Uma boa alfabetização é alicerce de um processo eficaz de aprendizagem da leitura e escrita. Por isso não pode ser realizada de qualquer maneira. Deve-se ter método.

Mas quais métodos de alfabetização usar? Isso é o que veremos logo abaixo. Antes, vale lembrar que as crianças desenvolvem as habilidades necessárias para a leitura antes mesmo de ingressarem na educação infantil – elas são ainda bebês quando conseguem distinguir os sons de diferentes línguas; já domina fonemas suficientes para falar mais de 50 palavras aos 2 anos; e muitas já aprenderam a reconhecer certas letras antes de completarem 3 anos.

Podemos, portanto, ajudá-las de muitas maneiras. Antes de elas chegarem ao Ensino Fundamental, podemos estimulá-las apontando letras, criando oportunidades para brincar com a língua e para manusear livros e conversando com elas sobre as atividades do dia.

Mas, quando chega o tempo certo de alfabetizá-las, diversos métodos podem ser aplicados, segundo vários fatores, que incluem as condições socioeconômicas da população e os recursos pedagógicos disponíveis.

Basicamente, os métodos de alfabetização se dividem em dois grupos: sintéticos e analíticos. Os primeiros supõem desde a leitura dos elementos gráficos (letras, sílabas e palavras) até a leitura da totalidade das palavras (textos). Estes são representados pelos sistemas alfabético, fônico e silábico. Já os analíticos fazem o caminho inverso: partem da leitura da palavra, frase ou texto para chegar ao reconhecimento dos elementos gráficos (sílaba e letra).

Os métodos sintéticos

Os métodos de alfabetização sintéticosalfabético, fônico e silábico – têm como base a compreensão de que a Língua Portuguesa é fonética e é silábica. Significa dizer que considera a dedução a melhor maneira de dominar a leitura.

Enquanto o ponto de partida do método alfabético é o nome de uma letra (soletração) e do método silábico, as sílabas, são os sons correspondentes às letras que estão na base do fônico. Este ajuda a criança a aprender a “quebrar” as palavras em sons, a traduzir sons em letras e a combinar letras para formar novas palavras.

Esse método entende que a menor parte da palavra é um fonema – e este como a unidade básica da linguagem falada. A leitura, portanto, depende da capacidade de decodificar palavras em sons. É também o método mais disseminado no Brasil, mas vale ressaltar que a Política Nacional de Alfabetização (PNA) não chega a recomendar às escolas nem este nem outro método específico qualquer.

Eis aqui um resumo de cada modalidade:

Alfabético

Considerado o mais antigo dos métodos, propõe o antigo “be a ba”, no qual o indivíduo deve reconhecer as letras mesmo fora da ordem alfabética e redescobri-las em palavras ou textos, a partir da soletração. Embora reconhecer as letras seja tarefa fundamental do processo de alfabetização, a memorização fora de contexto das letras e sílabas pode afastar o aluno do significado das palavras.

Silábico

Da sílaba (consoante+vogal), chega-se a construções mais complexas, apoiando-se em cartilhas com desenhos ou palavras-chave associadas. O método valoriza o desenho correto das letras, priorizando caligrafia, ortografia, cópia, ditados e formação de frases. O risco também é o foco excessivo em uma unidade sonora, o que pode tirar o aluno do contexto social.

Fônico

Desenvolvido na França e na Alemanha, o método estabelece relação direta entre a escrita e a fala, partindo da relação direta entre letra e som. A apresentação dos fonemas geralmente parte de palavras significativas para os alunos ou de uma palavra relacionada a uma imagem e a um som, mas esbarra na característica da Língua Portuguesa de muitas variações entre letras e sons.

Os métodos analíticos

Os tipos de métodos de alfabetização analíticos, por sua vez, partem da leitura. A meta é obter a compreensão do sentido da totalidade da palavra, para só depois chegar às partes que a constituem. São eles:

Palavração

Propõe que se forme um repertório antes de elaborar frases e pequenos textos. A palavra (unidade linguística) deve ser reconhecida graficamente a partir de atividades de memorização. O aluno pode aprender estratégias de leitura inteligente e associar a leitura com prazer e informação, mas o reconhecimento de palavras e expressões novas pode ser afetado.

Sentenciação

Parte da frase, uma unidade de significado mais completa. O método se apoia muito na oralidade das crianças, a partir da qual se extraem orações simples. Estas podem ser expostas na sala de aula e consultadas permanentemente. A ideia é que, desde o início da alfabetização, o aluno se relacione com o significado dos textos e aprenda estratégias de leitura inteligente, mas ele também corre o risco de não conseguir reconhecer novas expressões.

Método global

Um texto trabalhado por certo tempo, no qual o aluno memoriza e entende o sentido geral do que é “lido”, é a base desse método. Só depois as sentenças são analisadas e as palavras identificadas. As práticas são semelhantes às adotadas pela linha construtivista, mas mantêm o foco no sentido dos textos. Aqui, o risco é ter uma atenção mais “hermética”, utilizando-se textos muito distantes da realidade e do interesse da criança.

Desdobramentos e novas experiências

Na experiência brasileira, vale destacar o papel da cartilha “Caminho suave”, que teve sua primeira edição em 1948. A autora, educadora Branca Alves de Lima (1911-2001), juntou nela os princípios do método sintético com o analítico e denominou o seu método de “alfabetização pela imagem”. A cartilha ainda hoje é referência para muitos.

Outro método disseminado no país foi a corrente sociointeracionista, que preconiza a aprendizagem a partir de interações sociais, surgiu juntamente com a divulgação das ideias do psicólogo russo Lev Vygotsky (1896-1934). Nessa concepção, somente aos poucos a aprendizagem da escrita se torna uma construção individual.

A partir da década de 1980, o desempenho escolar ruim de muitas crianças colocou em xeque muitas metodologias. Na esteira disso, surgiu o construtivismo, uma espécie de “revolução conceitual”, desenvolvidas por Emília Ferreiro (1936) e Ana Teberosky (1944). As cartilhas perderam espaço, e o foco passou a ser o processo de aprendizagem da criança, baseado nas pesquisas sobre a psicogênese da língua escrita.

O construtivismo não deixou de ser, ele próprio, alvo de duras críticas, sobretudo em relação à forma de detecção do estágio de desenvolvimento cognitivo da criança, que foi totalmente concentrado no seu nível de evolução de escrita e das operações lógicas nelas envolvidas. Seus críticos dizem que ele abandona o papel do professor e não planeja o processo de ensino-aprendizagem, deixando o aluno como se à deriva.

O desafio hoje é conciliar a alfabetização e o letramento, a relação com as letras, sons, sílabas e palavras com o contexto social, de modo a dar condições ao aluno de usar a língua nas práticas sociais de leitura e escrita. Para isso, é possível e necessário aliar os diferentes métodos de alfabetização.

*

Gostou do artigo? Então, vale a pena aprofundar seus conhecimentos com o Guia da Alfabetização.