Em um texto narrativo, é comum nos depararmos com algumas formas distintas de discurso, são elas: discurso direto, discurso indireto e discurso indireto livre. Esses três tipos de discurso nos ajudam a conhecer os pensamentos e as falas das personagens no texto.

Discurso direto

É considerado discurso direto aquele em que o narrador apresenta a personagem e transcreve suas falas na íntegra, sem qualquer alteração. Exemplos:

Ela escrevia e o pai lia; num dado momento, ele disse:

— Sabes quem vem aí, minha filha?

— Quem é?

— Teu padrinho. (…)

(Triste Fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto)

Por fim Rui Soeiro rompeu o silêncio:

— Não foi decerto para espairecer pelos matos ao romper da alva, que nos fizestes vir aqui, misser Loredano?

— Não — respondeu o italiano laconicamente.

— Mas então desembuchai de uma vez, e não percamos tempo.

(O Guarani, José de Alencar)

Esse tipo de discurso apresenta, normalmente, as seguintes características:

a) Presença de verbos elocutivos, tais como: dizer, responder, afirmar, perguntar, sugerir, indagar ou sinônimos.

b) Presença de aspas, dois-pontos e travessão.

c) Mudança de linha.

Discurso indireto

Por outro lado, o discurso indireto é aquele em que o narrador encaixa a fala do personagem na sua. Aqui não há a intenção de transmitir a fala de forma exata, pois a ideia importa mais que a forma linguística. Vejamos:

José Dias deixou-se estar calado, suspirou e acabou confessando que não era médico.

(Dom Casmurro, Machado de Assis)

Uma mulher ruiva e muito perfumada me deu um beijo babado na testa e disse que tinha me visto nascer (…)

(Nu, de botas, Antônio Prata)

O discurso indireto também apresenta verbos elocutivos, mas as falas das personagens aparecem numa oração subordinada substantiva objetiva direta, como as destacadas acima.

Discurso indireto livre

Já no discurso indireto livre, temos a mescla dos dois estilos anteriores. Nele, a impressão que se tem é de que o pensamento expresso pertence ao narrador, pois não há presença de verbos elocutivos, dois-pontos, travessão ou aspas. No entanto, trata-se de um pensamento da personagem.

O exemplo abaixo é um trecho de Dom Casmurro em que D. Glória tenta dissuadir Pádua da pretensão de suicídio:

“Minha mãe foi achá-lo à beira do poço, e intimou-lhe que vivesse. Que maluquice era aquela de parecer que ia ficar desgraçado, por causa de uma gratificação a menos, e perder um emprego interino? Não, senhor, devia ser homem, pai de família, imitar a mulher e a filha…

(Dom Casmurro, Machado de Assis)

Perceba no trecho em negrito que há um elo psicológico entre o narrador e a personagem D. Glória.

Diferentemente do discurso indireto, no indireto livre é normal manter os pontos de interrogação e de exclamação como se o trecho tivesse sido escrito no estilo direto.

Transposição do discurso direto para o indireto e vice-versa

Os principais cuidados que devemos tomar ao passar um discurso direto para indireto, e vice-versa, são:

Discurso direto: enunciado em primeira pessoa.

Discurso indireto: enunciado em terceira pessoa.

Discurso direto: enunciado justaposto.

Discurso indireto: enunciado subordinado, geralmente introduzido por conjunção integrante.

Discurso direto: enunciado em forma interrogativa direta.

Discurso indireto: enunciado em forma interrogativa indireta.

Exemplo:

Na forma direta:

— Viajarei amanhã — disse o diretor. — Você pode reorganizar a minha agenda da semana?

Na forma indireta:

O diretor disse que viajaria no dia seguinte e perguntou se eu podia reorganizar a sua agenda da semana.

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