Homenageada inúmeras vezes, dentro e fora do país, Cecília Meireles foi uma mulher fora da curva, que desde pequena mostrou seu talento e sua tendência para o mundo das artes. 

Nesse texto vamos apresentar o trabalho e a vida dela, que passou por tantos contratempos, e ainda assim, se sobressaiu e deixou seu legado.

Cecília Meireles: vida e obra

Quem foi Cecília Meireles?

Cecília Meireles foi uma escritora, professora, jornalista e pintora, considerada a principal representante feminina da segunda geração do modernismo brasileiro. Também é amplamente considerada a melhor poetisa do Brasil, ainda que tivesse horror a que a chamassem de poetisa, tendo preferência pelo termo poeta.

Vida pessoal

Nascida no Rio Comprido, bairro da zona norte do Rio de Janeiro em 7 de novembro de 1901, Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu para fazer história. 

Ficou órfã de pai – Carlos Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil – antes mesmo de nascer, e de mãe – Mathilde Benevides Meireles, professora primária da rede pública do Rio de Janeiro – aos 3 anos, sendo então criada pela avó portuguesa – Jacinta Garcia Benevides – que era rígida, e não permitia que brincasse com as crianças na rua, transformando-a numa criança solitária e apegada aos livros, sua melhor companhia.

Em 24 de outubro de 1922, casou-se com o português Fernando Correia Dias, que era pintor, desenhista, ilustrador e artista plástico. O casal teve três filhas: Maria Elvira (1923), Maria Mathilde (1924) e Maria Fernanda (1925). Devido ao quadro de depressão, Fernando se suicidou em 1935, e Cecília casou-se pela segunda vez em 1940 com Heitor Grillo.

Após uma vida dedicada à arte, ao conhecimento e a viagens pelo mundo, Cecília Meireles faleceu dia 9 de novembro de 1964, no Rio de Janeiro, vítima de um câncer no estômago, com o qual lutava desde 1962.

A professora Cecília Meireles

Seus primeiros estudos foram na Escola Municipal Estácio de Sá, e se destacou pelo empenho nos estudos e boas notas ainda tão nova, tanto que recebeu a Medalha de Ouro Olavo Bilac, em 1910, das mãos do próprio Olavo Bilac, que era inspetor de sua escola. 

Nesse período, a menina que já demonstrava todo o seu amor pelos livros, começou a escrever seus primeiros versos.

Em 1917, formou-se na Escola Normal do Rio e no ano seguinte começou a lecionar no ensino primário na Escola Pública Deodoro. 

Depois de alguns anos tornou-se professora não só de Literatura Luso-brasileira mas também lecionou Técnica e Crítica Literária na Universidade do Distrito Federal, e mais tarde foi professora do curso de Literatura e Cultura Brasileiras na Universidade do Texas, nos Estados Unidos.

Carreira de Cecília Meireles

Seu livro de estreia foi Espectros, em 1919 com apenas 18 anos, sob a influência dos poetas que formariam o grupo da revista Festa, de inspiração neo simbolista. Alguns dos seus textos possuíam forte tendência ao social e à psicanálise. Foi um nome de destaque no grupo “Poesia de 30”, formado na segunda fase do modernismo.

Depois de lecionar por anos e também ministrar palestras em conferências nacionais e internacionais, Cecília Meireles, no Rio de Janeiro em 1927, circulou a revista Festa, fundada por Tasso da Silveira e Andrade Muricy.

A revista modernista tentava revalorizar a linha espiritualista de tradição católica e tinha Cecília Meireles entre seus colaboradores. Dois anos depois, escreveu para O Jornal, também do Rio de Janeiro, e, em 1930, dirigiu  seção do Diário de Notícias.

Viajou para diversos lugares, sempre com o objetivo de levar cultura e debater variados temas, como podemos ver numa agenda de eventos que contaram com sua participação:

1934 – Conferências sobre Literatura Brasileira em Lisboa e Coimbra (Portugal), a convite do governo português; 

1935 a 1938 – Professora de Literatura Luso-brasileira e de Técnica e Crítica Literária na Universidade do Distrito Federal (que na época estava sediada no Rio de Janeiro);

1940 – Professora do curso de Literatura e Cultura Brasileira na Universidade do Texas, em Austin, Estados Unidos, além de participar de conferências sobre literatura, folclore e educação no México;

1953 – Congresso sobre Gandhi, em Goa, na Índia, a convite do primeiro-ministro Jawaharlal Nehru.

