A leitura precisa ser estimulada desde a infância para que vá muito além do que decifrar códigos gráficos. Muito mais do que aprender o alfabeto, compreender a conexão entre as letras, sílabas e palavras, é preciso entender a relação delas com o mundo, e fazer disso um hábito. É, portanto, na prática cotidiana de ler que se adquire o chamado comportamento leitor.

Esse comportamento leitor nada mais é do que fazer da leitura um prazeroso costume. E que forma mais prazeirosa há de ler se não pela literatura?

Ler é essencial para a formação humana e é na relação direta com contextos que se estabelece a interpretação de algo escrito. Objetivamente, a leitura ajuda no desenvolvimento cognitivo e intelectual dos indivíduos. Mas ela se mostra ainda mais essencial nas questões sociais e emocionais.

Ninguém precisa ser um mestre em português, mas, quanto antes a prática da leitura for solidificada no dia a dia de alguém, maior será a chance dele crescer como um cidadão capaz de ler, entender, selecionar e organizar as informações por escrito.

Criança brasileira gosta de livros

A leitura é também uma ferramenta de acesso cultural. A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada em 2020 pelo Instituto Pró-Livro (IPL) com dados de 2019, mostrou que o brasileiro que lê regularmente experimenta uma maior diversidade de atividades culturais realizadas no seu tempo livre do que o não leitor.

Além disso, a pesquisa indicou claramente que o estímulo certo é primordial para a manutenção do comportamento leitor. Os resultados revelaram que as crianças pequenas são as que leem mais e que leem mais livros de literatura, por vontade própria e com mais frequência: em 2019, 71% das crianças de 5 a 10 anos de idade foram classificadas como leitoras (eram 67% em 2015). Um dado a ser ressaltado – e comemorado – é que, para 48% delas, o gosto pela leitura é o principal motivo.

Só que esse percentual de população leitora vai diminuindo significativamente com o avançar da idade, a ponto de, em quatro anos, o número de leitores no país ter diminuído cerca de 4,6 milhões.

Entre os que têm entre 18 a 24 anos de idade, somente 17% são leitores habituais. Estes alegam questões bem mais pragmáticas – crescimento pessoal e atualização cultural ou conhecimento geral – como fomento à leitura. Ao lado dos quem têm entre 14 a 17 anos, esse grupo é o que apresenta maior percentual de queda de leitores no país.

O segredo para reverter esse cenário parece ser então vincular o estímulo à apreciação da leitura ao compromisso de formar cidadãos críticos e autônomos. Desse modo, educadores e famílias têm como importante missão incentivar o hábito na criança com ações positivas, para que ela consolide a leitura como algo prazeroso.

Estimule o comportamento leitor

Vamos pensar que a ideia de “futuros leitores” está equivocada. Nada impede que, mesmo antes do início da alfabetização, o adulto estimule a criança a gostar de livros.

Basta que o ato de ler seja incluído como uma prática de destaque permanente nas atividades cotidianas, por exemplo por meio da Literacia Familiar. A partir da Educação Infantil, é essencial que a sala de aula vire um ambiente propício à leitura, proporcionando boas experiências para garantir que a criança se apaixone logo cedo desse mundo. O educador, nesse sentido, se transforma em um verdadeiro influenciador desse comportamento leitor do aluno.

Entre as ações pedagógicas que podem promover a leitura e garantir que os pequenos virem bons leitores no futuro está a escolha de obras interessantes. É importante selecionar livros que estejam de acordo com a faixa etária e que proponham temas que a criança goste.

Para que se torne rotina, no início, o adulto pode estabelecer um horário permanente para as atividades literárias, dentro e fora da sala de aula. Nada deve ser imposto, mas o professor deve promover rodas de leitura, contação de histórias e aproximar as crianças de diferentes gêneros literários (vale incluir outros materiais impressos, como revistas, gibis e jornais), instigando conversas sobre o que foi lido.

Envolver a família também ajuda muito. Isso pode ser feito por meio de um intercâmbio de livros entre casa e escola e pela sugestão de obras a serem lidas antes de a criança dormir.