A ambiguidade, também chamada de anfibologia, consiste na dupla possibilidade de interpretação de uma palavra, de uma expressão ou de todo um texto. Popularmente, recebe o nome de “duplo sentido” e pode ser causada de forma intencional ou não.
Quando a ambiguidade é proposital e tem finalidade estilística, é considerada uma figura de linguagem de palavra e de construção. Mas quando a ambiguidade é consequência da má escolha de palavras ou da posição em que as palavras se encontram na frase, é caracterizada como um vício de linguagem e deve ser evitada.
Exemplo de ambiguidade como figura de linguagem:
– “Quem come um pede bis.”
Nesse antigo slogan da Bis, tradicional marca de chocolate wafer, o substantivo comum bis, que significa repetição, gera ambiguidade na frase por ser homônimo perfeito do nome da marca. Logo o slogan tem a intencionalidade de mostrar que os que provam um chocolate da marca Bis, pedem bis, ou seja, pedem para comer de novo, insinuando a boa qualidade do produto.
Nos casos em que a ambiguidade resulta do duplo sentido de uma palavra, ela é chamada de ambiguidade lexical.
Exemplo de ambiguidade como vício de linguagem:
– A tia levou a criança para sua casa.
Aqui já não é possível saber se a casa é da tia ou da criança devido ao mau uso do pronome possessivo.
Em casos como esse, em que a ambiguidade resulta da forma como a frase foi construída, ela é chamada de ambiguidade estrutural.
Tipos de ambiguidade como vício de linguagem
A ambiguidade como vício de linguagem pode ser causada por diversos fatores. Veja a seguir os principais casos e como evitá-los.
1. Má colocação de palavras
– O pai abraçou o filho desanimado. (Quem estava desanimado?)
Sugestões de reescrita:
– O pai desanimado abraçou o filho.
– O pai abraçou o desanimado filho.
2. Mau uso de pronomes relativos
– Comprei a bolsa e o vestido de que lhe falei. (Falou da bolsa e do vestido ou somente do vestido?)
Sugestões de reescrita:
– Comprei a bolsa e o vestido do qual lhe falei. (Falou somente do vestido)
– Comprei a bolsa e o vestido dos quais lhe falei. (Falou da bolsa e do vestido)
3. Não distinção entre pronome relativo e conjunção integrante
– A mãe falou com o filho que queria sair. (Quem queria sair?)
Sugestões de reescrita:
– A mãe, que queria sair, falou com o filho. (A mãe quer sair)
– A mãe falou com o filho, o qual queria sair. (O filho quer sair)
4. Mau uso de pronomes possessivos
– O jovem saiu com a moça em seu carro. (O carro é de quem?)
Sugestões de reescrita:
– O jovem saiu com a moça no carro dele.
– O jovem saiu com a moça no carro dela.
– O jovem, em seu carro, saiu com a moça.
5. Mau uso do gerúndio
– O marido encontrou a esposa saindo de casa.
Sugestões de reescrita:
– Saindo de casa, o marido encontrou a esposa.
– O marido encontrou a esposa, a qual estava saindo de casa.
– O marido encontrou a esposa quando ela estava saindo de casa.
6. Mau uso dos adjuntos adverbiais
– Palmeiras vence o Corinthians em casa. (Na casa de quem?)
Sugestões de reescrita:
– Em casa, Palmeiras vence o Corinthians.
– Palmeiras vence o Corinthians na casa do rival.
7. Ausência de crase
– Ama a mãe a filha. (Quem é amada por quem?)
Mesmo o verbo amar não sendo transitivo indireto, é necessário o acento grave por motivo de clareza.
Sugestões de reescrita:
– Ama à mãe a filha. (A filha ama a mãe)
– Ama a mãe à filha. (A mãe ama a filha)
8. Polissemia
– Com nojo, todo mundo se afastou do porco do meu tio. (O tio tem um porco ou é linguagem figurada para dizer que o tio é um homem sem higiene?)
Sugestões de reescrita:
– Com nojo, todo mundo se afastou do meu tio, que era porco.
– Com nojo, todo mundo se afastou do porco que pertence ao meu tio.
Ambiguidade x polissemia
É importante não confundir ambiguidade com polissemia. A polissemia trata dos diferentes significados que uma palavra pode ter, exemplos:
– manga: parte da camisa ou fruta;
– casa: moradia ou terceira conjugação do verbo casar;
– ponto: pontuação escolar, pontuação gramatical, ponto de ônibus, grau de cozimento, ponto cirúrgico etc.
Uma palavra polissêmica pode causar ambiguidade se for mal-empregada em um texto ou uma fala (como consta no tópico anterior), mas não podemos dizer que toda ambiguidade é uma polissemia, ou que toda palavra polissêmica causa ambiguidade.
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