Características da literatura de Cecília Meireles

Cecília Meireles iniciou na literatura por meio da “corrente espiritualista” dos poetas do grupo da revista Festa, mas posteriormente afastou-se deles.

Suas obras apresentam as seguintes características principais:

  • linguagem que valoriza os símbolos;
  • imagens sugestivas com apelos sensoriais;
  • musicalidade nos versos;
  • uso tanto de versos regulares e brancos, quanto de versos livres;
  • literatura intimista, introspectiva, de frequente viagem interior;
  • obra com atmosfera de sonho, de fantasia e, ao mesmo tempo, de solidão e padecimento;
  • o tempo é personagem central: ele passa, é fugaz, fugidio;
  • a vida também é fugaz e a morte é uma presença no horizonte.

Influências e inspirações nas suas obras

Sempre muito intuitiva, sem ligar-se diretamente a um estilo ou técnica, algumas das publicações de Cecília Meireles pendiam para o Simbolismo, incluindo solidão, misticismo, religiosidade e um destemor a morte, já que antes mesmo de nascer ela esteve presente.

Porém em 1939, com o livro Viagem, embarcou no estilo modernista de poesia, com tendências a musicalidade, paralelismos e para o verso curto, como as antigas poesias portuguesas.

A influência de Cecília Meireles na educação infantil

Lecionou por alguns anos, e inaugurou em 1934 a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro e do Brasil, ao dirigir o Centro Cultural Infantil do Pavilhão Mourisco. 

Pavilhão Mourisco: local de trabalho de Cecília Meireles
Pavilhão Mourisco: local de trabalho de Cecília Meireles

No período que escreveu para o Diário de Notícias grande parte seus textos eram sobre educação, voltados em sua maioria para dar luz aos problemas educacionais que o Brasil apresentava. 

Além é claro dos debates e eventos que participava mundo afora sobre educação, literatura brasileira, teoria literária e folclore, temáticas essas que sempre apoiou e foi defensora ferrenha. 

Finalmente, em 1951, se aposentou do cargo de diretora escolar que ocupava.

Principais obras de Cecília Meireles

O trabalho literário de Cecília Meireles é vasto, contando com mais de 50 publicações. Dentre elas, destacam-se:

  • 1919 – Espectros 
  • 1923 – Criança, meu amor 
  • 1923 – Nunca mais… e Poemas dos Poemas 
  • 1924 – Criança meu amor… 
  • 1925 – Baladas para El-Rei 
  • 1929 – O Espírito Vitorioso 
  • 1930 – Saudação à menina de Portugal 
  • 1935 – Batuque, Samba e Macumba 
  • 1937 – A Festa das Letras 
  • 1939 – Viagem 
  • 1942 – Vaga Música
  • 1945 – Mar Absoluto 
  • 1945 – Rute e Alberto 
  • 1947 – O jardim 
  • 1949 – Retrato Natural 
  • 1950 – Problemas de Literatura Infantil 
  • 1952 – Amor em Leonoreta 
  • 1953 – Romanceiro da Inconfidência 
  • 1953 – Batuque 
  • 1955 – Pequeno Oratório de Santa Clara 
  • 1955 – Pistoia, Cemitério Militar Brasileiro 
  • 1955 – Panorama Folclórico de Açores 
  • 1956 – Canções 
  • 1957 – Romance de Santa Cecília 
  • 1957 – A Bíblia na Literatura Brasileira 
  • 1957 – A Rosa 
  • 1958 – Obra Poética 
  • 1960 – Metal Rosicler
  • 1961 – Poemas Escritos na Índia

Frases marcantes de Cecilia Meireles

Veja abaixo algumas das frases mais conhecidas de Cecília Meireles:

  • “Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira”.
  • “Entre mim e mim, há vastidões bastantes para a navegação de meus desejos afligidos”
  • “Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre”.
  • “Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”.
  • “Tenho fases, como a Lua; fases de ser sozinha, fases de ser só sua”.
  • “A juventude de hoje? Acho que são meninos que não têm tempo de crescer.”
  • “Cada geração acredita que traz uma nova voz e uma nova mensagem.”
  • “A arte abstrata é uma alusão.”
  • “Educação é botar, dentro do indivíduo, uma estrutura de sentimentos, um esqueleto emocional.”
  • “A vida mudou quase de repente.”
  • “Todos queremos prolongar o tempo.”
  • “Cada minuto é um mistério.”
  • “Alguém pode estar sendo feliz, até sem o saber.”
  • “A distância unifica tudo em silêncio.”

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