o leitor consegue notar a dedicatória presente na primeira página, na qual a autora faz referência da dificuldade de escrever para dar respostas a quem lê. Assim, há uma série de outras dedicatórias a grandes compositores da música clássica.
Durante a história, o narrador tem a missão de mediar os assuntos internos da protagonista, como se explicasse tudo ao leitor. No entanto, Rodrigo S.M também desenvolve suas próprias questões internas quando diz não pertencer a nenhuma classe social, enquanto Macabéa faz parte da mais baixa.
Origem do protagonista e do autor
Outra questão importante trazida pelo narrador é no que diz respeito à origem da protagonista e de si, isso porque ambos são nordestinos, inclusive Clarice Lispector, que cresceu em Recife. Durante o enredo, o foco na sobrevivência no Rio de Janeiro é um ponto que trata as diferenças de um lugar e outro.
A trama também faz uma grande crítica à influência da publicidade e o estímulo ao consumo. Isso se nota por Macabéa não ter desejos, mas sentir fascinação por propagandas e cinema, tudo muito deslocado de sua realidade.
É válido ressaltar que a protagonista é muito pequena, ingênua e sem maldades. Foi maltratada a vida toda pela tia sem questionar e, quando arruma um namorado e é trocada, também não opina e simplesmente aceita o término.
O livro traz uma importante reflexão sobre a escrita e o papel de quem escreve. Isso porque, no início, Clarice aponta a dificuldade em responder às perguntas dos leitores e, durante o enredo, precisa comunicar tudo o que os personagens sentem de forma complexa.
A história se passa na década de 1970 e alterna entre o tempo cronológico, isto é, os fatos da vida de Macabéa, e o psicológico que faz referência às divagações do narrador.
Adaptação no cinema de “A hora da estrela”
O sucesso de “A hora da Estrela” foi tanto que, em 1985, o enredo foi adaptado para as telas dos cinemas. O longa-metragem foi dirigido por Suzana Amaral, com a atriz Marcélia Cartaxo como Macabéa e o ator José Dumont como “Olímpico”.
Assim como o livro, o filme foi muito aclamado e recebeu diversos prêmios, como o Festival de Brasília, em 1985 e Festival de Berlim e Havana, ambos em 1986.
Sobre a autora Clarice Lispector
Clarice Lispector nasceu na Ucrânia em 10 de dezembro de 1920. Contudo, chegou ao Brasil com seus pais, aos dois meses. Assim, no ano de 1924, a família se mudou para o Recife. Por volta dos oito anos, Clarice ficou órfã de mãe e 3 anos depois foi para o Rio de Janeiro com a família.
Em 1939, ingressou na Faculdade de Direito e publicou no ano seguinte o seu primeiro conto, intitulado por “Triunfo”. Formou-se em 1943, mesmo ano em que se casou com Maury Gurgel Valente, diplomata com quem teve dois filhos. No período em que esteve casada chegou a morar nos Estados Unidos e em diversos países da Europa.
No ano de 1944, Clarice publicou o seu primeiro romance, chamado “Perto do coração selvagem”, o qual lhe rendeu, no ano seguinte, o Prêmio Graça Aranha pela Academia Brasileira de Letras. Já em 1959, ela se separou do marido e retornou ao Rio de Janeiro com seus filhos.
Um ano depois, publicou o seu primeiro livro de contos, intitulado de “Laços de família”. No entanto, em 1967, um cigarro provocou um grande incêndio em sua casa e a deixou muito ferida, com séria chance de ter a mão direita amputada. No entanto, após a sua recuperação, continuou com sua carreira literária.
Em 1977, publicou o seu último livro, “A hora da estrela”, sendo internada meses depois, vítima de um câncer. A escritora faleceu no mesmo ano, em 9 de dezembro, véspera de seu aniversário. Clarice deixou um acervo de obras como legado, entre as principais estão:
- Perto do coração selvagem – 1944.
- Laços de família – 1960.
- A legião estrangeira – 1964.
- A paixão segundo G.H – 1964.
- Água viva – 1973.
- A hora da estrela – 1977.
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