Vírgula e mudança de sentido

Vírgula e mudança de sentido são duas questões que caminham lado a lado, pois o uso do sinal gráfico pode modificar completamente a forma de interpretar a mesma frase. Quer saber mais sobre o assunto? Continue lendo!

Vírgula e mudança de sentido

Vírgula e mudança de sentido: exemplos 

De acordo com Amini Boainain Hauy, em sua Gramática da Língua Padrão, a vírgula deve ser utilizada para evitar ambiguidade ou interpretação equivocada. Para entender melhor essa questão, veja a seguir alguns exemplos em que o uso da vírgula implica mudança de sentido nas mesmas orações.

Sem vírgula

Observe as frases abaixo e veja como a ausência da vírgula deixa a mensagem ambígua.

  • Quero muito ir comer gente!
  • Não pode ir na casa deles.
  • Deixei bolo na geladeira para ela não para ele.
  • Guardei isso para você não se esqueça!

Com vírgula

Confira abaixo as mesmas orações reescritas, com a vírgula devidamente empregada. 

  • Quero muito ir comer, gente!
  • Não, pode ir na casa deles.
  • Deixei bolo na geladeira para ela, não para ele.
  • Guardei isso para você, não se esqueça!

Note que, nos exemplos acima, a inserção da vírgula deixou as sentenças corretas e coerentes e alterou complemetamente o significado e a mensagem de cada uma das frases.

Sentido e funções

Vale ressaltar, contudo, que a ausência da vírgula nem sempre gera um erro, mas pode alterar o sentido e a função dos termos. É o que ocorre nas duas primeiras frases:

  • Quero muito ir comer gente! (Nesse caso, “gente” funciona como complemento do verbo “comer”.)
  • Quero muito ir comer, gente! (Aqui, “gente” funciona como vocativo.)

  • Não pode ir na casa deles. (Nessa frase, “não” é advérbio de negação.)
  • Não, pode ir na casa deles. (Nessa oração, “não” é um elemento de resposta negativa.)

Vírgula e mudança de sentido: mapa mental.

Uso incorreto x uso correto

Não basta apenas utilizar a vírgula, é necessário saber onde a inserir para não gerar desconforto e interpretação errônea. 

Veja a seguir alguns exemplos de uso incorreto e correto da vírgula.

  • Não tenha pena de mim, eu mereço.
  • Respeite a minha vida não, fale sobre o que não sabe.
  • Ligue para isso, não gosto de você.
  • Estou vendendo meu filho, não uso mais. 

Nas frases acima, a vírgula foi colocada de maneira inadequada, causando uma perspectiva diferente da intenção da autor.

Por esse motivo, a relação entre a vírgula e a mudança de sentido deve ser observada constantemente. 

Com o emprego correto da pontuação, temos:

  • Não, tenha pena de mim, eu mereço.
  • Respeite a minha vida, não fale sobre o que não sabe.
  • Ligue para isso não, gosto de você.
  • Estou vendendo, meu filho, não uso mais. 

Todo cuidado é pouco na hora de pontuar um texto. É preciso prestar atenção não somente nas regras gramaticais, mas no contexto geral, identificando qual a mensagem que queremos transmitir. 

Dessa forma, o estudo do uso da vírgula deve ser periódico, a fim de evitar frases mal pontuadas e compreensão errada de um discurso. 

Restritiva x Explicativa

Dentre os diferentes casos em que a vírgula pode alterar o sentido das frases, vale pontuar um em especial: o uso do sinal de pontuação para diferenciar as orações subordinadas adjetivas restritivas das explicativas.

Hauy explica que as orações adjetivas restritivas são aquelas que limitam a compreensão de uma ideia, restringem o significado do antencedente a que se referem. Nesse sentido, elas acrescentam uma informação imprescindível e que caracteriza de forma relevante um determinado grupo. Assim sua retirada prejudica a compreensão da mensagem.

Ademais, as orações restritivas não são separadas por vírgula.

Por sua vez, as orações adjetivas explicativas trazem apenas um pormenor do antecendente, uma informação acessória ou secundária. Por isso, como mostra a professora Hauy, elas “podem ser eliminadas do período sem afetar sua estruturação sintática”.

Além disso, as explicativas são usadas para acrescentar características mais genéricas, que se aplicam a todos os entes de determinado conjunto. Vale dizer por fim que as orações explicativas devem sempre ser separadas por vírgula.

Nesse contexto, confundir esses dois tipos de orações subordinadas pode impactar de forma grave no sentido da frase. Para deixar isso mais claro, vamos analisar um exemplo:

  • As pessoas desse bairro que são honestas merecem nosso respeito.
  • As pessoas desse bairro, que são honestas, merecem nosso respeito.

Na primeira frase, por conta do uso da restritiva, estamos dizendo que há dois grupos de pessoas no bairro – as honestas e as desonestas – e que só o primeiro grupo merece respeito.

Em contrapartida, na segunda frase, estamos dizendo que todas as pessoas do bairro são honestas e merecem respeito.

Viu a diferença que faz o uso da vírgula? Bons estudos!

AspectoOração Adjetiva RestritivaOração Adjetiva Explicativa
FunçãoEspecifica o substantivo, restringindo seu sentido a um grupo particular.Adiciona uma informação extra ou acessória sobre o substantivo.
Possibilidade de RemoçãoNão pode ser removida sem alterar o sentido da frase.Pode ser removida sem alterar o sentido principal da frase.
Uso da VírgulaNão usa vírgula antes ou depois da oração.Sempre usa vírgulas para separar a oração.
SignificadoIndica uma característica essencial ao substantivo ao qual se refere.Oferece uma informação adicional sobre o substantivo, mas não altera seu sentido essencial.

Referência

  • Gramática da Língua Portuguesa Padrão, Amini Boainain Hauy, páginas 418 e 1.171.

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